Adam Jones. Do racismo a uma ovação em 24 horas
Insultos racistas em Boston fizeram com que o jogador dos Baltimore Orioles voltasse a falar sobre o comportamento dos adeptos. Um dia depois, novamente no Fenway Park, teve direito a uma ovação de pé antes da primeira aparição em campo.
Uma posição definida
Quinta-feira, 6 de outubro de 2016. Os Baltimore Orioles jogam em Toronto pela última vaga nos playoffs da Major League Baseball e o sul-coreano Hyun Soo Kim é vítima da estupidez de um adepto da equipa canadiana, que atira uma lata de cerveja à cabeça do jogador, falhando por pouco.
Não é a primeira vez que os adeptos dos Blue Jays têm atitudes deste género e a organização é rápida a emitir um pedido de desculpa e a condenar a situação. Após o jogo, Adam Jones, colega de equipa de Kim, demonstra o desagrado com a situação.
«Alguém atirou uma cerveja a um dos nossos jogadores. É capaz de ser das coisas mais patéticas que podem acontecer. Não se faz isso. Não me importa o nível de paixão de cada um. Gritem, insultem, berrem, digam-nos que somos horríveis. Isso percebemos, somos os adversários. Compreendemos perfeitamente. Mas atirar algo a um jogador roça o cúmulo da patetice», disse.
A cerveja não foi o único problema. No meio da confusão, os dois jogadores foram alvo de insultos racistas. «Já ouvi tanto disso a jogar basebol, nem me importo. Chamem o que quiserem. Ouvimos tudo. Estamos aqui para jogar basebol, nada mais. Mas pôr-nos em perigo não faz parte do jogo. Não faz parte de nenhum jogo», continuou Adam Jones.
Vítimas fáceis
Tanto Adam Jones como Hyun Soo Kim são outfielders, jogadores que alinham nas posições mais distantes das bases e, praticamente em todos os estádios, próximas das bancadas em que os bilhetes são mais baratos e onde há, quase que naturalmente, mais confusão.
Em Boston, na terça-feira, Adam Jones voltou a ser vítima dos adeptos e não se calou. Os Baltimore Orioles estavam a dominar os Boston Red Sox e os adeptos estavam frustrados. Com uma capacidade atlética de fazer inveja a muita gente, Jones acumulou jogadas impressionantes que eliminaram batedores adversários.
A certa altura, entre insultos racistas, um adepto atirou-lhe um saco de amendoins. «Estou apenas a jogar basebol. É triste que as pessoas sintam que precisam de recorrer a isto para humilhar outro ser humano. Estou a tentar ganhar a vida para mim e para a minha família», explicou.
Reações em cadeia
Os dados oficiais apontam para a expulsão de 34 adeptos durante o jogo mas a queixa de Adam Jones deixou mais marcas. Por toda a liga, jogadores deram voz às críticas, recordaram que não é a primeira vez que acontece no Fenway Park e que Boston não é a única cidade em que os insultos racistas ainda resistem.
A fama da cidade de Boston também é muito negativa. Os Boston Celtics podem ter sido a primeira equipa da NBA a fazer alinhar um cinco inicial totalmente afro-americano mas Bill Russell, por exemplo, nunca calou o desagrado com o racismo instalado na cidade. No basebol, o racismo foi um problema com proporções históricas nas decisões da gestão dos Red Sox no passado, sobretudo durante a era de Tom Yawkey.
A organização também foi rápida a reagir: «Os Red Sox querem pedir desculpa publicamente ao Adam Jones e à inteira organização dos Orioles pelo que aconteceu no Fenway Park. Nenhum jogador deve ser alvo de um objeto em campo nem estar sujeito a qualquer tipo de racismo. Os Red Sox têm uma política de tolerância zero para este tipo de comportamento indesculpável e a organização inteira e os nossos adeptos estão enojados pela conduta de alguns ignorantes».
A situação não é isolada e Adam Jones não quer que as sanções passem apenas pela expulsão dos adeptos dos estádios. «São cobardes. O que precisam de fazer, em vez de os expulsar, é multá-los em 10 mil, 20 mil, 30 mil dólares. Algo que realmente faz mossa. Fazê-los pagar na totalidade. E se não pagarem, que se desconte dos ordenados. É assim que se deve fazer».
Regresso com ovação
Menos de 24 horas após os incidentes, Boston Red Sox e Baltimore Orioles voltaram a entrar em campo no Fenway Park para mais um jogo. Adam Jones foi o terceiro jogador da equipa do Maryland a ir bater e o público recebeu-o com uma ovação de pé.
Chris Sale, o lançador dos Red Sox, fez uma pausa mais prolongada antes do primeiro lançamento para não interferir com o momento: «Quis que pudesse sentir o respeito que lhe é devido e que merece. Temos excelentes adeptos aqui, não quero que um grupo de idiotas estraguem isso. Acho que o Fenway Park se juntou em uníssono e fizeram a coisa certa. O Adam é um dos melhores jogadores da liga, é uma boa pessoa. Acho que ninguém merece passar pelo que ele passou».
Adam Jones também reagiu ao momento: «Fico agradado por ver o que se passou e por saber que nem toda a gente sente o mesmo do que alguns. O Sale, que costuma ser muito rápido entre lançamentos, abrandou um pouco para dar mais tempo ao momento. Agradeço-lhe por isso».
RPS