Arnold Palmer. O adeus do Rei
Foi uma das primeiras grandes figuras do golfe e conquistou sete majors durante uma carreira em que dividiu louros com Gary Player e Jack Nicklaus. Tinha duas grandes paixões na vida: jogar golfe e pilotar aviões. Morreu ontem aos 87 anos.
O sinal do fim
«A Winnie [primeira mulher de Arnold] disse-me uma vez: ‘Quando o Arnold deixar de voar o seu avião e deixar de ter a capacidade de dar uma tacada, não ficará connosco por muito tempo'», conta James Dodson, o biógrafo do antigo golfista.
Arnold Palmer era assim. Uma pessoa dedicada às suas paixões. A do golfe, onde se fizera homem e famoso por todo o mundo, e a dos aviões, com direito a ter um pequeno aeroporto batizado com o seu nome (Latrobe, Pensilvânia).
Vencedor de sete majors durante a carreira, com destaque para os quatro Masters em anos intercalados (1958, 1960, 1962 e 1964), Palmer morreu aos 87 anos em Pittsburgh, na Pensilvânia, enquanto aguardava por uma operação ao coração.
Início da lenda
O golfe sempre fez parte da sua vida. O pai, Milfred, era responsável por cuidar do percurso do Latrobe Country Club, na Pensilvânia, e fazia questão de levar o pequeno Arnold consigo.
Ao crescer naquele ambiente, não resistiu à tentação e apaixonou-se. Com uma bolsa universitária em Wake Forest, interrompeu os estudos para se alistar na Guarda Costeira dos Estados Unidos. Quando voltou à universidade, três anos depois, o talento do golfe não o tinha abandonado, como se comprova pela vitória no campeonato norte-americano amador de 1954.
Tinha 24 anos e trabalhava a vender tinta em Cleveland. Tinha deixado a Guarda Costeira há sete meses e decidiu entrar no torneio. E venceu. «Aquela vitória foi o ponto de viragem na minha vida. Deu-me a confiança necessária para acreditar que podia competir ao mais alto nível», explicou.
Nas tintas para a tinta
O triunfo fez com que Arnold Palmer esquecesse a profissão que tinha. A paixão pelo golfe estava viva e, como se prova pelo resultado, recomendava-se. Torneio após torneio, percebia que aquela seria a sua carreira e a 17 de novembro de 1954 anunciou que seria profissional.
Como estava o golfe em 1954? Bom, claramente não havia ainda Tiger Woods. Nem nenhum dos grandes nomes da segunda metade do século XX. O sul-africano Gary Player só venceria o primeiro major (The Open) em 1959 e Jack Nicklaus estreou-se em triunfos no US Open em 1962.
O trio alimentou o interesse pelo golfe de forma inaudita e os resultados acompanhavam: juntos, conquistaram 34 majors (além dos sete de Palmer, nove para Player e 18 para Nicklaus).
Cada tacada era um poema
Arnold Palmer estava apaixonado pelo golfe. «O que outros encontram na poesia, eu descubro no voo que uma bola faz no ar durante a pancada inicial», garantia.
Não era segredo para ninguém que o norte-americano gostava de voos. Fossem da bola ou de aviões. No entanto, a paixão pelos segundos apenas surgiu devido ao medo que tinha voar. Foi esse receio que o fez tirar o brevet e somar milhares de horas de voo até 2011, com 82 anos.
Para a imprensa da época, Arnold Palmer era uma figura ímpar da modalidade. A frase é do colunista do LA Times, Jim Murray: «Palmer num campo de golfe estava como o Jack Dempsey com o rival encostado às cordas, como o Hank Aaron com uma bola rápida no basebol, como o Rod Laver com um set point, o Joe Montana com apenas um minuto para jogar ou o AJ Foyt com uma volta para o fim e um carro para apanhar.»
Era assim. Decisivo. Letal. Quando mais importava, parecia encontrar a pancada que mais precisava, como quando aos três anos, nas mãos do pai, ouviu as primeiras palavras de motivação, qual Ronaldo a falar com Moutinho: «Vamos, bate com força! Depois vai à procura dela e volta a bater com força!»
Feitos e glórias
Foi o primeiro golfista a ganhar mais de cem mil dólares numa temporada. Venceu a Ryder Cup como capitão em duas ocasiões. Inspirou gerações de jogadores, deu nome a uma das provas mais importantes do circuito PGA (Arnold Palmer Invitational) e até batizou uma bebida: porções iguais de limonada e de chá gelado de limão.
Em 1974, entrou para o Hall of Fame do golfe mas continuou a jogar, aparecendo aqui e ali em algumas provas. A última prova em que participou, no circuito sénior, foi em 2006, já com 77 anos.
A nível nacional, foi distinguido com os dois reconhecimentos mais importantes que podem ser feitos a um civil: a medalha dourada do Congresso e a medalha presidencial de liberdade.
Traído pela saúde
Com a simples alcunha de King, Arnold Palmer enfraqueceu. Foi substituído por príncipes. Desde 2015, os problemas de saúde intensificaram-se e as aparições públicas mostravam um corpo cada vez mais fraco, usado pela vida e atraído pela morte.
Nos últimos dias, estava internado num hospital de Pittsburgh à espera de uma operação ao coração que nunca chegou.
RPS