Alexander Bolshunov. O russo que nem quer ouvir falar em doping
A prova foi dominadora. O esquiatlo masculino (15 quilómetros em estilo clássico mais 15 quilómetros em estilo livre) viu um finlandês partir na frente logo no início e Alexander Bolshunov decidiu não lhe dar uma nesga de oportunidade para se isolar.
Como um bom predador, foi perseguindo a presa, encosta acima, encosta abaixo, à espera da oportunidade perfeita para atacar e deixar um mundo inteiro para trás. A transição para o estilo livre foi o momento certo. Iivo Niskanen, o tal finlandês, pode ser um especialista no estilo clássico, mas começou a mostrar muitas dificuldades logo nos primeiros quilómetros do segundo segmento. Aí, não houve quem se conseguisse aproximar de Bolshunov.
O homem que somou três pratas e um bronze na edição de PyeongChang há quatro anos não hesitou e partiu confiante para uma medalha de ouro, não imaginando que seria forçado a falar de doping no momento da consagração.
«Estão a insinuar que pode ter havido doping. Doping não tem nada a ver com desporto. Temos atletas limpos, atletas limpos que estão nos Jogos Olímpicos e que fazem testes praticamente todos os dias», relembrou Bolshunov, depois de terminar com um minuto e onze segundos de vantagem sobre o segundo classificado (o também russo Denis Spitsov).
Ser dominador tem os seus lados negativos. Ser russo não ajuda. Por isso, Bolshunov estava duplamente incomodado com as perguntas dos jornalistas depois de uma prova perfeita. «Temos de preencher formulários para informar onde estamos a treinar, a que horas, indicamos intervalos para sermos testados, quando vamos viajar, se vamos de avião ou de comboio de um lado para o outro, tudo…», acrescentou.
A sombra do doping paira sobre os atletas russos e em Pequim-2022, uma vez mais, a comitiva russa foi forçada a competir sob a égide do Comité Olímpico Russo e não da Rússia por si. O tema poderia ser suficiente para afastar alguma especulação mas o primeiro título olímpico de um atleta russo em Pequim trouxe novamente o tema à baila.
«Não é correto estarem a fazer perguntas deste género. Estes resultados não se alcançam de um dia para o outro, não acordamos um dia e somos campeões olímpicos, é algo que demora anos e exige muito treino», continuou.
Alexander Bolshunov pode ou não ter a verdade do seu lado, não é isso que está em causa, mas há quatro anos, apesar de tudo, a dupla de pares mistos no curling foi forçada a devolver a medalha de bronze depois de o elemento masculino ter acusado doping.
O russo do cross country não está para comparações e insiste no seu trabalho árduo. «Deviam vir ver as minhas sessões de treino. Acreditem em mim, são muito difíceis. Depois de me verem treinar, acredito que vocês e a vossa audiência não voltarão a fazer perguntas sobre este tema», garantiu.