Ahmed Hafnaoui. A surpresa que veio da Tunísia
Pergunta rápida: se tivessem de apostar, qual seria a modalidade em que diriam que a Tunísia tem mais medalhas de ouro em Jogos Olímpicos? O atletismo talvez seja uma resposta segura, mas não é a correta. A partir de 25 de julho de 2021, a resposta certa é a natação. Por culpa de Ahmed Hafnaoui e da sua vitória na prova dos 400 metros livres.
Vamos começar pelo contexto. A Tunísia tem 15 medalhas olímpicas mas apenas cinco são de ouro. Mohammed Gammoudi venceu os 5000 metros masculinos na Cidade do México-1968, Habiba Ghribi venceu os 3000 metros obstáculos femininos em 2012 e depois... depois é tudo natação.
Começou em 2012 com os dois títulos de Oussama Mellouli (1500 metros livres e 10 km águas abertas) e prolongou-se com a vitória surpreendente de um adolescente com 18 anos nas águas de Tóquio.
Quem é, afinal, Ahmed Hafnaoui? Correndo o risco de ser um exagero – é mesmo –, é possível que nem o próprio consiga responder a isso. Ninguém previa que pudesse acontecer o que aconteceu no primeiro dia de finais da natação, sobretudo tendo em conta a forma como tinha sofrido na eliminatória de qualificação.
À entrada para os últimos 50 metros, Hafnaoui estava na sexta posição e a ver o apuramento por um canudo, mas conseguiu levar a cabo um esforço final, subiu para o quarto lugar e garantiu o oitavo melhor tempo por apenas 14 centésimos. Dito de outra forma: entrou na final com o pior registo da qualificação.
Na manhã seguinte, na corrida decisiva, parecia que íamos ter mais do mesmo. Saiu da pista oito, teve a segunda pior reação à partida de todos os finalistas e voltou a fazer uma prova de trás para a frente. Era quarto aos 50 metros, terceiro aos 100 metros, e foi virando sempre em segundo até aos 50 metros finais. Aí, fez novamente um último esforço final, ultrapassou o australiano Jack McLoughlin e terminou com 16 centésimos de vantagem para vencer a primeira grande prova da carreira.
Essa é capaz de ser a maior surpresa deste triunfo. Este não é apenas o primeiro título olímpico de Hafnaoui. Até agora, o tunisino não tinha feito melhor do que um quarto lugar nos Mundiais Juniores nos 800 metros livres. Só mesmo em África tinha conseguido pódios, nos campeonatos continentais: em 2018, na Argélia, somou uma prata e três bronzes.
Mas ouro, vitória mesmo, só agora em Tóquio. O discípulo de Oussama Mellouli surgiu praticamente do nada e venceu a segunda medalha de África e da Tunísia nesta edição. E a primeira medalha de ouro. No final, Hafnaoui explicou a razão para o sucesso: disse que se sentiu muito melhor na piscina de manhã do que no dia anterior à noite.
É caso para dizer que para ele, de manhã, só se está bem é na aguinha.