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É Desporto

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21 de Abril, 2020

Kip Keino. Aquecer para o ouro a fugir ao trânsito

Especial Jogos Olímpicos (México-1968)

Rui Pedro Silva

Kip Keino

Corredor queniano saiu tarde para o Estádio Olímpico e corria o risco de falhar a final dos 1500 metros. Abandonou o autocarro, percorreu o caminho que faltava e não mostrou qualquer tipo de desgaste rumo ao primeiro título olímpico da sua carreira.

A história de Kipchoge Keino nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968, está longe de ser um mar de rosas. Aliás, se o queniano tivesse seguido à risca as recomendações médicas, possivelmente nem sequer teria feito a viagem transcontinental para competir no México.

O problema? Pedras na vesícula biliar. O desgaste acumulado poderia ser fatal para Keino e, mesmo que não tivesse marcas graves na sua saúde, seria sempre obrigado a sofrer mais do que o costume, sobretudo se pensarmos que tinha previsto competir nas provas dos 10 000, 5000 e 1500 metros.

A estreia confirmou as piores previsões médicas. Keino liderava a prova mas, a poucas voltas do fim, sofreu dores lancinantes e cambaleou até cair, já fora de pista. O queniano foi assistido e, apesar de saber que seria desqualificado, voltou ao tartan e insistiu em completar a distância.

Mais tarde, nos 5000 metros, chegou à medalha de prata. Recuperado das dores e sem dificuldades aparentes, o corredor disputou o título até à última com o tunisino Mohammed Gammoudi e foi derrotado por apenas 15 centésimos de segundo.

A terceira e última oportunidade para chegar ao lugar mais alto no pódio chegaria nos 1500 metros. Keino era um dos grandes favoritos mas… deixou-se dormir. Literalmente. Quando percebeu o erro cometido, apanhou o primeiro autocarro para o Estádio Olímpico que conseguiu encontrar mas o trânsito caótico da capital mexicana não ajudou. Ao ver a vida a andar para trás, percebeu que situações desesperadas exigem medidas desesperadas. Ou seja, sair do autocarro e ir a correr até ao estádio, que na altura estava ainda a cerca de três quilómetros, era a única solução.

Keino chegou a tempo – a escassos 20 minutos do arranque da prova – mas estava naturalmente mais desgastado do que a concorrência. Por outro lado, tinha feito o aquecimento perfeito. E foi precisamente isso que demonstrou na pista, dominando a corrida do início ao fim, terminando no primeiro lugar com um tempo de 3:34.91 – com quase três segundos de vantagem sobre o principal favorito Jim Ryun – e estabelecendo um novo recorde olímpico.

Cidade do México mostrou ser uma edição com muitas pedras no caminho – e não só -, mas Kip Keino apanhou-as todas e trocou-as por duas medalhas: uma de ouro e outra de prata. Estávamos apenas no início da hegemonia queniana.

21 de Abril, 2020

Irmãos Pettersson. A equipa de quatro que foi prata no contrarrelógio

Especial Jogos Olímpicos (México-1968)

Rui Pedro Silva

Gösta Petterson à direita

Gösta, Sture, Erik e Tomas eram quatro irmãos a representar a Suécia e brilharam na prova de contrarrelógio por equipas, em ciclismo de estrada, nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968, ficando apenas atrás da equipa holandesa liderada por Joop Zoetemelk. Depois, Gösta tomou-lhe o… gosto e garantiu o bronze na prova de estrada.

Gösta Artur Roland Pettersson nasceu a 23 de outubro de 1940. Sture Helge Vilhelm Pettersson nasceu a 30 de setembro de 1942. Erik Hakan Pettersson nasceu a 4 de abril de 1944. Finalmente, Rune Tomas Pettersson nasceu a 15 de maio de 1947.

Os quatro irmãos cresceram juntos, partilhavam uma paixão comum pelo ciclismo e os Jogos Olímpicos da Cidade do México foram a oportunidade perfeita para mostrarem ao mundo a sua qualidade… coletiva. O mais velho tinha 28 anos, o mais novo 21. Dificilmente poderiam voltar a ter um intervalo tão bom para fazer a diferença, por isso fizeram questão de pedalar para o estrelato.

Quatro anos antes, em Tóquio, os três irmãos mais velhos já tinham conquistado uma medalha de bronze na prova de contrarrelógio por equipas, com o «estranho» Sven Hamrin a surgir na posição de Tomas, na altura ainda com 17 anos.

Depois, em 1968, a 15 de outubro, na mesma prova, os quatro irmãos formaram exclusivamente a equipa sueca e garantiram a medalha de prata, concluindo os 104 quilómetros da prova em duas horas, nove minutos e 26 segundos. Podem ter ficado a quase um minuto e meio da Holanda, mas fizeram história… familiar e olímpica.

Os irmãos Pettersson não eram desconhecidos. Campeões do mundo em 1967 e 1968, sabiam perfeitamente as forças e fraquezas de cada um e desempenhavam as suas funções na perfeição. Tinham talentos diferentes e capacidades individuais muito distintas mas ali eram apenas um nome em prova: Pettersson.

Uma semana depois, na prova individual de estrada, Gösta voltou a demonstrar a razão para ser considerado o irmão mais talentoso e garantiu a medalha de bronze, atrás do dinamarquês Leif Mortensen e do italiano Pierfranco Vianelli.

A vida pós-olímpica mudou muito cada um deles. Depois de um terceiro e derradeiro título mundial em 1969, Gösta foi o único que conseguiu dar um verdadeiro salto para o profissionalismo, notabilizando-se nas grandes voltas: foi terceiro no Tour em 1970 e venceu o Giro em 1971.