Roménia-Namíbia. A migalha que alimentou toda a Tasmânia
Era o jogo menos esperado do Mundial da Austrália em 2003 mas a decisão de ser disputado na Tasmânia, a ilha do sudeste do país que nunca tinha organizado um jogo oficial de râguebi, abriu caminho para tornar o encontro uma festa. A população correspondeu em peso, a mayor… nem por isso.
Roménia e Namíbia não passavam de pesos plumas entre os grandes do râguebi internacional. Os resultados no grupo A ajudam a perceber isso: a Roménia perdeu 17-45 com a Irlanda, 8-90 com a Austrália e 3-50 com a Argentina, enquanto a Namíbia sofreu pesados desaires com a Argentina (14-67), a Irlanda (7-64) e Austrália (0-142!).
Quando as duas seleções se defrontaram a 30 de outubro, não haveria muito mais do que o orgulho em jogo. Uma delas poderia sair na mó de cima, agarrando-se à última memória de uma prova que teve pesadelo atrás de pesadelo.
Mas a organização arranjou uma forma de dar um brilho especial ao encontro, marcando-o para Launceston, na Tasmânia, a ilha do sudeste da Austrália que só estava habituada a ver jogos de Aussie Rules e que tinha num cortador de lenha o seu maior herói… desportivo.
O Roménia-Namíbia tornou-se um caso de orgulho territorial. O governo investiu dois milhões de dólares para construir uma cobertura para seis mil lugares, alargando a proteção da chuva e do sol a praticamente toda a lotação de 20 mil, e estabeleceu uma campanha para promover o interesse da população chamada «Odds and Evens».
O que era esta «Ímpares e Pares»? Uma forma de garantir que não havia uma única pessoa ou estabelecimento comercial que não se dedicasse ao jogo de forma apaixonada. A campanha pedia a que quem celebrasse o aniversário num dia ímpar torcesse pela Roménia. No caso das lojas, o que fazia a diferença era o número da rua. Desse por onde desse: ímpares eram romenos, pares eram namibianos.
A estratégia resultou em pleno e o estádio contou com 15457 espetadores. Não serviu para evitar a assistência mais baixa do Mundial da Austrália, mas não deixou de ser um valor muito acima do que o encontro teria numa outra cidade, sem esta preocupação tão cuidada de garantir que nada faltava.
O jogo – ganho confortavelmente pela Roménia (37-7) – não foi um motivo de interesse para toda a gente. Estranhamente, a própria mayor da Tasmânia, Janie Dickenson, decidiu não marcar presença no estádio, preferindo gozar umas férias com o namorado canadiano em Singapura. Questionada sobre as suas motivações à chegada ao país asiático, disse que contava ver o jogo em direto na televisão.
A partida entre Roménia e Namíbia foi duplamente histórica. Não apenas por ter sido o primeiro encontro disputado na Tasmânia mas também por garantir um momento memorável a Rudi Van Vuuren. Ao entrar na reta final do encontro, o jogador da Namíbia escreveu uma página no desporto ao tornar-se o primeiro homem a participar num Mundial de Râguebi e num Mundial de Críquete. Curiosidade: fê-lo no mesmo ano, separado por apenas sete meses.
Ah, e também aí a Namíbia foi relegada para o último lugar do grupo sem qualquer triunfo. O disco pode ter virado mas a música foi a mesma.