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É Desporto

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07 de Setembro, 2019

Quando Samoa entrou no mapa à custa de Gales

Rui Pedro Silva

Samoanos chocaram Cardiff

A tradição de Gales aliada ao terceiro lugar no Mundial inaugural fazia dos europeus favoritos no jogo de estreia em 1991, mas uma entrada em falso abriu caminho para que Samoa, em estreia absoluta, vencesse a primeira jornada e não vacilasse rumo aos quartos-de-final. Foi a primeira grande surpresa em fases finais.

O grupo 3 do Mundial-1991 poderia ser considerado o grupo da morte se visto aos olhos de 2019. Austrália, Gales, Argentina e Samoa disputaram dois lugares de acesso aos quartos e a fava calhou aos europeus e americanos. Se os Pumas ainda não tinham o nome de peso que conquistaram durante o início do século XXI, a eliminação dos galeses foi uma grande surpresa, até porque estavam a jogar em casa.

A Austrália era vista como a maior favorita – ia mesmo ser campeã mundial semanas depois -, mas Gales sabia que tinha tudo para terminar o grupo na segunda posição. O caminho para o apuramento começaria a desenhar-se a 6 de outubro, em Cardiff, contra Samoa e, na altura, 45 mil pessoas assistiram incrédulas ao desaire (13-16).

A capacidade física dos samoanos deixou marca. Construídos de forma compacta e implacáveis nas placagens, fizeram-se sentir junto dos galeses e acumularam baixas nos adversários:  Tony Clement, Phil May e Richie Collins lesionaram-se e tiveram de abandonar o encontro.

A lógica diria que, ainda assim, Gales seria candidato ao triunfo. Jogava em casa – no Cardiff Arms Park – e ninguém conhecia verdadeiramente o poderio de Samoa. Mas, à medida que o jogo se foi desenrolando, o fantasma da surpresa materializou-se e percebeu-se que a seleção da Oceânia não ia virar a cara à luta.

Samoa bateu Gales por 16-13

O râguebi podia não ser espetacularmente criativo, nem à medida do modelo europeu mais pragmático, mas era eficaz. A entrega total ao jogo, lutando por cada centímetro, só foi manchada pela verdade desportiva. Contam as reportagens da altura que o ensaio da vitória samoana não foi, de facto, ensaio. A repetição televisiva confirma que a ação não devia ter sido validada mas em 1991 a batalha pela verdade desportiva e recurso às imagens não estava ainda no horizonte.

O triunfo de Samoa não foi apenas uma grande surpresa, mas também um enorme aviso à navegação. «Toda a gente percebeu a ameaça que Samoa era a partir daquele momento», recordou Michael Lynagh, uma das estrelas da Austrália. «Ainda bem que passámos a ter um termo de comparação», acrescentou, antecipando o encontro da segunda jornada em que os Wallabies acabariam por vencer 9-3, com Lynagh a marcar todos os pontos australianos.

Depois de derrotar a Argentina, Gales entrou para a última jornada a precisar de um milagre para seguir em frente – mesmo se conseguisse vencer a Austrália (acabou por perder 3-38) - mas Samoa tinha outra ideia. Os samoanos voltaram a brilhar ao mais alto nível e derrotaram os Pumas sem contemplações por 35-12, garantindo o passaporte para a fase seguinte.

Nos quartos-de-final, a surpresa já não existia. A sequência de jogos deixou uma fatura física que os samoanos não suportaram e não conseguiram chocar Edimburgo contra a Escócia da mesma forma que fizeram em Cardiff. A derrota por 6-28 foi pesada mas não suficiente para apagar o brilho de uma seleção com uma enorme margem de progresso no râguebi mundial.

Hoje, Samoa tem um cartão de visita muito mais respeitável apesar de contar com quatro eliminações consecutivas na fase de grupos. Como será no Japão?