O último fôlego de uma Oberliga em descalabro
A reunificação oficial das Alemanhas aconteceu a 3 de outubro de 1990. Por essa altura, já a última edição da Oberliga tinha começado, muito diferente daquilo que tinha sido até então. Os melhores jogadores tinham saído para as equipas da Bundesliga, as assistências desceram a pique e os casos de violência multiplicaram-se. O último adeus do futebol da RDA foi tudo menos positivo.
Andreas Thom foi o primeiro futebolista da RDA a sair para a Bundesliga, trocando o Dínamo Berlim pelo Bayer Leverkusen em dezembro de 1989. Thomas Doll e Frank Rohde foram juntos do clube da capital para o Hamburgo. Ulf Kirsten e Matthias Sammer trocaram o Dínamo Dresden por Bayer Leverkusen e Estugarda, respetivamente.
O êxodo em massa de jogadores da RDA para a RFA não se limitou aos melhores jogadores. Como tubarões em água cheia de sangue, os clubes da Bundesliga tinham os alvos definidos e nem as academias de formação das equipas de leste, de comprovada qualidade, escaparam. Assim, de uma temporada para a outra, o declínio de qualidade da Oberliga foi catastrófico.
Os dois Dínamos mais famosos sofreram as consequências na pele mas o problema foi transversal. Enquanto o mundo lá fora parecia mudar para melhor, o futebol dentro de campo tinha cada vez menos atrativos. Os primeiros jogadores estrangeiros – o guarda-redes húngaro Peter Disztl e o defesa norte-americano Paul Caligiuri – não foram suficientes para estancar a hemorragia de qualidade e as médias de espetadores ressentiram-se. Mais não seja porque o preço dos bilhetes em alguns estádios mais do que quintuplicou.
A Oberliga tornou-se um recinto para o hooliganismo e os confrontos. Os casos não eram inéditos – em épocas anteriores a RDA já se tinha deparado com o aumento de casos de violência envolvendo adeptos de futebol -, mas alguns tiveram proporções especiais, como o abandono de um encontro entre o Sachsen Leipzig e o Carl Zeiss Jena após confrontos nas bancadas.
As 14 equipas presentes na última edição do campeonato da RDA lutavam pela sobrevivência. A reestruturação dos quadros competitivos já estava definida para a futura fusão com o lado ocidental e não era muito amigável: os dois primeiros integrariam a Bundesliga em 1991/1992, os seis seguintes iam para a segunda divisão nacional e os últimos seis iam diretos para o futebol amador.
Os dados estatísticos confirmam as naturais consequências deste desastre anunciado: a média de golos (2,25) foi a terceira mais baixa na história da Oberliga e no caráter disciplinar houve uma absurdidade – para a época – de 29 cartões vermelhos e 544 amarelos durante as 26 jornadas.
O Hansa Rostock, orientado por um estrangeiro (Uwe Reinders, da Alemanha Ocidental), surpreendeu a concorrência e conquistou o seu primeiro título. Com uma lotação média pouco superior a 10 mil espetadores – recorde-se que nos primórdios do futebol na RDA chegou a haver jogos com assistências superiores a 100 mil pessoas -, o interesse na festa do título foi praticamente nulo.
Sem avisar ninguém, os jogadores passearam pelas ruas da cidade dentro de uma moto e oito carros enquanto eram celebrados por… absolutamente ninguém, exceto um polícia à beira de um ataque de nervos com a marcha-lenta.
O último fôlego da Oberliga foi o reflexo perfeito do estado da RDA: tinha-se tornado insustentável e estava destinada a acabar.