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É Desporto

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03 de Novembro, 2019

RDA. O dia em que caiu o pano sobre a seleção

Rui Pedro Silva

Um onze que ficou para a história

Foi a crónica de uma morte anunciada. A unificação das Alemanhas tinha sido votada e estava agendada para outubro, por isso aquele jogo na Bélgica já não ia contar para nada. Serviu para sair de cena com o orgulho imaculado, uma geração que prometia e uma vitória. Foi o 293.º jogo na história da seleção da RDA. Foi o último.

O sorteio da UEFA, realizado em fevereiro de 1990, tinha ditado que República Federal da Alemanha e República Democrática da Alemanha se iriam defrontar na fase de qualificação para o Euro-1992, juntamente com País de Gales, Bélgica e Luxemburgo. O muro já tinha caído e a indefinição política mantinha em aberto qualquer cenário desportivo mas, em agosto do mesmo ano, deixou de haver probabilidades, apenas uma certeza.

O parlamento da RDA votou a reunificação com a RFA para 3 de outubro e deixou de fazer sentido haver duas seleções. O grupo de qualificação para o Euro-1992 ia ficar órfão de uma equipa e a primeira jornada, marcada para 12 de setembro, deixava de fazer sentido.

O Bélgica-RDA disputou-se na mesma. Deixou de ser um jogo oficial mas ganhou um peso simbólico ainda mais importante. Ia ser o 293.º e derradeiro encontro na história da República Democrática da Alemanha. Se a RDA vacilou quase sempre nos momentos decisivos de apuramento, naquela noite mostrou que estava determinada em dizer adeus com estilo.

A geração era uma das melhores de sempre, garantiam os críticos. Mas houve quem nem tenha aparecido para o fim de cena. O selecionador Eduard Geyer foi forçado a apresentar uma equipa sem talentos como Ulf Kirsten, Andreas Thom e Thomas Doll, tudo jogadores que tinham abandonado clubes da RDA e já jogavam na RFA.

Sobrou Matthias Sammer. Até à última, o já jogador do Estugarda representou com orgulho as três letrinhas da camisola (DDR, de Deutsche Democratische Republic) e envergou a braçadeira de capitão no derradeiro jogo. O futuro campeão europeu – e primeiro jogador de leste a ser titular na Alemanha unificada – fez ainda mais do que isso, marcando os dois golos com que a seleção da RDA derrotou a Bélgica de Preud’Homme, Enzo Scifo, Jan Ceulemans e companhia.

A RDA alinhou com Jens Schmidt (Jens Adler), Heiko Peschke, Jörg Schwanke, Andreas Wagenhaus, Detlet Schössler, Matthias Sammer, Jörg Stubner (Stefan Böger), Darius Wosz, Heiko Bonan, Heiko Scholz (Torsten Kracht) e Uwe Rösler. E garantiu a criação de alguns factos que têm tanto de históricos como de invulgares.

O jogo pode ter sido o adeus da RDA, mas para os guarda-redes Jens Schmidt e Jens Adler, e para o defesa Jörg Schwanke, foi o primeiro e único encontro pela seleção. No caso de Adler, a carreira internacional é ainda mais caricata: jogou apenas um minuto, o último do seu país.

Daqueles 14 jogadores, apenas três acabaram por ser internacionais pela Alemanha: Matthias Sammer, Dariusz Wosz e Heiko Scholz.