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É Desporto

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10 de Setembro, 2019

Chester Williams. O símbolo desportivo do fim do apartheid

Rui Pedro Silva

Chester Williams em ação nos quartos de final

Foi o único negro convocado pela África do Sul para o Mundial-1995 e não precisou de muito para se tornar uma estrela. Acarinhado pela comunidade, teve dificuldades para se impor entre os Springboks mas o sucesso desportivo foi determinante: os quatro ensaios nos quartos de final dissiparam qualquer dúvida.

Basta ter visto o filme «Invictus» uma vez para ficar com uma memória auditiva gravada no cérebro: a forma como Morgan Freeman, no papel de Nelson Mandela, e as crianças negras dos subúrbios dizem o nome «Chester».

Chester Williams era uma verdadeira atração. Numa África do Sul a viver os primeiros anos pós-apartheid, e numa fase em que o país ainda estava muito dividido e desconfiado sobre a verdadeira capacidade de sucesso de Mandela, o jogador ajudou a promover a integração no râguebi.

Não era inédito haver jogadores negros nos Springboks mas os últimos anos do apartheid tinham acentuado ainda mais a segregação desportiva. O râguebi era ainda um bastião muito racista e a convocatória de Chester Williams tentou estabelecer a trajetória do futuro: provar que a integração existia também no desporto e captar o interesse de milhões de pessoas na modalidade.

Chester Williams

Recentemente, Chester Williams visitou Portugal e recordou, em entrevista ao Diário de Notícias, o que viveu durante aquele período: «A pressão esteve sempre mais em mim. Não interessa se foi antes do Mundial, durante ou depois. Houve sempre pressão porque eu era a única pessoa negra na equipa e o mundo tinha os olhos postos em mim».

O ala sabia que a sua qualidade era posta em causa, que não havia forma de garantir automaticamente aos olhos dos críticos se tinha sido convocado por mérito ou por golpe mediático. «Tive sempre de estar a dar provas. Mas não tanto pelos outros, mais por mim. Queria provar a mim próprio que era bom o suficiente. E creio que a minha história de sucesso se deve ao facto de eu ter provado a mim próprio que era bom antes de o provar aos outros.»

Foi precisamente isso que aconteceu em campo. Chester Williams não servia apenas para despertar as emoções nas bancadas, como provou no encontro dos quartos de final com a Samoa, ao marcar quatro ensaios na vitória esmagadora por 42-14.

Foram os únicos que conseguiu no torneio mas acabaram por ser mais do que suficientes para consolidar a sua importância na equipa e provar ao mundo e, sobretudo, ao país que o apartheid era mesmo coisa do passado. Os obstáculos iam cair um atrás do outro e Chester Williams desempenhou um papel desportivo fundamental.

[Chester Williams morreu a 6 de setembro, já depois de este texto ser escrito]