Alessandro Zanardi. Da Fórmula 1 para os Paralímpicos
Competiu ao lado de estrelas como Ayrton Senna, Michael Schumacher, Nelson Piquet e Alain Prost mas nunca foi além de um sexto lugar, no Grande Prémio do Brasil em 1993. A 15 de setembro de 2001, num acidente numa prova de CART, só sobreviveu por milagre e ficou sem as duas pernas. Chega ao Rio de Janeiro com três medalhas no paraciclismo e com a ambição redobrada.
Uma vida a duas velocidades
A paixão pelas corridas começou quando tinha 13 anos. Alessandro Zanardi, italiano, estreou-se em corridas de karts em 1980 e desde aí nunca mais parou. O talento fê-lo passar etapa após etapa até chegar à Fórmula 1 em 1991.
A estreia no Grande Circo foi promovida pela Jordan, no Grande Prémio de Espanha, a antepenúltima corrida da temporada. O nono lugar foi um excelente começo, especialmente tendo em conta a concorrência: Nigel Mansell, Alain Prost, Riccardo Patrese, Jean Alesi, Ayrton Senna, Michael Schumacher, Maurício Gugelmin e JJ Lehto ficaram nos oito primeiros lugares.
Os bons sinais dados não foram continuados. Em 41 corridas entre 1991 e 1999, só conseguiu pontuar uma vez, em 1993, no Brasil, ao serviço da Lotus. Depois, um acidente fê-lo falhar o final da época e só regressou na temporada seguinte após um despiste em que… Pedro Lamy saiu lesionado.
A despedida da Fórmula 1 aconteceu em 1999, no Japão, ao serviço da Williams e, mais uma vez, sem grande sucesso, apesar de, pela única vez, ter feito a época completa.
O capítulo seguinte foi nas corridas de CART, onde já tinha sido campeão em 1997 e 1998 durante uma pausa na carreira de Fórmula 1. Em Lausitz (Alemanha), a 15 de setembro de 2001, na 15.ª prova da época, quando liderava, Zanardi foi abalroado pelo carro de Alex Tagliani.
Milagre da sobrevivência
O italiano só se lembra de ter acordado no hospital. «Não conseguia levantar a cabeça. Tinha o corpo cheio de tubos e fios elétricos. Tinha mais telemetria do que um carro de Fórmula 1», começa por recordar, explicando depois que foi nessa altura que a mulher Daniela lhe revelou que tinha perdido as duas pernas.
Os médicos garantem que o piloto só sobreviveu devido aos rápidos cuidados. O coração parou sete vezes. «Não devia ter sobrevivido. Basicamente, consegui resistir durante 50 minutos com menos de um litro de sangue. A ciência diz que isso é impossível», disse Zanardi.
O choque podia ter sido pior. «Antes do acidente, perguntava-me o que faria se algo me acontecesse. A resposta que dava sempre era que me matava. Mas quando aconteceu comigo, nem me passou pela cabeça. Estava feliz por estar vivo, sabia que o pior já tinha passado», disse.
Apesar de tudo, Zanardi considera-se um homem «sortudo». «Mesmo depois do acidente, sempre pude decidir o que fazer da minha vida», acrescenta.
Não desistir das corridas
O piloto italiano quis garantir que continuava em provas de velocidade e dedicou-se a desenhar próteses para encontrar a melhor solução possível. E fê-lo com sucesso, uma vez que em 2003 já corria novamente, com um carro modificado de forma a poder acelerar e travar a partir das mãos, no Campeonato Europeu de Carros de Turismo.
Em 2006, por um dia, voltou a ser piloto de Fórmula 1, numa sessão de testes da BMW Sauber. «É claro que sei que não voltarei a ter um contrato, mas ter a oportunidade de voltar a conduzir um monolugar é simplesmente incrível», disse.
Transição para o paraciclismo
O Campeonato Italiano de Superturismo em 2006 foi a última temporada de Alessandro Zanardi no desporto automóvel. No ano seguinte, depois de quatro semanas a treinar, estreou-se pela primeira vez no paraciclismo, terminando a maratona de Nova Iorque na quarta posição.
A partir daí, não mais abrandou e em Londres-2012, na estreia em Paralímpicos, conquistou duas medalhas de ouro (contrarrelógio e corrida de estrada) e uma de prata (estafeta).
«Estou muito, muito feliz pelo resultado mas também sabia que este momento iria trazer um pouco de tristeza. Agora vou ter de procurar uma coisa diferente, caso contrário a vida será um pouco aborrecida. Faz parte de um dos melhores momentos que tive a sorte de viver», explicou.
A solução foi continuar a treinar e competir no paraciclismo. No Rio de Janeiro, quatro anos depois, está na luta para vencer novamente três medalhas. Nos últimos meses, dedicou-se a afinar a aerodinâmica e os ângulos na cadeira de rodas.
«A prova será na orla do Rio, por isso não teremos muitas subidas e descidas, o que torna a aerodinâmica muito importante. Principalmente na prova de estrada acho que tudo será decidido nos últimos metros», anteviu.
RPS