Anna Kiesenhofer. A vitória do cálculo avançado
A medalha de ouro na prova feminina de estrada do ciclismo foi para a austríaca Anna Kiesenhofer mas esta história começa a contar-se pela medalha de prata, ganha pela neerlandesa Annemiek Van Vleuten.
A corrida marcava exatamente três horas e 54 minutos quando a atleta dos Países Baixos cruzou a meta. Estava em êxtase depois de uma prova tão dura e festejou como se tivesse vencido. Ou pelo menos assim achou toda a gente no início. Van Vleuten pensou mesmo que tinha acabado de cruzar a meta na primeira posição.
O problema foi uma falha de cálculo. Ninguém sabia que Anna Kiesenhofer continuava sozinha na frente. «Pensei que estava em primeiro, mas estava errada», lamentou Van Vleuten. A sua compatriota, Anna van der Breggen, corroborou o erro: «Não sabia que ainda estava alguém na frente. Não acho que a tenhamos desvalorizado. Não a conheço. Quão errada podes estar se na verdade não conheces alguém?», questionou.
Anna Kiesenhofer terminou 75 segundos antes de Van Vleuten e não teve quaisquer problemas com as contas necessárias para terminar na primeira posição e conquistar a medalha de ouro. Até porque tinha exigência profissional para isso: Kiesenhofer trabalha na Universidade de Tecnologia de Viena nas áreas da Física e da… Matemática.
O seu percurso é uma autêntica lição de formação na área. Tem um mestrado em Matemática na universidade de Cambridge, um pós-doutoramento em Matemáticas Aplicadas em Barcelona e ainda trabalhou como investigadora na área em Lausanne, na Suíça. Por outras palavras, era impossível cometer erros de cálculo em Tóquio.
A ciclista austríaca é uma verdadeira desconhecida. Tem 30 anos, só começou na modalidade em 2014, com 23 anos, e tornou-se profissional em 2017. Porém, a paixão pelo desporto esteve sempre lá: «Desde criança que adoro desporto. Quando era adolescente corria por gosto até que um amigo sugeriu que começasse a competir. A partir de 2011 fiz um pouco de tudo: atletismo, triatlos, duatlos até que uma lesão em 2014 me forçou a deixar a corrida durante muito tempo. Foi aí que descobri a minha paixão pelo ciclismo», contou em 2016.
Cinco anos depois, a paixão deu frutos – uma medalha de ouro sem caroço. As atletas não a conheciam até agora mas provavelmente nunca mais a vão esquecer. Tal como Kiesenhofer nunca esquecerá a sensação de vencer um título olímpico sem que alguém percebesse.