Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

É Desporto

É Desporto

27 de Abril, 2020

Hart/Robinson. Ver a falta de comparência pela televisão

Especial Jogos Olímpicos (Munique-1972)

Rui Pedro Silva

Eddie Hart

Eddie Hart e Rey Robinson partilhavam o recorde do mundo e eram os dois principais favoritos à conquista da medalha de ouro na prova dos 100 metros nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Mas um horário errado transmitido pelo treinador fez com que não chegassem a tempo às séries dos quartos-de-final e abrissem caminho para que um soviético se tornasse o primeiro não-americano a ganhar a distância.

Falar dos 100 metros era falar de velocistas norte-americanos. Ao longo da história, os Estados Unidos tinham dominado a prova do hectómetro e Munique-1972 parecia ir a caminho do mesmo. Durante as qualificações dos Estados Unidos para a prova, Eddie Hart e Rey Robinson tinham levado a disputa muito a sério e estabelecido um novo recorde do mundo partilhado, de 9,9 segundos.

Na República Federal da Alemanha, juntamente com Robert Taylor, eram fortes candidatos a um pleno no pódio. Mas, por culpa do treinador Stan Wright, a história foi muito diferente.

Quinta-feira, 31 de agosto. De manhã, os norte-americanos tinham passado pelas eliminatórias com mestria. Rey Robinson venceu a sexta série com 10,56 segundos, Eddie Hart cruzou a meta na primeira posição na 11.ª série com 10,47 e Robert Taylor venceu a última com um tempo de 10,32. Metade do trabalho para aquela jornada estava feito.

O trio foi descansar e recebeu uma notificação do treinador: as séries dos quartos-de-final iam começar às sete da tarde. Com tempo para tudo, os atletas só pensaram em regressar ao estádio minutos antes das cinco. Mal sabiam ainda, nessa altura, que o treinador os tinha enganado e as provas iam começar às 16h45.

Enquanto esperavam pelo autocarro que os iria transportar para o estádio, repararam que a transmissão televisiva estava a preparar-se para dar provas de 100 metros. Julgavam que seria a repetição do programa de manhã, mas sentiram que lhes tinha caído o inferno em cima quando alguém lhes respondeu que não, que aquilo era em direto, que iam começar os quartos-de-final.

O estádio não ficava muito longe mas Eddie Hart e Rey Robinson estavam agendados para as duas primeiras rondas: era demasiado tarde. Robert Taylor, inscrito na terceira série, chegou à justa: teve apenas tempo para se equipar, correr para os blocos e… correr para a meta, terminando no segundo lugar, atrás do soviético Valeriy Borzov.

O episódio insólito dominou as atenções. Como é que uma comitiva tão experiente como a norte-americana podia ter cometido um erro tão flagrante? Em defesa do treinador, estava a guiar-se por um horário provisório que, entretanto, tinha sido alterado. Robinson e Hart protestaram, com o auxílio da federação, mas não tiveram qualquer benesse e ficaram mesmo de fora da luta pelas medalhas.

No dia seguinte, já na final, Robert Taylor tentou salvar a honra norte-americana mas não fez melhor do que a segunda posição. O soviético Valeriy Borzov estava lançado, correu a prova em 10,14 segundos e tornou-se o primeiro não-americano a conquistar a medalha de ouro da distância em Jogos Olímpicos. O jamaicano Lennox Miller repetiu o pódio alcançado em 1968 (prata) e garantiu o bronze.

A fraca consolação de Eddie Hart chegou mais de uma semana depois, na final da estafeta dos 4x100 metros, com uma medalha de ouro e um novo recorde mundial (38,19 segundos). Rey Robinson nem isso conseguiu.

27 de Abril, 2020

Dan Gable. O campeão intocável

Especial Jogos Olímpicos (Munique-1972)

Rui Pedro Silva

Dan Gable

A história está cheia de títulos olímpicos que não merecem qualquer contestação mas a forma como o norte-americano Dan Gable chegou à medalha de ouro na luta livre nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, desafia qualquer concorrência: não permitiu um único ponto aos adversários em seis combates.

Há histórias olímpicas profundas, cheias de detalhe e pormenores insólitos e rocambolescos. Há outras que têm pouco para acrescentar, limitando-se a entrar no livro das estatísticas como primeiro, segundo e terceiros classificados. E depois há a história de Dan Gable.

A forma como o norte-americano venceu a medalha de ouro na prova de pesos ligeiros na luta livre em 1972 não merece grande memória hoje em dia. Não é um nome que apareça ao lado de Olga Korbut ou Mark Spitz, mas durante aquele verão, Gable talvez tenha sido o campeão menos contestado na história do desporto.

Nascido em Waterloo, no Iowa, a 25 de outubro de 1948, Dan Gable chegou aos Jogos Olímpicos de Munique com 23 anos e uma história trágica. Apenas oito anos antes tinha lidado com a morte da irmã, quatro anos mais velha, que foi violada e assassinada por um vizinho.

Gable, longe de ser uma figura imponente, com 1,75 metros e 68 quilos, não se deixou afetar e centrou a sua determinação no desporto. Quando chegou à República Federal da Alemanha, era campeão continental e mundial em título e… não deu hipótese a ninguém.

Na caminhada para a medalha de ouro, Dan Gable derrotou Safer Sali da Jugoslávia, Klaus Rost da RFA, Stefanos Ioannidis da Grécia, Kikuo Wada do Japão, Wlodzimierz Cieslak da Polónia e, finalmente, Ruslan Ashuraliyev da União Soviética. Em todos os duelos, um denominador comum: os adversários não conseguiram fazer qualquer ponto.