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É Desporto

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04 de Maio, 2020

Shun Fujimoto. O campeão olímpico do joelho partido

Especial Jogos Olímpicos (Montreal-1976)

Rui Pedro Silva

Shun Fujimoto

Japonês sentia a responsabilidade de ajudar a equipa a revalidar o título olímpico uma vez mais e recusou-se a transparecer que tinha partido o joelho durante a prova de solo. Com brilhantes exibições no cavalo com arções e, sobretudo, nas argolas, agravou a lesão mas contribuiu de forma decisiva para a medalha de ouro.

A história da prova por equipas nos Jogos Olímpicos estava a ser repetida à exaustão. O Japão tinha chegado ao lugar mais alto do pódio nas quatro edições anteriores, desde 1960, e a União Soviética ficava sempre à espreita, na segunda posição.

Em Montreal-1976, os dois países voltaram a entrar como principais favoritos mas os soviéticos tinham um trunfo de peso: Nikolai Andrianov. «Nunca pensámos perder em Montreal. Queríamos preservar a história do Japão na ginástica, queríamos manter o passado vivo», afirmou Shun Fujimoto, décadas mais tarde.

O japonês levou esta determinação demasiado a peito e sofreu na pele. Durante a prova de solo, o ginasta sofreu uma lesão grave e partiu a patela do joelho direito. Numa situação normal, significaria o fim da competição mas Fujimoto nem equacionou essa hipótese. E ninguém o pôde fazer por ele, uma vez que a condição foi mantida em segredo.

«Queria desafiar-me o máximo possível. Queria continuar o nosso sucesso, por isso concentrei-me apenas na competição, não fiz nada de especial.» Fujimoto mente. Fez algo de especial, muito especial.

O aparelho seguinte era o cavalo com arções. Com uma dor excruciante, Fujimoto resistiu e somou uma pontuação de 9,5. O pior veio depois, nas argolas. A resistência do nipónico estava no limite e a rotina incluía uma saída com duplo mortal com pirueta.

«Apesar de estar lesionado, tinha de fazê-lo de qualquer modo. Por mim e pela minha equipa. Era muito bom nesse aparelho, por isso estava confiante», disse. O resultado, 9,7 pontos, foi o seu melhor de sempre nas argolas e escondeu, uma vez mais, o que se passou. Uma boa parte da dedução foi pela forma como aterrou, favorecendo a perna esquerda e não contendo qualquer esgar de dor ao apoiar o pé direito.

Agora, finalmente, Fujimoto tinha passado o limite do aceitável. A brincadeira tinha agravado a lesão, promovendo o deslocamento do joelho e o estiramento dos ligamentos cruzados. «Não pensava em falhar, não podia pensar nisso, a dor era inexplicável.»

Fujimoto não participou nos derradeiros aparelhos mas a sua contribuição foi decisiva para que os japoneses vencessem os soviéticos por quatro décimas e estendessem a sua supremacia. «Estava tão aliviado no pódio que comecei a chorar. Tinha uma grande responsabilidade. Foi difícil ir à cerimónia mas os meus colegas ajudaram-me», reconheceu.

01 de Maio, 2020

Massacre de Munique. Uma página negra na história olímpica

Especial Jogos Olímpicos (Munique-1972)

Rui Pedro Silva

Momento negro da edição de 1972

Grupo terrorista palestiniano chamado Setembro Negro plantou o terror durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Visando a comitiva israelita, invadiu a Aldeia Olímpica na madrugada de 5 de setembro e desencadeou uma série de eventos que terminou com a morte de 17 pessoas: 11 israelitas, cinco terroristas e um polícia germânico.

Nem só de grandes momentos e vitórias memoráveis se escreve a história dos Jogos Olímpicos. Há, naturalmente, altos e baixos, mas nunca o evento foi obrigado a mergulhar tão fundo como em Munique, na República Federal da Alemanha.

O mundo era diferente. Os casos de terrorismo sucediam-se e os alemães não tinham falta de avisos. Aliás, durante a preparação para o evento, chegaram mesmo a solicitar a um especialista que traçasse vários cenários de ataques que pudessem visar a comitiva israelita. Os conselhos foram ignorados mas, ironicamente, um deles acabou por ser aquele que os terroristas utilizaram.

A segurança na Aldeia Olímpica era, à falta de melhor palavra, risível. Os atletas passavam as noites a pular a cerca, literal e figurativamente, e beneficiavam da indiferença dos seguranças. Foi precisamente isso que os terroristas, oito membros do grupo Setembro Negro, aproveitaram. Com fatos de treino vestidos, misturaram-se num grupo maior de atletas que também estava a entrar clandestinamente no complexo, e beneficiaram deste silêncio.

O objetivo deles era, contudo, muito diferente: fazer refém a comitiva israelita. Munidos de metralhadoras e granadas, invadiram o edifício com relativa facilidade e, perante alguma resistência, fizeram desde logo dois mortos. Era o prelúdio para uma história ainda mais triste.

Uns fugiram, outros não tiveram essa sorte. Quando a situação estabilizou, onze membros da equipa israelita – seis árbitros e cinco atletas – tinham sido tomados como reféns. Pouco depois, o mundo acordou para esta desgraça e ficou a conhecer as exigências: libertação de 234 palestinianos em Israel, bem como de um detido japonês e dois alemães, todos membros de grupos do Exército Vermelho.

Israel recusou-se a negociar e deixou a Alemanha Ocidental numa posição delicada. Sem capacidade para lidar com este tipo de situações, a inexperiência foi sendo o denominador comum a cada passo. Por mais do que uma vez, os germânicos tentaram planear ataques que neutralizariam os terroristas, mas as iniciativas foram sempre abortadas depois de descobertas numa fase prematura.

As negociações levaram terroristas e reféns para um aeroporto próximo, o palco do verdadeiro massacre. Mais uma vez, a polícia alemã mostrou estar pouco à vontade ao lidar com esta situação e recorreu a atiradores sem experiência e a planos sem possibilidade de sucesso. Quando nada mais resultou e o primeiro tiro foi dado, estava apenas aberto o caminho para a chacina.

Ao serem atacados, os terroristas, que já tinham feito perceber que não se preocupavam com dinheiro ou com a vida, retaliaram disparando sobre os helicópteros onde estavam os reféns, recorrendo também ao arremesso de granadas.

A situação durava há praticamente 24 horas, os Jogos Olímpicos estavam em suspenso, o mundo acompanhava a situação pela televisão e… não houve um final feliz. No total, as 17 pessoas mortas foram o balanço da pior página do evento.

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