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É Desporto

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20 de Abril, 2020

Hans-Gunnar Liljenwall. Quando a cerveja fez história olímpica no doping

Especial Jogos Olímpicos (México-1968)

Rui Pedro Silva

Hans-Gunnar Liljenwall

Sueco estava nervoso e queria ajudar a equipa a garantir uma medalha no pentatlo moderno. As cervejas que bebeu para acalmar antes de participar na prova de tiro foram… um tiro pela culatra e Liljenwall foi o responsável por a equipa ser forçada a devolver o bronze olímpico.

Chama-se Hans-Gunnar Liljenwall e entrou na história dos Jogos Olímpicos pelos piores motivos, na Cidade do México, em 1968, apenas um ano depois de o Comité Olímpico Internacional ter introduzido um regulamento sobre substâncias proibidas.

Liljenwall, sueco de nascimento, disputava as provas de pentatlo moderno e já tinha competido quatro anos antes, em Tóquio. Na competição individual esteve muito apagado mas na coletiva, ao lado do campeão individual, Björn Ferm, e de Hans Jacobsen, o pódio era uma possibilidade muito forte.

A sua participação no tiro tinha tudo para ser decisiva mas o sueco deixou-se dominar pelo nervosismo. Para acalmar o estado de espírito, decidiu beber duas cervejas (a quantidade é a confissão do próprio) momentos antes de começar a disparar.

O tiro saiu-lhe pela culatra. A equipa sueca, que garantira o terceiro lugar e a respetiva medalha de bronze, foi desqualificada depois de o controlo antidoping ter verificado que Liljenwall acusara uma quantidade de álcool acima do permitido.

O caso parece caricato mas marcou o início de uma nova era nos Jogos Olímpicos. Depois de mais de meio século em que os atletas recorriam a todo o tipo de artimanhas e misturas explosivas de produtos para ganhar uma vantagem teórica, a criação de uma lista negra ajudou, gradualmente, a limpar a competição.

Os casos continuaram a ocorrer – e continuarão no futuro – e ajudaram a manchar o nome de grandes figuras como Ben Johnson e Marion Jones, mas é indesmentível que o controlo é hoje muito maior, acompanhando o crescente profissionalismo que os Jogos Olímpicos têm vindo a exigir dos seus atletas, sobretudo para uma ideia que começou por ser exclusiva a atletas amadores.

20 de Abril, 2020

John Stephen Akhwari. O homem que tinha de terminar a maratona

Especial Jogos Olímpicos (México-1968)

Rui Pedro Silva

John Stephen Akhwari

Atleta da Tanzânia foi uma das figuras da maratona nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968, não por ter vencido ou terminado no pódio, mas sim pelo exemplo de coragem e determinação que deu ao insistir que queria terminar a prova apesar dos problemas físicos.

«O meu país não me enviou numa viagem de cinco mil milhas para começar uma corrida, enviou-me para terminar», afirmou um muito debilitado John Stephen Akhwari a 20 de outubro, numa altura em que o estádio estava praticamente deserto e já ninguém esperava por corredores da maratona.

Os resultados que entraram para a história foram outros. O etíope Mamo Wolde garantiu a medalha de ouro com um tempo de duas horas, 20 minutos e 26 segundos, com mais de três minutos de vantagem sobre o segundo classificado, mas foi outro africano a dominar a atenção mediática.

O tanzaniano John Stephen Akhwari foi o 57.º e último atleta a terminar a prova da maratona. Podia ter feito como Abebe Bikila, na altura bicampeão olímpico, e desistir, mas o orgulho não o deixou. Terminou a mais de 21 minutos do penúltimo classificado mas havia uma explicação para tudo.

Akhwari estava lesionado. Gravemente lesionado. Depois de já ter sofrido cãibras numa primeira fase da prova, acabou por ir ao chão numa confusão entre corredores à procura do melhor espaço. Resultado? Ficou com o ombro muito mal tratado e… deslocou o joelho. O resto da corrida foi uma provação: a um ritmo mais lento, com um esgar de dor insuportável e um único pensamento na cabeça: terminar, terminar, terminar.

O atleta da Tanzânia não seria candidato ao pódio mas estava longe de ser alguém sem créditos. Naquele dia não estava destinado. Foi assistido pela equipa médica mas insistiu em regressar à estrada. E assim continuou até, já de noite, cruzar a meta. Aí, sim, o objetivo principal estava alcançado. Terminar.