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É Desporto

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05 de Novembro, 2016

A noite em que Shevchenko destruiu o Camp Nou

Rui Pedro Silva

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O FC Porto empatou com o Rosenborg (1-1) e o Sporting perdeu na deslocação a Leverkusen (1-4) mas o 5 de novembro de 1997 ficou marcado pela goleada do Dínamo Kiev em Barcelona (4-0). Shevchenko brilhou com um hat-trick e Vítor Baía foi motivo da ira dos adeptos, num jogo em que Figo e Fernando Couto também foram titulares.

 

*Publicado originalmente na edição de 5 de novembro de 2012 do jornal i

 

A 5 de Novembro de 1997 ainda não havia um Super Barcelona. Guardiola era jogador mas estava lesionado. Puyol não passava de um jogador da equipa B e estreava-se na convocatória de Van Gaal. O plantel tinha um Busquets mas ainda não era Sergio, era o pai Carles, guarda-redes no banco. Messi? Tinha apenas dez anos e ainda crescia na Argentina, no Newell’s Old Boys.

 

A equipa estava motivada: liderava o campeonato e tinha acabado de vencer 3-2 no Santiago Bernabéu, mas a história na Liga dos Campeões era diferente. Em três jogos, duas derrotas e um empate – quatro golos marcados, oito sofridos. O pesadelo já era grande mas ficaria muito maior com a goleada sofrida no Camp Nou contra um Dínamo Kiev treinado por Valery Lobanovsky e onde um jovem Shevchenko era a figura de proa.

 

Os ucranianos tinham vencido 3-0 em Kiev mas a humilhação suprema estava guardada para o jogo na Catalunha. Vítor Baía (de regresso após uma longa paragem por lesão no joelho), Fernando Couto e Figo foram titulares e ao intervalo já perdiam por 3-0, com um hat-trick de Shevchenko. Nos dois primeiros golos, Baía deixou-se antecipar, no terceiro, não conseguiu parar o penálti que tinha sido cometido por Sergi.

 

O pesadelo continuaria na segunda parte. O Barcelona já jogava com dez por causa da expulsão de Sergi quando Vítor Baía sai da baliza para cortar uma bola. Ferrer recebe mal e permite a Rebrov atirar para uma baliza deserta. Nesta altura, já Baía era o grande alvo dos assobios dos adeptos. Na análise individual, o «Mundo Deportivo» escrevia que o guarda-redes estava «fora de forma e inseguro». O ex-FC Porto estava inconsolável: «Percebi que não vale a pena fazer sacrifícios porque os adeptos não recompensam os meus esforços».

 

 

Referindo que começou a sentir dores ao minuto 25, deixou também a promessa de nunca mais jogar sem estar a 100%. «Já vi que não vale a pena sofrer ou correr riscos. Em ano e meio sacrifiquei-me mais por este clube do que muitos jogadores em mais tempo». Luís Figo também teve uma noite para esquecer («muito marcado na esquerda, teve alguns bons pormenores que se mostraram inconsequentes») e Fernando Couto foi o único que se safou da mediocridade colectiva.

 

Na pontuação do jornal da Catalunha, teve três estrelas – todos os outros tiveram apenas uma – e mereceu elogios: «O melhor da equipa. Seguro no corte e na antecipação.» O treinador Louis Van Gaal era um homem resignado na conferência de imprensa. «Estão irritados, eu também estou. Do ponto de vista físico, não tivemos bons jogadores. Não conseguimos pressionar bem e quando recuperávamos a bola não conseguíamos aguentar muito tempo com ela.»

 

E sobre Baía, o que havia a dizer? «É difícil para o Vítor e para qualquer outro jogador regressar à equipa depois de estar dois ou três meses lesionado. E é um problema porque, apesar de estar a recuperar, não pode fazer jogos para ganhar ritmo nem treinar muito porque com esta sequência de jogos não temos muitos dias para isso.»

 

Para encontrar elogios ao Barcelona, foi preciso ouvir o treinador do Dínamo Kiev. «Tiveram uma grande atitude. Sem dúvida que lutaram até ao final do jogo, notava-se que queriam o golo de honra», explicou Lobanovsky, que acrescentou que o importante é chegar aos quartos de final. «Não somos um super clube mas com tempo podemos fazer grandes coisas.» Os ucranianos chegaram aos quartos-de-final, mas foram eliminados pela Juventus. O Barcelona ficou pelo caminho mas conquistou a Liga Espanhola com nove pontos de vantagem. 

 

O Barcelona alinhou com Vítor Baía, Ferrer, Reiziger, Fernando Couto, Sergi, Celades, Giovanni, Óscar, Ciric, Figo e Rivaldo. Jogaram ainda Amor e Nadal.

 

O Dínamo Kiev jogou com Shovkovski, Luzhny, Vashtchuk, Golovko, Dmitrulin, Kosovski, Kalitvintsev, Gusin, Klatskevitch, Rebrov e Shevchenko. Jogaram ainda Volosianko, Maksimov e Mikhailenko.

 

O árbitro foi o escocês Hugh Dallas. Lembram-se? O do Bayern Munique-FC Porto.