Alemanha. O Sunshine Training Group domina o luge
Vamos fazer um jogo rápido. Para cada país referido, vamos pensar imediatamente numa modalidade olímpica associada para perceber de que forma é que construímos o nosso raciocínio.
Quénia, Jamaica, Kosovo, Itália, Países Baixos, Austrália e Hungria.
Este exercício não tem respostas erradas mas é muito provável que as respostas tenham sido atletismo, atletismo, judo, esgrima, patinagem de velocidade, natação e polo aquático. É algo muito natural. Os nichos desportivos surgem com naturalidade com o passar das décadas e há hegemonias difíceis de quebrar.
Se há outros países com capacidade para brilhar de forma transversal às modalidades, tanto de verão como de inverno, faz todo o sentido que surjam estes monopólios localizados. A Alemanha é um país com uma grande implementação mas, ao mesmo tempo, detém um dos maiores domínios da história olímpica.
Falamos de luge, claro está. A primeira modalidade a despedir-se de Pequim teve quatro provas que foram ganhas por atletas alemães. Johannes Ludwig venceu a competição masculina, Natalie Geisenberger a feminina, Tobias Wendl e Tobias Arlt ganharam nas duplas e os quatro em conjunto conquistaram a estafeta por equipas.
Mas não ficou por aqui. Anna Berreiter foi prata na prova feminina e a dupla composta por Toni Eggert e Sascha Benecken terminou na segunda posição atrás dos dois Tobias. Feitas as contas, foram atribuídas 12 medalhas e a Alemanha conquistou metade: quatro ouros e duas pratas.
É certo que poderia ter sido apenas uma grande exibição pontual mas a estatística demonstra precisamente o contrário. Foi apenas mais do mesmo. O luge é uma modalidade olímpica desde 1964 e já atribuiu um total de 52 títulos.
Destes, 22 foram para a Alemanha, 13 para a República Democrática da Alemanha, dois para a Equipa Unificada da Alemanha e um para a República Federal da Alemanha. Fazendo as contas, são 38 de 52, ou seja, 73% de todos os títulos.
Se quisermos ir mais longe, a Alemanha tem mais títulos olímpicos no luge do que qualquer outro país tem medalhas acumuladas, com os outros lugares do pódio a serem ocupados por Itália (18) e Áustria (25).
Se a história demonstra que o tempo tende a derrubar hegemonias à medida que as condições se globalizam e há cada vez mais países a dedicarem-se a determinada modalidade, o luge continua a ser um nicho inviolável para os atletas alemães. E a geração atual é verdadeiramente letal.
A dupla de Tobias tem um total de seis medalhas de ouro (três em duplas, três em estafetas). Natalie Geisenberger esteve no mesmo número de estafetas e também tem três outros individuais. Só Johannes Ludwig surge aqui como um corpo mais estranho, uma vez que conquistou em Pequim o primeiro ouro individual da sua carreira olímpica.
Ludwig é também o único dos quatro que não faz parte de um célebre grupo de treino, conhecido por Sunshine Training Group. Liderado por Norbert Loch, o pai de outro supercampeã, Felix Loch, têm sessões mais competitivas do que os próprios Jogos Olímpicos.
Felix Loch, Tobias Wendl, Tobias Arlt e Natalie Geisenberger cresceram juntos e motivaram-se mutuamente a eternizar a glória alemã do luge. E os resultados continuam a aparecer. «Talvez seja da cerveja da Baviera. Faz parte do nosso espírito», brincou Tobias Arlt.
Se quisermos ir mais longe, o Sunshine Training Group vale mais do que qualquer outro país na história do luge. Com os três títulos individuais de Natalie Geisenberger, os três de duplas de Tobias Wendl e Tobias Arlt e os dois individuais de Felix Loch, o pequeno grupo de quatro pessoas tem oito medalhas de ouro para fazer inveja (e aqui ignorando as três medalhas de ouro que parte ou todos eles conquistaram em estafetas por equipas).
Ora, a tabela olímpica não deixa mentir mais uma vez. A seguir à Alemanha e às suas demais variantes, o país com mais títulos olímpicos no luge é a Itália com sete. Nem vai a jogo. É especial, sim, é um espírito único, mas não pode ser (só) da cerveja.