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É Desporto

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31 de Outubro, 2019

Jacek Mencel. O primeiro futebolista estrangeiro na RDA

Rui Pedro Silva

Jacek Mencel (à direita) também jogou no Hansa Rostock

Queda do Muro de Berlim acabou com as restrições na movimentação de jogadores mas fluxo de saída foi muito maior do que o de entrada. Se é certo que os maiores talentos da RDA estavam desejosos de cruzar a fronteira e jogar na Bundesliga, não se pode dizer que o futebol da Alemanha de Leste fosse um chamariz para estrangeiros. O polaco Jacek Mencel entrou na história… mas foi direto para a segunda divisão.

O futebol em 1990 era radicalmente diferente do que é hoje. A livre circulação de jogadores faz com que rara seja a equipa que não tenha pelo menos um estrangeiro e os adeptos já se habituaram a esta banalização. É normal que um futebolista procure outras paragens se isso significar mais dinheiro, melhores condições de vida ou simplesmente um campeonato mais competitivo.

Quando o Muro de Berlim caiu em 1989, o burburinho foi imediato. Os principais talentos da República Democrática da Alemanha soltaram as amarras e foram à procura das melhores oportunidades. Dínamo Dresden, Dínamo Berlim e muitas outras equipas viram os plantéis dizimados e sentiram grandes dificuldades em manter – ou simplesmente mitigar – a queda de qualidade. Recrutar no estrangeiro passou a ser uma possibilidade mas… quem é que estava interessado em ir jogar futebol para a RDA?

O pioneiro foi um avançado polaco chamado Jacek Mencel. Nascido em maio de 1966, jogava no Pogon Szczecin e foi parar a Berlim para representar o Union, equipa que atuava na segunda divisão da RDA. A 18 de março de 1990, menos de cinco meses depois da queda do muro, foi utilizado na deslocação ao terreno do Bergmann Borsig e fez história… a dobrar.

Mencel não só foi o primeiro futebolista estrangeiro a representar uma equipa da RDA como decidiu assinalar o momento com dois golos. Até ao final da época, marcou mais oito e demonstrou ser uma aposta justificável pelos dirigentes do Union Berlim, abrindo caminho a que outras equipas pudessem fazer o mesmo.

Foi precisamente isso que aconteceu na época seguinte, já na Oberliga. Na derradeira temporada do campeonato de elite da RDA, o guarda-redes húngaro Peter Disztl, com experiência internacional de alto nível, foi contratado pelo Rot-Weiss Erfurt e estreou-se na goleada (4-0) ao FC Berlim (antigo Dínamo), a 11 de agosto de 1990. Pouco mais de um mês depois foi a vez do norte-americano Paul Caligiuri ser utilizado no empate entre o futuro campeão Hansa Rostock e o HFC Chemie.

A tendência não teve tempo para ser consolidada. A reunificação das Alemanhas deu-se em outubro de 1990 e a temporada seguinte já ficou marcada por uma união das equipas numa única estrutura profissional. A Oberliga caiu no esquecimento e a Bundesliga tornou-se um viveiro de grandes talentos… nacionais e internacionais.