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É Desporto

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06 de Março, 2020

Volmari Iso-Hollo. Ganhar os 3000 metros obstáculos… no prolongamento

Especial Jogos Olímpicos (Los Angeles-1932)

Rui Pedro Silva

Volmari Iso-Hollo

Finlandês acabou a carreira com quatro medalhas olímpicas, divididas entre Los Angeles-1932 e Berlim-1936. Se nos 10 000 metros não conseguiu chegar ao lugar mais alto do pódio (prata e bronze), nos 3000 metros obstáculos nunca encontrou concorrência à altura. O triunfo de 1932 é, ainda assim, parte de uma das histórias mais insólitas e rocambolescas da vida olímpica.

Los Angeles, estádio olímpico, 1 de agosto de 1932. Há 15 atletas com aspirações de vencer a prova dos 300 metros mas só dez terão acesso à final. Na primeira série, o britânico Tom Evenson estabeleceu um nove recorde olímpico com o tempo de 9:18.8. Dos sete inscritos, o argentino Luis Oliva não termina a prova e o sexto classificado, o francês Roger Vigneron, é eliminado com um tempo de 9:57.0.

A segunda série tem o futuro campeão, o finlandês Volmari Iso-Hollo. Com um tempo de 9:14.6, garante que o recorde olímpico volta a ser batido e leva mais quatro participantes para a final consigo. O irlandês Sonny Murphy e o canadiano Harold Gallop desistem durante a prova e o italiano Alfredo Furia não apareceu furioso o suficiente e foi eliminado depois de registar 10:11.0.

O domínio do finlandês, que ganhou a segunda série com apenas dois décimos de vantagem, subiu de tom na final, disputada no dia seguinte. Por outro lado, ganhou a medalha de ouro com um tempo de 10:33.4. Feitas as contas, até Furia teria conseguido vencer o título com o tempo da véspera.

O que se passou? O que pode sequer ter justificado este tempo, para que a vitória fosse conseguida com praticamente mais 80 segundos do que na véspera? Desgaste? Mau tempo? A resposta é insólita e difícil de acreditar mas foi uma corrida com… prolongamento.

Reza a história que o responsável por fazer tocar a campainha de última volta à pista estava desatento ao ver as provas do decatlo, pelo que Iso-Hollo e companhia foram obrigados a fazer mais do que os regulamentares 3000 metros obstáculos. Quando se aperceberam era demasiado tarde e o finlandês só cortou a meta depois de percorrer… 3460 metros.

A vitória de Iso-Hollo nunca estaria em causa – a vantagem era demasiado grande – mas o recorde mundial poderia ter sido batido. Por outro lado, Joe McCluskey passou a marca dos 3000 metros na segunda posição e acabou por ganhar apenas a medalha de bronze depois de ter sido ultrapassado pelo britânico Tom Evenson no… prolongamento.

Quatro anos depois, sem fugas ao apertado guião nazi, Iso-Holla revalidou o título olímpico com «apenas» 3000 metros corridos. Registou um tempo de 9:03.8 e estabeleceu um novo recorde mundial. Veio tarde, mas chegou.

06 de Março, 2020

Kusuo Kitamura. O jovem imberbe que nadou até fazer história

Especial Jogos Olímpicos (Los Angeles-1932)

Rui Pedro Silva

Kusuo Kitamura

A seleção de natação do Japão que apareceu em Los Angeles, nos Jogos Olímpicos de 1932, estava preparada para fazer história. O balanço final não deixa dúvidas: 12 das 18 medalhas conquistadas no evento foram nessa modalidade. Entre os campeões, houve um que se destacou – Kusuo Kitamura ganhou os 1500 metros com apenas 14 anos e 309 dias.

O Japão ficou no topo do medalheiro da natação em Los Angeles-1932, com cinco medalhas de ouro, cinco de prata e duas de bronze, num total de 12. Os Estados Unidos, crentes na sua superioridade hereditária, alcançaram o mesmo número de títulos mas ficaram aquém no total acumulado de pódios (10).

O fracasso norte-americano levou a algumas declarações surreais para tentar justificar a simples superioridade nipónica nesta edição. As palavras são do treinador olímpico dos Estados Unidos, Bob Kiphuth, no ano seguinte: «Eles [japoneses] são de uma nação sem cadeiras. Seja para comer ou para se sentarem, agacham-se desde os primeiros dias da vida, com as pernas por baixo do colo. As pernas são sempre flexíveis, sempre fortes como o aço».

A justificação não explica verdadeiramente o fator-surpresa daquela edição. E menos ainda o impacto que Kusuo Kitamura provocou ao vencer os 1500 metros livres com menos de 15 anos (14 anos e 309 dias). O nipónico tornou-se o campeão olímpico individual de natação mais novo da história e assim se manteve até ser batido pela húngara Krisztina Egerszegi em 1988. Hoje, 88 anos depois do título, Kitamura continua a ser o campeão olímpico individual de uma prova de natação masculina mais novo. E as regras já nem permitem que a marca seja batida.

O jovem imberbe que nadava sem se cansar precisou de 19:12.04 para cumprir a distância dos 1500 metros. Não foi o suficiente para bater o recorde do mundo mas fixou um novo máximo olímpico e terminou com praticamente dois segundos de vantagem sobre… um japonês – Shozo Makino. O melhor norte-americano, Jim Cristy, fechou o acesso às medalhas mas precisou de mais 27 segundos do que Kitamura.