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É Desporto

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06 de Novembro, 2019

A «crise suína» que fez história pela negativa na Oberliga

Rui Pedro Silva

Jimmy Hartwig foi estrela dentro de campo. Fora dele... nem por isso

Não era fácil vir de fora e fazer uma integração tranquila nos meandros do futebol da República Democrática da Alemanha. Em 1990, a velha glória da RFA, Jimmy Hartwig, assumiu o comando do Sachsen Leipzig e não aguentou mais do que alguns meses. Pelo meio, um insulto ao árbitro Siegfried Kirschen deu azo ao único jogo abandonado na história da Oberliga.

Os clubes da RDA não tinham argumentos para estancar a hemorragia de qualidade nos seus plantéis mas cedo perceberam que podia haver outra forma de melhorar os resultados, alterando a metodologia e o conhecimento através da contratação de treinadores estrangeiros. O Hansa Rostock abriu as festividades com a contratação de Uwe Reinders, enquanto o Sachsen Leipzig decidiu seguir o mesmo caminho com Jimmy Hartwig.

Este segundo era um homem com um nome sonante na Europa do futebol. Enquanto futebolista, tinha dado nas vistas durante as seis épocas que representou o Hamburgo (1978 a 1984), conquistando uma Taça dos Campeões Europeus e três campeonatos alemães, para além de mais três finais europeias.

A lógica dos dirigentes do Sachsen Leipzig era percetível. A experiência nos meandros do futebol poderia fazer a diferença num campeonato que estivera fechado ao mundo exterior durante demasiadas décadas. É certo que Hartwig não tinha grande currículo como treinador – apenas uma curta passagem pelo Augsburgo -, mas a aposta valia a pena.

Spoiler alert: não valeu. Contratado em julho de 1990, Hartwig não foi além da sexta jornada. Com três vitórias, um empate e uma derrota nos cinco primeiros jogos, nem se pode dizer que o começo tenha sido mau. Olhando para a tabela, o clube de Leipzig estava na segunda posição a apenas um ponto do Hansa Rostock, curiosamente a outra equipa treinada por um alemão ocidental.

Mas a aventura não se contabiliza apenas com os resultados alcançados dentro de campo. Hartwig nunca conseguiu compreender verdadeiramente as vicissitudes da RDA e da Oberliga. Nem tinha paciência para tal. Por isso, a receção ao Carl Zeiss Jena a 29 de setembro, no jogo a contar para a sexta jornada, foi a gota de água.

O Sachsen Leipzig estava a perder 0-1, já nos últimos minutos da segunda parte, quando Hartwiz chamou «pequeno porco» ao árbitro Siegfried Kirschen. Os ânimos ficaram exaltados nas bancadas – apesar de haver pouco mais de cinco mil pessoas – e a decisão do juiz da partida foi dar o jogo por encerrado, abrindo assim espaço para o primeiro e único jogo na história da Oberliga a não chegar ao fim.

Até lá, o futebol da RDA tinha resistido a invasões de campo, insultos, arbitragens comprovadamente inclinadas e ataques aos autocarros das equipas adversárias mas, no final de 1990, com a unificação das Alemanhas já votada no parlamento, a estrutura estava a cair de podre.

Na jornada seguinte, em outubro (mês da unificação oficial), Jimmy Hartwig já não se sentou no banco do Sachsen Leipzig. A federação banira-o do banco de suplentes e a direção do clube decidiu terminar o contrato com a velha glória do futebol alemão. Foi a última experiência que teve como treinador.