Ann Packer. Sorte de principiante deu recorde mundial
Especial Jogos Olímpicos (Tóquio-1964)
Chegar, ver e… fazer história. A britânica Ann Packer não tinha grande experiência nos 800 metros mas chegou a Tóquio, aventurou-se e... saiu do Japão com um novo recorde mundial. O atletismo feminino estava a dar os primeiros passos nas distâncias mais longas mas o feito continua a estar numa dimensão inacreditável.
O nome Lina Radke diz-lhe alguma coisa? A atleta alemã conquistou a medalha de ouro na prova dos 800 metros nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amesterdão, na edição em que o Comité Olímpico Internacional começou a abrir finalmente as provas de atletismo às mulheres, mas o resultado foi desastroso.
A maior parte das atletas nunca tinha corrido a distância na vida e acabou num estado de exaustão tal que validou as reticências que a sociedade desportiva machista tinha sobre esta inovação. Havia portas que não se podiam voltar a fechar, mas a competição dos 800 metros femininos nuns Jogos Olímpicos só voltou a acontecer em 1960.
Quatro anos depois, em Tóquio-1964, vivia-se ainda uma fase muito prematura desta distância na variante feminina mas, ao contrário de grande parte das atletas de 1928, Ann Packer não se deixou vencer pelo esforço.
Nascida a 8 de março de 1942, em plena II Guerra Mundial, Packer mostrou, ao longo dos anos, valências em provas de velocidade, barreiras e saltos. Os 800 metros nunca estiveram na sua mira mas em 1964, em plenos Jogos Olímpicos, decidiu arriscar. O grande culpado? A desilusão da medalha de prata nos 400 metros.
Ann Packer chegou a pensar em abdicar de correr os 800 metros mas, impulsionada pelo seu noivo, voltou atrás e entrou na competição. Para Packer, correr esta distância nunca tinha sido uma prioridade. Nas provas em que tinha entrado na Grã-Bretanha, o objetivo tinha sido sempre ganhar resistência para se sentir mais à vontade nos 400 metros. Era uma iniciativa nobre e, ao mesmo tempo ingénua: «Não sabia nada sobre esta distância, mas este desconhecimento foi, provavelmente, uma vantagem. Não tinha limitações na cabeça sobre o que podia ou não fazer. A ignorância foi uma virtude».
A corrida de Ann Packer foi de trás para a frente mas incluiu um ataque letal a 150 metros da meta. A velocidade que conseguiu manter nos últimos metros valeu-lhe um tempo de 2:01.1 e significou um novo recorde mundial, com uma décima de vantagem sobre a marca registada pela australiana Dixie Willis, dois anos antes.