Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

É Desporto

É Desporto

04 de Fevereiro, 2020

Ahlgren vs. Böhling. A final que ninguém conseguiu ganhar

Especial Jogos Olímpicos (Estocolmo-1912)

Rui Pedro Silva

Anders Ahlgren em ação

Um dos momentos mais insólitos na história dos Jogos Olímpicos aconteceu numa das finais de luta greco-romana. O sueco Anders Ahlgren e o finlandês Ivar Böhling engalfinharam-se durante nove horas de combate sem conseguirem qualquer tipo de vantagem e obrigaram a organização a declarar o empate e a dividir a medalha de… prata.

É um duelo com tiques de western americano. Até ao pôr-do-sol, vale tudo e só um ficará de pé. Ou pelo menos assim se pensava. A luta greco-romana em Estocolmo-1912 trouxe momentos verdadeiramente épicos e a final entre Ahlgren e Böhling foi apenas uma delas. Numa outra categoria, Martin Klein precisou de onze horas e 40 minutos para derrotar Alfred Asikainen. A recompensa foi fugaz: garantiu um lugar na final mas estava demasiado exausto para sequer comparecer no combate contra o sueco Claes Johanson.

Anders Ahlgren e Ivar Böhling alcançaram a final muito mais folgados. Tinham passado, com maior ou menor dificuldade, durante as eliminatórias anteriores e adivinhava-se um belo duelo. Mas ninguém, nem mesmo os mais pessimistas, julgou ser possível estar em competição durante nove horas sem haver um vencedor.

«Infelizmente, nesta competição houve um desfecho em que não possível atribuir uma medalha de ouro», lamenta o relatório oficial da edição de 1912 dos Jogos Olímpicos. E vai mais longe: «Ahlgren e Böhling demonstraram ser mestres da técnica e detentores de tal força no corpo que o combate durou nada mais nada menos que nove horas e, após serem aplicadas os regulamentos especiais para estes casos, foi declarado um empate».

O empate anulou a possibilidade de ser atribuída a medalha de ouro, uma vez que o regulamento dizia claramente que o campeão olímpico terá de derrotar o seu adversário. Assim, o bloqueio de Ahlgren e Böhling prosseguiu na cerimónia do pódio, com ambos os atletas a receber a medalha de prata.

04 de Fevereiro, 2020

Pierre de Coubertin. Quando a medalha de ouro saiu à casa

Especial Jogos Olímpicos (Estocolmo-1912)

Rui Pedro Silva

Pierre de Coubertin

Os Jogos Olímpicos nem sempre foram exclusivamente de desporto. Em 1912, nas competições de arte, o título na categoria de literatura foi entregue ao… presidente do Comité Olímpico Internacional, o barão Pierre de Coubertin, pelo poema «Ode ao Desporto».

É o pai do movimento olímpico e foi o segundo homem a tomar posse na presidência da organização, mas os testemunhos de que era alguém com uma personalidade volátil e pouco profissional (no sentido específico do desportivismo) não são raros.

Em 1912, em Estocolmo, o barão Pierre de Coubertin deu nas vistas e foi para casa com uma medalha de ouro. Não, o pai dos Jogos Olímpicos modernos não era atleta, muito menos com 49 anos. Mas beneficiou do facto de ter sido criada uma componente extra para premiar artistas e decidiu concorrer na prova de literatura com um poema intitulado «Ode ao Desporto».

A estreia desta faceta promoveu a imortalidade de Walter Winans – o primeiro atleta da história a ganhar medalhas em modalidades (tiro em 1908) e artes (escultura em 1912) -, mas também abriu espaço para que Georges Hohrod e Martin Eschbach, a representar a Alemanha, vencessem a medalha de ouro na literatura.

E quem eram mesmo Hohrod e Eschbach? Nada mais nada menos do que dois pseudónimos de Pierre de Coubertin. Por muito que o objetivo fosse esconder a verdadeira autoria da ode, a medalha de ouro saiu à casa e premiou quem tudo tentou fazer para tirar o olimpismo da gaveta.