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É Desporto

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28 de Julho, 2021

Annemiek Van Vleuten. A redenção da celebração precoce

Rui Pedro Silva

Annemiek Van Vleuten

Não foi preciso acompanhar os Jogos Olímpicos, gostar de desporto ou seguir a prova de estrada feminina de ciclismo para cruzar os olhos com o que se passou. A rábula não é inédita na modalidade mas talvez nunca tenha acontecido num palco tão grande como uma final olímpica: Annemiek Van Vleuten cruzou a meta sem saber que já havia uma campeã olímpica e festejou como se tivesse vencido o ouro quando na verdade não foi além da prata.

Entre esse dia e do contrarrelógio individual, Van Vleuten teve de superar tudo o que se dizia e escrevia sobre ela e, acima de tudo, teve de se mentalizar que o passado é imutável e que só se podia preocupar em tentar mudar o futuro. Que é como quem diz: ser finalmente campeã olímpica.

Annemiek Van Vleuten tem 38 anos. Estreou-se nos Jogos Olímpicos em 2012 com um 14.º lugar na prova de estrada e quatro anos depois, no Rio de Janeiro, não chegou a terminar. Em Mundiais, o currículo é muito mais rico: campeã de estrada em 2019 e de contrarrelógio individual em 2018 e 2017.

O palmarés é invejável mas a neerlandesa tinha uma grande falha: o palco olímpico. Se não tivesse feito a diferença na prova contra o tempo, teria sido recordada como uma das anedotas desta edição. Assim, será mais uma história de redenção. De quem festejou antes do tempo mas que acabou por ter mesmo motivos para celebrar.

A ciclista percorreu os 22,1 quilómetros com um tempo pouco superior a 30 minutos e 13 segundos e teve de esperar enquanto as principais rivais chegavam para confirmar a medalha de ouro. Uma a uma, cruzavam a meta com pior tempo. E, progressivamente, a expressão de Van Vleuten ia ficando cada vez mais iluminada, apesar da cautela. Annemiek tinha aprendido com a lição e não queria festejar demasiado cedo.

A vitória desta vez foi mesmo inevitável. A medalha de prata, a suíça Marlen Reusser, ficou a mais de 56 segundos e Anna Van der Bregger, a neerlandesa que foi a última a cruzar a meta, perdeu mais de um minuto. Por esta altura já Van Vleuten festejava sem o peso em cima dos ombros.

Sim, ninguém esquecerá a forma como festejou prematuramente uns dias antes mas para a história ficará a estatística: uma medalha de prata e uma medalha de ouro em duas corridas. Aos 38 anos. Depois de uma carreira que começou em 2005 após uma lesão enquanto jogava futebol, Van Vleuten encontrou algo que a realizava. E se toda a gente aprendeu que às vezes é cedo demais para festejar, nunca é demasiado tarde para ganhar.

Van Vleuten desligou-se das redes sociais nos dias entre as duas provas e concentrou-se nos pontos positivos: «Percebi na prova de estrada que estava numa grande forma. Enquanto toda a gente estava a falar de tudo o resto, ninguém pareceu aperceber-se disso. Conseguiu ignorar toda a energia negativa e alcancei este bónus: é muito, muito especial ser campeã olímpica».