O envenenamento que prejudicou os All Blacks na África do Sul
A Nova Zelândia era a principal favorita à conquista do título em 1995 mas os sul-africanos estavam dispostos a tudo para ganhar uma vantagem na final. As bebidas dos jogadores no hotel foram manipuladas e 20 dos 26 elementos acabaram com uma intoxicação alimentar em vésperas da histórica final.
O conto de fadas da África do Sul estava à distância de 80 minutos. De seleção impedida de participar em fases finais, por causa do apartheid, os Springboks tiveram a oportunidade única de organizar o Mundial para mostrar ao mundo que eram um país diferente e, surpreendentemente, estavam na final contra os temíveis All Blacks.
A população sentia o entusiasmo e os neozelandeses passaram de heróis que surpreendiam com o seu jogo e com a jovem estrela Jonah Lomu a vilões que representava o último obstáculo sul-africano para a glória.
«Os adeptos estavam a dar tudo e tivemos de viver com isso. Mas mesmo quando estávamos no hotel a almoçar havia mulheres lindíssimas que vinham ter connosco para dizer que os Springboks nos iam matar», recorda Sean Fitzpatrick, capitão dos All Blacks.
Os jogadores eram assediados na rua e às portas do hotel, havia cartazes intimidatórios um pouco por todo o lado e a meio da semana da final, a comitiva sentiu que era altura de garantir um descanso. «Sentimos que precisávamos de uma pausa desta loucura, por isso decidimos vir para o hotel depois do treino e almoçar numa sala privada.»
A iniciativa teve mau resultado. Na manhã seguinte a maior parte da equipa estava a vomitar e com diarreia e, quando o dia do jogo chegou, ainda havia cinco jogadores a sofrer. Jeff Wilson, por exemplo, teve de ser substituído ao intervalo por não conseguir aguentar o sofrimento.
A estatística não deixou margem para dúvidas: 20 dos 26 jogadores sofreram com algo que ingeriram naquele dia. Apesar dos problemas, os All Blacks chegaram a acordo para não revelar o que se estava a passar. «Não queria que a África do Sul soubesse que estávamos limitados. Foi a pior coisa que fiz», lamenta Laurie Mains, o selecionador.
O médico Mike Bowen reconhece que nenhum dos jogadores estava a 100% mas não havia grande coisa que pudesse ser feita. Em campo, a Nova Zelândia aguentou enquanto pôde mas acabou por ser relegada ao papel secundário na derrota no prolongamento (12-15).
Um ano mais tarde, Mains contratou um detetive privado para investigar o que se tinha passado naquela semana. O rasto foi dar a uma empregada, apelidada de «Susie», que foi trabalhar para o hotel dias antes da chegada dos All Blacks e que desapareceu sem deixar notícia no dia a seguir ao fenómeno. Os relatos garantem que terá sido ela a deitar uma erva especial «Indian Trick» no chá e no café dos jogadores naquela sala.