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É Desporto

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25 de Maio, 2020

Christa Luding-Rothenburger. Uma medalhada moda inverno-verão

Rui Pedro Silva

Christa Luding-Rothenburger

O ano de 1988 foi inesquecível para a alemã Christa Luding-Rothenburger. Depois de já ter vencido uma medalha de ouro em Sarajevo-1984, nos Jogos Olímpicos de Inverno, chegou a Calgary-1988 e acumulou mais duas medalhas. E o que tem isto a ver com os Jogos Olímpicos de Verão? Pois, é que também ganhou uma prata em Seul.

Há quem ache o frio insuportável. Há quem prefira o aconchego dos cobertores e quem sofra com temperaturas muito quentes. As pessoas não são todas iguais e, talvez também por isso, não há uma grande tradição de atletas que conseguiram competir em Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno.

O tonganês Pita Taufatofua foi a última grande novidade neste assunto, mas sem qualquer lugar de relevo na conquista dos pódios no Rio de Janeiro, em 2016, e em Pyeongchang, em 2018. Por outro lado, há Christa Luding-Rothenburger.

A alemã da República Democrática da Alemanha, nascida em Cottbus a 4 de dezembro de 1959, assinalou de forma indelével as últimas presenças do seu país em competições olímpicas. Não só participou nos Jogos de Inverno e Verão no mesmo ano – algo ao alcance de muito poucos -, como atingiu o pódio nos dois eventos. E aqui, não haja enganos, a lista tem apenas um nome. Ou três, vá: Christa. Luding. Rothenburger.

Christa era uma atleta de inverno. Era na patinagem de velocidade que se focava e os dois títulos olímpicos – um nos 500 metros em 1984 e outro nos 1000 metros em 1988 estão aí a comprová-lo. Mas, a partir de 1980, a conselho de um treinador, começou a dedicar-se ao ciclismo durante a pausa da competição.

No verão de 1988, já depois das duas medalhas em Calgary (ouro nos 1000 e prata nos 500 metros), representou a República Democrática da Alemanha no ciclismo de pista. Aí, na prova de sprint, fez história com a conquista de medalha de prata.

A era da RDA tinha terminado e a de Christa estava muito perto – despediu-se com uma medalha de bronze nos 500 metros de patinagem de velocidade em Albertville -, mas houve um feito que nunca mais será igualado. A partir de 1992, os Jogos das duas estações deixaram de coincidir no mesmo ano do calendário, deixando para sempre a alemã como única atleta a vencer medalhas nestas condições.

25 de Maio, 2020

Anthony Nesty. O surpreendente campeão do Suriname

Rui Pedro Silva

Anthony Nesty

Nasceu em Trindade e Tobago mas foi com as cores do Suriname que fez história ao tornar-se o primeiro homem negro a vencer uma prova de natação. Na final dos 100 metros mariposa dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, contrariou de forma espetacular o favoritismo de Matt Biondi.

Falar de natação nos Jogos Olímpicos que a Coreia do Sul organizou é falar de Matt Biondi. O norte-americano, que já trazia um título de Los Angeles-1984, prometia mundos e fundos para igualar o recorde de sete medalhas de ouro de Mark Spitz. Quis o destino que o fracasso fosse confirmado logo na primeira final, nos 200 metros livres, quando não foi além da medalha de bronze.

Dois dias depois, novo fracasso. E este ainda mais surpreendente. Na final dos 100 metros mariposa, Biondi parecia lançado para o primeiro título olímpico em Seul e dobrou os 50 metros com uma vantagem significativa. Nas derradeiras braçadas parecia já ter a medalha ao pescoço mas calculou mal a distância para a parede e foi superado, por um único centésimo, por Anthony Nesty. Que era negro. E competia pelo Suriname. E tinha acabado de estabelecer um novo recorde olímpico.

Matt Biondi prosseguiu o seu percurso natural, conquistando cinco medalhas de ouro nas cinco provas restantes, e Anthony Nesty «desapareceu» do mapa, mas não sem antes fazer história. Afinal, tinha sido o primeiro nadador negro da história a conquistar uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos.

Nascido em Trindade e Tobago, em 1967, mudou-se com a família para o Suriname quando tinha apenas sete meses. Nadar passou a ser parte da sua vida a partir de uma idade precoce – cinco anos – e nunca parou de evoluir. As presenças nas primeiras competições demonstraram que tinha um talento peculiar para um país como o Suriname e, depois da presença modesta nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, foi convidado para ficar a estudar – e treinar – na Florida.

Durante os quatro anos seguintes, evoluiu e mostrou que podia competir entre a elite. Mesmo assim, poucos eram os que esperavam que fosse capaz de se intrometer na luta pela medalha de ouro, vindo de um país sem tradição, com uma comitiva de apenas oito atletas na Coreia do Sul e sem um único pódio para amostra nas competições anteriores.

O triunfo catapultou-o. Nesty era especialista na mariposa e tornou-se uma lenda dos 100 metros daquele estilo, vencendo todas as provas durante os três anos seguintes. Depois, em Barcelona-1992, voltou a surgir em bom nível, mas não foi além da medalha de bronze.

Para o Suriname, voltou a ser um momento histórico, ou não fossem estas as duas únicas medalhas da sua história – mesmo hoje, depois de tantos anos. Nesty foi elevado a herói nacional e toda a gente o conhecia, toda a gente queria falar com ele, estar com ele, dizer que o conhecia. Num país com pouca tradição desportiva, Nesty tornou-se, merecidamente, uma lenda.