As histórias dos Mundiais de futebol
O ponto de partida para o Mundial-2018 foi dado no dia em que faltava um mês para começar a competição. Desde então, de segunda a sexta-feira, lançámos uma história de cada fase final por dia. Agora que o trabalho está concluído, deixamos a lista completa para recordar ou ler pela primeira vez. O passado já lá vai, o presente tem o pontapé de saída na quinta-feira. Venha ele.
De 1930 a 2014 em 21 histórias
Jules Rimet. O homem que deu o nome à taça.
Tinha um sonho e não descansou enquanto não o concretizou. Fundamental na criação do Mundial de futebol, continua a ser uma das maiores figuras na história da FIFA. Chegou a ser nomeado para o Nobel da Paz mas o júri não esqueceu a forma como ignorou as manifestações políticas na década de 30.
WC1930. O bisneto de D. Maria II que levou a Roménia ao Mundial.
Foi coroado em junho de 1930 e fez tudo o que podia para que a Roménia fosse uma das estreantes na fase final do Uruguai. Garantiu emprego aos jogadores que estariam três meses ausentes, assumiu um papel ativo na convocatória e treinou com a equipa durante a viagem de barco.
WC1934. Uma batalha campal na Itália de Mussolini.
Espanha e Itália discutiram o acesso às meias-finais do Mundial-1934 num misto de violência, polémica e… 210 minutos de jogo. Entre a lesão do lendário guarda-redes Ricardo Zamora e a perna partida de Mario Pizziolo, houve um total de onze espanhóis lesionados e uma atuação desastrosa de um árbitro que acabou por ser irradiado.
WC1938. A união forçada da Áustria com a Alemanha.
Mathias Sindelar estava na fase final da carreira mas a geração de ouro austríaca tinha garantido o apuramento para o Mundial-1938, quatro anos depois de ter atingido as meias-finais. A anexação da Alemanha impediu a participação e nove internacionais acabaram a jogar pelos nazis. A maior vedeta recusou-se… e acabou morta sete meses depois.
WC1950. Quando o Cruzeiro perdeu um jogo do Mundial-1950.
Equipa do Rio Grande do Sul entrou para a história por… ter a sua sede próxima do Estádio dos Eucaliptos, onde Suíça e México iam fazer o último jogo do grupo 1 do Mundial. As duas equipavam de vermelho e não tinham alternativa. A solução foi recorrer às listas azuis do Cruzeiro.
WC1954. Milagre de Berna. Um duelo com potências em trajetórias opostas.
A Hungria era a melhor equipa europeia, estava há cinco anos sem perder e tinha estrelas como Puskas e Kocsis. Mas a RFA tinha o orgulho em jogo e conseguiu virar uma desvantagem de dois golos para ser campeã pela primeira vez. Para uns, foi o início de um sentimento de orgulho recuperado após a guerra, para outros um passo importante rumo à revolução de 1956.
WC1958. Fontaine. Just score it!
Francês entrou na história das fases finais dos Mundiais ao marcar 13 golos em 1958. Recorde ainda não foi batido – nem parece possível no futuro. Esta é a história de um homem que nasceu em Marrocos, foi para França com vinte anos e se tornou uma das maiores figuras da então potência do Stade de Reims.
WC1962. Batalha de Santiago. A carnificina que inspirou a criação dos cartões.
Chile era o anfitrião e queria defender a sua reputação, a Itália tinha o sangue latino a correr no sangue e não estava ali para ficar a ver jogar. Perante a impotência de Ken Aston, a agressividade subiu de tom acompanhando as polémicas dos dias anteriores. O árbitro britânico acabou por ser o criador dos amarelos e vermelhos no futebol.
WC1966. Coreia do Norte. Um sonho que esbarrou em Eusébio.
Ninguém os conhecia e a organização até fez figas para que a seleção não carimbasse o apuramento. Pressão da FIFA obrigou Inglaterra a conceder vistos aos jogadores e em poucas semanas os norte-coreanos seduziram o país do futebol. Middlesbrough ficou completamente rendida e foram milhares os que viajaram até Liverpool para apoiar no jogo com Portugal.
WC1970. Bobby Moore e o desaparecimento da pulseira de Bogotá.
Inglaterra estava a estagiar na Colômbia para preparar o Mundial do México em 1970 quando uma empregada de uma joalharia acusou a estrela britânica de roubar uma pulseira. Avançado chegou a estar em prisão domiciliária mas a falta de provas e os testemunhos voláteis permitiram a reintegração na seleção em vésperas da estreia com a Roménia.
WC1974. Emmanuel Sanon. O homem que derrubou o recorde de Zoff.
Itália não sofria golos há 19 jogos e entrava na fase final do Mundial-1974 como enorme favorita frente à estreante seleção do Haiti. O triunfo não fugiu mas o jovem avançado Emmanuel Sanon entrou para a história do futebol mundial ao bater Dino Zoff aos 46 minutos.
WC1978. Áustria vs. RFA. A vitória do orgulho.
Os austríacos estavam eliminados, fora da final e da atribuição do terceiro lugar. Mas do outro lado havia uma Alemanha (RFA) e a memória de um orgulho recalcado pela Alemanha Nazi na década de 30. Germânicos eram campeões em título e sonhavam com a revalidação mas Córdoba (Argentina) assistiu a uma história diferente. A um momento memorável.
WC1982. O dia em que Schumacher atropelou Battiston.
Sevilha, meia-final do Mundial-1982. França e Alemanha (RFA) estão empatadas a um golo no início da segunda parte e Platini mete uma bola nas costas da defesa germânica que isola Battiston. Podia ser apenas um lance igual aos outros mas o que aconteceu foi uma entrada imprudente de Schumacher que deixou o francês imóvel no relvado, com dentes pelo caminho e o corpo em mau estado. Os dias que se seguiram obrigaram à intervenção do chanceler alemão e do presidente francês e a uma tentativa teatralizada de fazer as pazes.
WC1986. Quando Alex Ferguson levou a Escócia ao Mundial.
A morte de Jock Stein no final de um jogo da qualificação europeia catapultou o adjunto para um papel interino. Ferguson confirmou o apuramento no play-off com a Austrália mas a campanha no México foi pautada pela desilusão. Conferência de imprensa de despedida foi marcada por críticas duras à FIFA e aos uruguaios. Cinco meses depois chegou ao Manchester United.
WC1990. A saliva de Rijkaard no cabelo de Völler... duas vezes.
Jogos entre holandeses e alemães eram sempre quentes e os oitavos do Mundial-1990 não foram exceção. Em San Siro, com Rijkaard a jogar em «casa», o encontro ficou marcado por uma dupla expulsão na primeira parte. Völler, incrédulo, foi cuspido no cabelo; Rijkaard estava de cabeça perdida… e com expetoração extra.
WC1994. Oleg Salenko. A chave de ouro de uma carreira sem metais preciosos.
Jogo contava para muito pouco mas foi histórico: um russo marcou cinco golos num só jogo, batendo um recorde em fases finais, e um camaronês bateu outro, ao marcar com 42 anos. O 6-1 da Rússia aos Camarões pode não ter sido mais do que uma nota de rodapé no Mundial-1994 mas tornou-se o momento definidor na carreira de Salenko. Para mal dos seus pecados.
WC1998. Irão. O batismo das vitórias contra o maior rival político.
A FIFA temia as implicações que o jogo de 21 de junho de 1998 em Lyon pudesse ter mas o balanço foi tão positivo que as duas seleções até decidiram fazer um encontro particular nos Estados Unidos um ano e meio depois. O triunfo do Irão, o primeiro em fases finais, não podia ter sido mais emblemático.
WC2002. Jung-hwan Ahn. Um golo que lhe valeu o desemprego em Itália.
Coreia do Sul garantiu o apuramento para os quartos de final do Mundial-2002 no prolongamento do jogo com a Itália. Jung-hwan Ahn marcou o golo do triunfo aos 118 minutos e tornou-se herói nacional mas do outro lado do mundo, o presidente do Perugia, equipa à qual estava emprestado, não achou muita piada.
WC2006. Josip Simunic. Não há dois sem três... amarelos no mesmo jogo.
Defesa croata não conseguiu chegar ao fim do jogo com a Austrália, na fase de grupos, mas não foi por falta de tentativas de Graham Poll. O árbitro inglês mostrou o segundo cartão amarelo ao jogador aos 90 minutos mas, para surpresa de todos, não o expulsou. Três minutos depois, novo amarelo e, aí sim, o vermelho. A culpa? O croata tinha sotaque australiano.
WC2010. A mão marota que salvou o Uruguai.
Tempos desesperados exigem medidas desesperadas. O Gana ia garantir o apuramento para as meias-finais nos descontos do prolongamento mas Luis Suárez teve outra ideia. Com Muslera batido, o avançado do Ajax defendeu com as mãos, foi expulso por… Olegário Benquerença e viu Gyan falhar o castigo máximo. A recompensa chegou no desempate por penáltis.
WC2014. A substituição que surpreendeu o mundo.
Jasper Cillessen jogou 121 minutos do jogo com a Costa Rica até dar lugar a Tim Krul. Van Gaal apostou no guarda-redes do Newcastle para o desempate nos penáltis e a aposta valeu a pena. Holandês defendeu os remates de Bryan Ruiz e Michael Umana e garantiu o apuramento da Laranja para as meias-finais.