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É Desporto

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16 de Outubro, 2019

Nachtweih. O fugitivo que teve sucesso no Ocidente

Rui Pedro Silva

Nachtweih (de vermelho) em ação

Muitos tentaram, poucos conseguiram, e entre os que tiveram sucesso foram muito poucos aqueles que partiram para uma carreira positiva. A exportação indesejada de futebolistas da RDA foi uma tendência durante décadas, mas as tradicionais suspensões por uma temporada fizeram com que muitos jogadores perdessem o ritmo e não fossem capazes de se reencontrar. Norbert Nachtweih fugiu a esta tendência dramática e é visto como o caso de maior sucesso.

Não há uma razão única para caracterizar ou justificar as chamadas «fugas da República». Foi uma tendência transversal à sociedade da Alemanha Oriental e não escolhia idades, géneros ou profissões. Queriam ser livres, ter mais direitos, queriam reencontrar familiares que não viam há anos ou ter uma carreira mais promissora.

Os jogadores de futebol eram um caso peculiar. Por um lado, eram vistos como heróis e tinham benesses que não estavam ao alcance do comum alemão de leste; por outro representavam um risco muito maior à conta da quantidade de vezes que viajavam para o estrangeiro, sendo expostos a um mundo desconhecido e inevitavelmente mais atrativo.

Os cuidados da Stasi antes de cada viagem e a multiplicação de casos fizeram com que, a certa altura, na década de 80, os jogadores começassem a ser proibidos de ficar nos três primeiros andares dos hotéis no estrangeiro. A razão? Impedir qualquer tentação de haver um salto pela varanda rumo a outra liberdade.

Em novembro de 1976, na Turquia, muitas das condicionantes ainda não estavam em plena implementação. Lutz Eigendorf – o caso mais famoso de fuga, muito por culpa do seu trágico fim – ainda não tinha fugido e a seleção jovem não era propriamente um foco de maior atenção.

Entre a comitiva dos sub-21 da RDA estavam Norbert Nachtweih e Jürgen Pahl, os dois jogadores que fugiriam para o Ocidente. O primeiro representava o Chemie Halle e estava longe de ser uma das figuras proeminentes da Oberliga. Estreara-se em maio de 1975 e só agora começava verdadeiramente a despontar, com dois golos nos primeiros dez jogos da temporada 1976/1977.

Hoje, Nachtweih não é famoso como Eigendorf, Sparwasser e Lippmann – casos de fuga mais mediáticos no mundo do futebol – mas será sempre recordado como a exportação de maior sucesso da RDA. Mesmo contra vontade.

As razões da fuga da República foram expostas sem divagações. O jogador reconhecia a qualidade no desenvolvimento dos jovens talentos na RDA mas não concordava com o modelo: «Tudo tem de correr de acordo com o plano, o individualismo não conta para nada».

Em Frankfurt, no Eintracht, Nachtweih encontrou um modelo que se ajustava melhor aos seus desejos e nem o ano de suspensão da FIFA impediu que se tornasse um jogador de grande qualidade. Em 1982, já depois de conquistar uma Taça UEFA e uma Taça da RFA, deu o salto para o Bayern Munique e teve sete anos ao mais alto nível.

Foi campeão da Bundesliga em quatro edições, conquistou mais duas Taças da RFA e só não venceu a Taça dos Campeões Europeus em 1987 porque encontrou o FC Porto de Futre, Madjer e Juary na final.

Quando o Muro de Berlim caiu em novembro de 1989, já Nachtweih vivia nova experiência no estrangeiro, ao serviço do Cannes, onde esteve durante duas temporadas e jogou ao lado de… Zinedine Zidane.