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É Desporto

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05 de Março, 2020

Takeichi Nishi. A medalha de ouro que morreu a defender Iwo Jima

Especial Jogos Olímpicos (Los Angeles-1932)

Rui Pedro Silva

Takeichi Nishi

Era oficial do império japonês e adorava montar a cavalo. Nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932, uma década antes de o Japão entrar em guerra com os Estados Unidos, Nishi brilhou com uma medalha de ouro na prova de saltos de obstáculos. A vida deu uma enorme volta e acabou morto pelos norte-americanos durante a tomada da ilha de Iwo Jima, celebrizada pelos filmes de Clint Eastwood.

Os Jogos Olímpicos de Los Angeles marcaram o surgimento do Japão em grande plano no panorama olímpico. Depois de não ter qualquer atleta entre 1896 e 1908, não passou de comitivas modestas até Amesterdão-1928. No total acumulado, foram 79 atletas e oito medalhas – apenas duas de ouro.

Nos Estados Unidos tudo mudou. A comitiva atingiu uns impressionantes 131 atletas e o balanço final ditou a conquista de 18 medalhas: sete de ouro, sete de prata e quatro de bronze. Se em alguns casos, foi apenas o início de uma longa tradição por modalidade, noutros, como é o exemplo do equestre, foi uma vitória singular na história.

Takeichi Nishi foi o responsável. O militar do império japonês chegou a Los Angeles com 30 anos e… com um cavalo chamado Uranus, comprado em Itália dois anos antes. Juntos, brilharam na prova de saltos de obstáculos e conquistaram a medalha de ouro, com apenas oito pontos de penalidade, contra os 12 do norte-americano Harry Chamberlain e dos 16 do sueco Clarence Von Rosen Jr.

Da glória em Los Angeles à morte durante a II Guerra Mundial passaram apenas treze anos. Nishi fazia parte da armada japonesa que defendia a ilha de Iwo Jima e acabou por morrer durante a célebre batalha com os norte-americanos em 1945.

Os Estados Unidos sabiam que Nishi era um dos importantes elementos na ilha e tentaram, sem sucesso, a sua rendição. As teorias sobre a sua morte dividem-se entre fogo de uma metralhadora e fogo de um lança-chamas, e o único facto indiscutível é que o histórico campeão olímpico morreu naquela ilha.

Mais de 60 anos depois, Takeichi Nishi, que continua a ser o único japonês a conquistar um título olímpico no equestre, foi imortalizado num filme de Clint Eastwood: Cartas de Iwo Jima. No mesmo ano, o realizador também abordou a batalha aos olhos americanos, com a película As Bandeiras dos Nossos Pais.

04 de Março, 2020

O curioso caso de Stanislawa Walasiewicz

Especial Jogos Olímpicos (Los Angeles-1932)

Rui Pedro Silva

Stanislawa Walasiewicz

Foi campeã olímpica dos 100 metros em Los Angeles-1932 com um novo recorde mundial e ganhou uma medalha de prata na mesma prova, quatro anos depois. Era uma atleta dominadora e viveu durante anos como uma mulher de plenos direitos. Mas a autópsia em 1980 revelou pormenores diferentes.

Nasceu a 3 de abril de 1911 na Polónia mas viveu desde os três meses nos Estados Unidos. Em Cleveland, no estado do Ohio, cresceu com uma grande ligação ao atletismo e não precisou de muito tempo para demonstrar que tinha qualidade para fazer a diferença. Por outro lado, como continuava a ser legalmente polaca, não podia competir na maior parte das provas.

Em 1932, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, apareceu na comitiva polaca. Os 21 anos acabados de fazer já lhe permitiam representar os Estados Unidos – e esteve perto de acontecer – mas decidiu ser fiel ao país que a viu nascer e que tanto a apoiou enquanto dava os primeiros passos como atleta.

Stanislawa era uma verdadeira heroína na Polónia e ainda mais se tornou depois de conquistar a medalha de ouro nos 100 metros e igualar o recorde mundial de 11,9 segundos. Recebida com pompa e circunstância, manteve-se fiel à Polónia, recebeu várias distinções e menções honrosas, e surgiu novamente em Berlim-1936, para conquistar a medalha de prata nos 100 metros. O título fugiu para Helen Stephens por apenas dois centésimos.

A comitiva polaca não gostou da vitória de Stephens e exigiu que fosse realizado um teste para garantir que a norte-americana era mesmo uma mulher. E era.

Com a carreira olímpica encerrada e a sucessão de acontecimentos na Europa que levariam à II Guerra Mundial, Stanislawa Walasiewicz regressou definitivamente aos Estados Unidos, venceu vários campeonatos e tornou-se finalmente uma cidadã norte-americana em 1947, passando a responder pelo nome de Stella Walsh.

A 4 de dezembro de 1980, praticamente cinco décadas depois dos seus maiores momentos de glória, Stella foi assassinada durante um assalto num parque de estacionamento em Cleveland. Tinha 69 anos e uma história por contar. De acordo com a autópsia realizada, foi confirmado que a antiga atleta não tinha útero, possuía uma uretra invulgar e um pénis subdesenvolvido e sem funcionalidade. O médico-legista chegou à conclusão de que Stella era, de facto, intersexual.

A novidade não teve consequências práticas. Todos os documentos apontavam que era uma mulher e, de facto, Stella sempre viveu social, cultural e legalmente como uma mulher, sublinhou o médico. O Comité Olímpico Internacional não interveio perante os novos dados e, ainda hoje, 88 anos do título, Stanislawa Walasiewicz continua a figurar na lista de medalhados de Los Angeles-1932.

03 de Março, 2020

Matti Järvinen. O finlandês que passeou no lançamento do dardo

Especial Jogos Olímpicos (Los Angeles-1932)

Rui Pedro Silva

Matti Järvinen

Filho de atleta olímpico medalhado e irmão de atleta olímpico medalhado, Matti tornou-se o melhor desportista da família Järvinen com um desempenho esmagador no lançamento do dardo durante os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932. A medalha de ouro nunca esteve em risco: qualquer um dos cinco lançamentos que fez seriam suficientes para terminar no primeiro lugar.

Primeiro veio Verner Järvinen, nascido em abril de 1870. O atleta de sangue azul representou a Finlândia nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1908, e garantiu uma medalha de bronze no lançamento do disco. Depois, em 1928, foi a vez de Akilles Järvinen, o segundo filho, fazer a diferença em Jogos e ganhar a medalha de prata no decatlo em Amesterdão.

Quatro anos depois, os descendentes da família Järvinen viajaram para Los Angeles em peso. O mais velho, Kalle, participou no lançamento do peso mas não foi além do 12.º lugar. O do meio, Akilles, repetiu a proeza de Amesterdão e reconquistou a medalha de prata. O mais novo, Matti, teve um desempenho absolutamente irrepreensível e garantiu a tão ansiada medalha de ouro para os Järvinen, no lançamento do dardo.

A disciplina continua a ter na Finlândia a sua grande potência praticamente 100 anos depois, mas dificilmente poderá haver uma prova olímpica com uma demonstração de supremacia tão grande como a de Matti Järvinen em Los Angeles. Campeão olímpico com uma marca de 72,71 metros, fez um total de cinco lançamentos sempre acima dos 70 metros que serviriam para terminar com a medalha de ouro. O segundo classificado, o seu compatriota Matti Sippala, não foi além dos 69,80 metros e a medalha de bronze foi para outro finlandês, Eino Pentillä, com 68,70 metros.

Matti Järvinen tornou-se uma das figuras olímpicas mais famosas da Finlândia e foi devidamente homenageado no processo de construção do Estádio Olímpico de Helsínquia, que acolheu a prova em 1952. A torre do estádio está precisamente a 72,71 metros de altura, recordando a marca com que o título foi alcançado em 1932.

A superioridade do finlandês não chegou a Berlim, em 1936, mas foi nesse ano que bateu o recorde do mundo da disciplina pela última vez, com um total de 77,23 metros. A acompanhá-lo durante todo este período houve uma curiosidade: Matti competia sempre com calças de fato de treino e nunca de calções.

02 de Março, 2020

Babe Didrikson. A atleta mais completa na história do desporto?

Especial Jogos Olímpicos (Los Angeles-1932)

Rui Pedro Silva

Babe Didrikson

Participou em jogos de exibição da Major League Baseball, era uma basquetebolista cheia de talento e conquistou um total de dez majors no golfe. Mas o primeiro momento de glória chegou nos Jogos Olímpicos de 1932, em Los Angeles, ao tornar-se a primeira – e única – atleta (mulher ou homem) a conquistar medalhas no atletismo nas variantes de corridas, saltos e lançamentos.

É uma daquelas perguntas que volta e meia aparecem em concursos de conhecimento geral: em que três categorias se dividem as provas de atletismo? A resposta correta está dada no primeiro parágrafo: corridas, saltos e lançamentos. São semelhantes o suficiente para fazer parte da mesma modalidade mas garantidamente distintas para impedir que haja quem consiga ser um atleta de excelência em todas.

Os participantes do decatlo e do heptatlo não têm tendência para ganhar individualmente – houve apenas um caso na história olímpica – e são poucos os que conseguem juntar medalhas em duas das três variantes. Os que existem, como Jesse Owens e Carl Lewis, são imortalizados como dos melhores de sempre.

Em 1932, em Los Angeles, Babe Didrikson escreveu uma página ímpar na história do desporto e dos Jogos Olímpicos. Descendente de noruegueses, com uma infância cheia de rebeldia e pouco atino nos estudos, Mildred Didrikson tornou-se uma lenda entre norte-americanos. A atleta de 21 anos ganhou a medalha de ouro nos 80 metros barreiras – com novo recorde do mundo de 11,7 segundos -, o título olímpico no lançamento do dardo e a medalha de prata no salto em altura.

Na única prova que não venceu, conseguiu forçar um desempate com Jean Shiley e só perdeu depois de a organização ter invalidado uma técnica utilizada para ultrapassar a fasquia primeiramente com a cabeça.

A glória olímpica catapultou a carreira desportiva de Babe Didrikson. O nome após casamento – Babe Zaharias – tornou-se mais conhecido e hoje continua a ser apontado como o da atleta mais completa na história do desporto. A mulher, capaz de ganhar um torneio de atletismo por equipas sem uma única colega, evidenciou-se em todas as modalidades que tentou mas foi no golfe que deixou um legado mais imponente, vencendo dez vezes os torneios mais importantes.

Em 1956, com 45 anos e apenas dois anos depois de ter vencido o US Women’s Open pela terceira vez, morreu vítima de um cancro do cólon.

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