Alina Zagitova. Ter o mundo a seus pés na adolescência
A patinagem artística favorece o aparecimento de talentos muito jovens. É a ginástica dos desportos de inverno e onde nos colchões surgem nomes como Nadia Comaneci, Olga Korbut e Simone Biles, no gelo há figuras como Alina Zagitova.
Alina só se tornou Alina depois do primeiro ano de vida. Os pais ficaram indecisos durante demasiado tempo e só atribuíram um nome à filha mais velha quando decidiram homenagear Alina Kabaeva, após a verem em ação numa prova de ginástica rítmica.
Se Zagitova demorou a ter um nome próprio, não precisou de muito tempo para ter uma entrada triunfal no mundo do desporto. Começou a patinar com sete anos, tentando perseguir o sonho que a mãe nunca conseguiu concretizar, e até aos dez não alcançara melhor do que um terceiro lugar. A partir daí, tudo mudou: começou a ter Eteri Georgievna como treinadora.
O primeiro grande momento surgiu em dezembro de 2016, na final júnior do Grande Prémio de Patinagem Artística, disputada em Marselha. Alina tinha 14 anos, era naturalmente menor de idade, e ia viajar para França com a avó. Mas, ao chegar ao aeroporto, aperceberam-se de um erro que poderia ter sido fatal.
«Houve um incidente. Eu e a minha avó tínhamo-nos esquecido da declaração dos meus pais a autorizarem a minha saída do país. Tentaram persuadir os agentes no aeroporto mas eu era menor e tudo se tornou mais sério. A minha avó voltou para casa mas não conseguia regressar a tempo do voo. Pensei que iria viajar mais tarde nesse dia sozinha, sem os treinadores, mas a Eteri Tutberidze disse que Paris tinha um grande aeroporto e que era arriscado», recordou. O contratempo foi resolvido, Alina viajou mesmo nesse dia e saiu de Marselha com a medalha de ouro.
O progresso de Alina foi imparável. Hoje, com 18 anos, tem um currículo invejável e detém simultaneamente o título europeu, o título olímpico e o título mundial. Derrota é uma palavra muito invulgar na sua vida mas está destinada a perder a última distinção, na competição que decorre em Estocolmo até ao final da semana.
E vai perder porque… decidiu suspender a carreira no final de 2019. Tinha 17 anos, não havia nada para alcançar, precisava de descanso e queria… apostar na sua formação profissional, com o curso de jornalismo em mente.
No início não esperava ficar tanto tempo parada. Mas depois veio a pandemia, os cancelamentos das grandes provas e… a resignação. Em 2019, após a conquista do Mundial, sentia-se física e emocionalmente exausta depois de dois anos de atividade intensa em que ganhou tudo o que havia para ganhar.
«Tenho pensado no regresso muitas vezes esta época», disse recentemente, mas o clique ainda não surgiu. «Há fatores que estão a impedir-me e regressar. Por outro lado, há outras coisas que me inspiram a voltar. Vamos ver o que acontece», confessou.