Jacek Mencel. O primeiro futebolista estrangeiro na RDA
Queda do Muro de Berlim acabou com as restrições na movimentação de jogadores mas fluxo de saída foi muito maior do que o de entrada. Se é certo que os maiores talentos da RDA estavam desejosos de cruzar a fronteira e jogar na Bundesliga, não se pode dizer que o futebol da Alemanha de Leste fosse um chamariz para estrangeiros. O polaco Jacek Mencel entrou na história… mas foi direto para a segunda divisão.
O futebol em 1990 era radicalmente diferente do que é hoje. A livre circulação de jogadores faz com que rara seja a equipa que não tenha pelo menos um estrangeiro e os adeptos já se habituaram a esta banalização. É normal que um futebolista procure outras paragens se isso significar mais dinheiro, melhores condições de vida ou simplesmente um campeonato mais competitivo.
Quando o Muro de Berlim caiu em 1989, o burburinho foi imediato. Os principais talentos da República Democrática da Alemanha soltaram as amarras e foram à procura das melhores oportunidades. Dínamo Dresden, Dínamo Berlim e muitas outras equipas viram os plantéis dizimados e sentiram grandes dificuldades em manter – ou simplesmente mitigar – a queda de qualidade. Recrutar no estrangeiro passou a ser uma possibilidade mas… quem é que estava interessado em ir jogar futebol para a RDA?
O pioneiro foi um avançado polaco chamado Jacek Mencel. Nascido em maio de 1966, jogava no Pogon Szczecin e foi parar a Berlim para representar o Union, equipa que atuava na segunda divisão da RDA. A 18 de março de 1990, menos de cinco meses depois da queda do muro, foi utilizado na deslocação ao terreno do Bergmann Borsig e fez história… a dobrar.
Mencel não só foi o primeiro futebolista estrangeiro a representar uma equipa da RDA como decidiu assinalar o momento com dois golos. Até ao final da época, marcou mais oito e demonstrou ser uma aposta justificável pelos dirigentes do Union Berlim, abrindo caminho a que outras equipas pudessem fazer o mesmo.
Foi precisamente isso que aconteceu na época seguinte, já na Oberliga. Na derradeira temporada do campeonato de elite da RDA, o guarda-redes húngaro Peter Disztl, com experiência internacional de alto nível, foi contratado pelo Rot-Weiss Erfurt e estreou-se na goleada (4-0) ao FC Berlim (antigo Dínamo), a 11 de agosto de 1990. Pouco mais de um mês depois foi a vez do norte-americano Paul Caligiuri ser utilizado no empate entre o futuro campeão Hansa Rostock e o HFC Chemie.
A tendência não teve tempo para ser consolidada. A reunificação das Alemanhas deu-se em outubro de 1990 e a temporada seguinte já ficou marcada por uma união das equipas numa única estrutura profissional. A Oberliga caiu no esquecimento e a Bundesliga tornou-se um viveiro de grandes talentos… nacionais e internacionais.