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É Desporto

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01 de Junho, 2018

A saliva de Rijkaard no cabelo de Völler… duas vezes

Rui Pedro Silva

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Jogos entre holandeses e alemães eram sempre quentes e os oitavos do Mundial-1990 não foram exceção. Em San Siro, com Rijkaard a jogar em «casa», o encontro ficou marcado por uma dupla expulsão na primeira parte. Völler, incrédulo, foi cuspido no cabelo; Rijkaard estava de cabeça perdida… e com expetoração extra. 

 

Rivalidade acesa

 

Holanda e Alemanha (RFA) tinham um historial de encontros importantes em fases finais, muitas vezes marcados por incidentes. Desde a conquista do Mundial em 1974 dos germânicos, numa final que colocou as duas equipas frente a frente, os despiques subiram de tom e, em 1990, o tabuleiro parecia ter virado. Apenas dois anos antes, em Munique, a Holanda tinha sido campeã europeia depois de deixar o rival pelo caminho nas meias-finais.

 

O jogo era um dos dois cabeças de cartaz dos oitavos, a par do Brasil-Argentina. Duas horas depois de Maradona e companhia terem seguido em frente, num jogo marcado pela história de Branco ter bebido «água argentina» com calmantes, Holanda e RFA entraram em campo em San Siro, um relvado habituado a ser pisado pelas estrelas das duas seleções: Rijkaard, Gullit e Van Basten eram do Milan, Brehme, Matthäus e Klinsmann alinhavam no Inter. E depois, claro, havia Völler, uma personagem principal desta história, que jogava na Roma desde 1987 e estava habituado a jogar em Milão.

 

A primeira parte não teve golos mas hoje, 28 anos depois, continua a ser muito mais lembrada do que o segundo tempo, quando Klinsmann, Brehme e Koeman marcaram. Porquê? Porque foi quando Rudi Völler decidiu partir em velocidade para o ataque e desencadeou uma série de acontecimentos que mancharam a história do jogo e dos seus protagonistas.

 

Um pecado em três atos

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Völler partiu em velocidade, mudou rapidamente de direção puxando a bola para o seu lado esquerdo e não deu alternativa a Rijkaard que não fosse cometer falta. O árbitro, o argentino Juan Loustau, assinalou a infração e mostrou o cartão amarelo ao holandês.

 

Rijkaard não estava bem na altura, confessou o próprio. Tinha-se divorciado há pouco tempo e entrou no Itália-1990 a sentir uma grande pressão emocional. A descarga de tensão, surpreendentemente, veio através da… saliva. Depois de ver o amarelo, retomou a sua marcha e, ao passar por Völler, cuspiu-lhe no cabelo.

 

O alemão ficou incrédulo mas não reagiu. Ou melhor, fê-lo mas não retaliando. Correu na direção do árbitro e tentou mostrar-lhe o que tinha acabado de acontecer. Mas Loustau não se deixou levar e mostrou, ele próprio, uma coisa: o amarelo a Völler.

 

A RFA cobrou a falta para a área e o avançado disputou o lance com o guarda-redes, Van Breukelen. O jogador do PSV caiu no relvado e Rijkaard não precisou de muito mais para ir acusar Völler, o seu novo «melhor amigo» de ter carregado o adversário em falta. Puxou-o pela orelha, obrigando-o a levantar-se e deu início a nova troca de mimos.

 

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Loustau estava pelos cabelos e decidiu tomar uma ação mais drástica: vermelho para Rijkaard e vermelho para Völler. Assim, em três atos que não demoraram mais do que dois minutos, o jogo estava reduzido a vinte jogadores e marcado pela vergonha do que tinha acabado de acontecer.

 

Mas Rijkaard não estava satisfeito. Uma vez mais, ao passar por Völler, decidiu cuspir novamente, testando a paciência do avançado da Roma. O germânico pareceu morder a língua, controlou-se e ainda esboçou uma resposta, mas não fez mais do que passar a correr ao lado do holandês.

 

Um jogador de cabeça perdida

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O incidente captou a atenção do mundo e não foi preciso esperar muito tempo para aparecerem as primeiras teorias. O que teria motivado Rijkaard a agir daquela maneira? Nada, confirmou o mesmo uns anos mais tarde.

 

«Errei naquele dia. Não houve qualquer insulto. Sempre tive muito respeito por ele, mas fiquei furioso quando vi o vermelho. Falei com ele depois do jogo e pedi desculpa, fiquei muito feliz por ele ter aceitado», contou.

 

Do outro lado, Völler nunca chegou a perceber o que fez de errado: «É óbvio que o que Rijkaard fez não foi simpático mas o jogo devia ter continuado para mim. Ainda hoje não entendo a razão para ter sido expulso, acho que o árbitro vai levar essa justificação para o túmulo».

 

«Queria fazer de nós um exemplo para acalmar os ânimos – e resultou. Havia muita tensão entre os jogadores mas é sempre assim nos jogos entre Alemanha e Holanda», explicou numa entrevista à FourFourTwo.