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É Desporto

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02 de Junho, 2020

Derek Redmond. A desilusão comovente partilhada com o pai

Rui Pedro Silva

Derek Redmond e o pai

Velocista britânico sofreu uma lesão durante a meia-final dos 400 metros e insistiu em completar a corrida, praticamente sem conseguir apoiar a perna no chão. O pai estava a vê-lo na bancada, invadiu a pista perante a impotência dos seguranças e fez questão de acompanhar o filho, lavado em lágrimas, até à meta. É um dos momentos mais comoventes na história dos Jogos Olímpicos.

Lembram-se de quem ganhou a final dos 400 metros masculinos nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992? O meu palpite, antes de ver, é Michael Johnson. Faz sentido. O norte-americano dominou a distância durante a década de 90 e era um dos atletas mais empolgantes daquele período.

[Pausa para ir confirmar]

Não, não foi Michael Johnson. O norte-americano esteve nos Jogos, venceu o título olímpico na estafeta dos 4x400 metros mas nem sequer esteve na prova em questão. Essa foi ganha por um seu compatriota, Quincy Watts, com um novo recorde olímpico de 43,50 segundos.

Lembram-se? Já viram imagens desta prova? É bastante provável que não. Por outro lado, é praticamente impossível fugir ao que se passou com Derek Redmond, um britânico que nem conseguiu atingir a final. Quer tenham idade suficiente para ver a corrida em 1992 ou já tenham apanhado algum vídeo desde então, é difícil fugir.

Afinal de contas, aquele dia 3 de agosto de 1992 entrou para a história como o dia de um dos momentos mais comoventes e emocionantes dos Jogos Olímpicos. Tudo parecia estar a correr de acordo com os planos: vencera a série das eliminatórias e a dos quartos de final, e já só havia mais um obstáculo até atingir a final. Ou assim pensava ele.

As expetativas do velocista de 26 anos eram legítimas, apesar de nunca ter atingido um pódio relevante na distância, excluindo em estafetas, com destaque para o ouro nos Mundiais de Tóquio, em 1991. De qualquer modo, acreditava que aquele poderia ser o seu momento e trabalhou durante anos e anos para chegar àquele palco.

Redmond não era imune a lesões, longe disso. Quatro anos antes, nos Jogos Olímpicos de Seul, tinha desistido minutos antes de correr a sua série nas eliminatórias devido a uma lesão no tendão de Aquiles. O historial de operações também era intimidante: oito até chegar a Barcelona-1992.

Na meia-final, pensou que estava finalmente a caminho de um bom resultado. Os primeiros 150 metros apontavam para isso, De repente, sofreu uma rotura na coxa, caiu com estrondo e viu o céu desabar sobre ele novamente. Inconformado, fez questão de completar os 250 metros que faltavam, em lágrimas, com muitas dificuldades e perante os aplausos dos espetadores.

À entrada para os últimos 100 metros, um homem aparece em plano de fundo a invadir a pista, ignorando as tentativas dos seguranças de o impedir. Era o pai de Redmond. Ninguém consegue ver um filho a sofrer daquela maneira e Jim não ia deixar que ninguém se atravessasse no seu caminho. Tinha de confortar Derek.

O britânico pareceu perder as forças, apoiando-se nos ombros do pai. Tudo aquilo era um pesadelo. Uma vez mais, no momento-chave, tinha ficado para trás. Não ia haver mais oportunidades, parecia ser ali ou nunca. E o nunca já estava gravado na sua coxa a maiúsculas.

Metros mais à frente, e apesar de estar oficialmente desqualificado, Derek cruzou a meta apoiado no seu pai perante a ovação de um estádio olímpico completamente cheio. Ninguém conseguiu ficar imune a tanto sofrimento.

01 de Junho, 2020

Fu Mingxia. Saltar para o estrelato com 13 anos

Rui Pedro Silva

Fu Mingxia

Carreira olímpica da saltadora para a água chinesa começou nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. Tinha apenas 13 anos mas já levava consigo o título continental na prova por equipas em 1990 e a medalha de ouro no salto de plataforma a dez metros em 1991. Mingxia provou que a idade não contava para nada.

Nasceu a 16 de agosto de 1978. Poderia ter uma vida igual à de tantas outras crianças, sobretudo num país em que filhas raparigas eram vistas como surpresas desagradáveis, mas fez questão de provar que a China tinha um enorme talento entre mãos.

Em 1990, tinha acabado de fazer 12 anos quando integrou a equipa chinesa que venceu a prova por equipas nos Jogos Asiáticos, em Pequim. A estreia teve ainda outra promessa do que estaria para chegar, ao concluir a prova de plataforma de dez metros na terceira posição.

Os dados estavam lançados e o sucesso foi imparável. No ano seguinte, em Perth, foi campeã mundial e, quando chegou aos Jogos Olímpicos de Barcelona, ainda com 13 anos, as adversárias olhavam para ela como uma ameaça. E com razão para isso.

Naquele momento, tornou-se uma das campeãs olímpicas mais jovens da história, recompensando o esforço de anos do pai, Yijun, que a tinha ensinado a nadar no rio logo com cinco anos.

A infância de Fu Mingxia esteve longe de ser normal. Aos nove anos, e depois de uma experiência na ginástica, dedicou-se aos saltos a tempo inteiro e saiu de casa, rumo a Pequim. Os resultados foram imediatos.

Em Barcelona, a chinesa dominou completamente a prova e terminou com 461,43 pontos, à frente de Yelena Miroshina (411,63), que competia pela Equipa Unificada dos antigos estados soviéticos, e de Mary Ellen Clark (401,91), dos Estados Unidos.

A cidade da Catalunha foi apenas o primeiro passo rumo a uma aventura olímpica que só terminou em 2000, depois de dois títulos olímpicos em Atlanta-1996 e uma medalha de ouro e uma de prata em Sydney.

Pelo meio, depois da dobradinha de Atlanta (plataforma de 10 metros e prancha de três metros), decidiu interromper a carreira para estudar Economia. Aguentou dois anos até regressar à competição, por saudades e por estar a… engordar.

Cada um com as suas motivações.

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