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É Desporto

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04 de Setembro, 2019

O memorável empate entre França e Escócia

Rui Pedro Silva

França-Escócia na Nova Zelândia

O râguebi não é uma modalidade tão alérgica a empates como outras mas a estatística demonstra que é muito invulgar que um encontro de um Mundial termine com duas seleções mutuamente anuladas, sobretudo na fase de grupos. Houve apenas três: Japão e Canadá foram velhos conhecidos em 2007 e 2011 mas em 1987, na edição inaugural, França e Escócia ofereceram 84 minutos épicos.

Quando foi conhecido o sorteio da fase de grupos do primeiro Mundial de râguebi da história, não houve dúvidas: o França-Escócia que abria o grupo D a 23 de maio de 1987 seria um dos jogos mais interessantes da primeira fase. As duas equipas tinham tradição e aspirações a chegar longe e não se podiam dar ao luxo de cair para o segundo lugar, que tinha um mais que provável encontro com a Nova Zelândia no horizonte nos quartos-de-final.

Franceses e escoceses fizeram pela vida no Lancaster Park, em Christchurch. Na véspera, no jogo de abertura da competição, os All Blacks tinham dizimado a Itália por 70-6. Mas ali, um dia depois, não se esperava um novo resultado desnivelado. Os britânicos começaram melhor, conseguiram um ensaio por Derek White, e Gavin Hastings foi fundamental, com quatro penalidades, para que a Escócia chegasse a ter uma vantagem de 16-6.

Mas nem tudo lhes corria bem. Nem tudo iria correr bem dali para a frente. O médio de abertura John Rutherford tinha saído lesionado – seria o seu último jogo pela seleção – e, aos 79 minutos, com uma curta vantagem de dois pontos (16-14), Serge Blanco conseguiu surpreender tudo e todos e deixar os gauleses em vantagem.

Conta a lenda que o ensaio de Blanco nunca devia ter acontecido. Havia dois jogadores no chão e os escoceses acreditavam piamente que o árbitro inglês Fred Howard não iria permitir que o jogo se retomasse quando apitou uma penalidade favorável à equipa francesa. Mas Blanco optou pelo fator-surpresa, saiu rápido a jogar, sozinho, e conseguiu o ensaio.

«Foi estranha a forma como este ensaio apareceu», explicou Philippe Sella no final. «[Blanco] teve sorte em correr aquela distância sozinho sem ninguém o parar, ninguém estava à espera.»

A vencer 20-16 (os ensaios valiam apenas quatro pontos), a França tinha o jogo na mão mas a Escócia ainda tinha um trunfo no bolso. O jogo prolongou-se por mais quatro minuto depois dos 80 e quis o destino que fosse Matt Duncan – o escocês que estava no chão quando Blanco surpreendeu – a fazer o ensaio que empatou o marcador.

O pontapé «decisivo» de Hastings

Com o encontro no último suspiro e empatado a 20, Gavin Hastings voltou a ser chamado à ação. Estava com 50% de eficácia (quatro em oito pontapés) e desta vez surgia a pressão adicional de ser quase literalmente um pontapé para a vitória. Falhou, por pouco, mas falhou, fazendo a bola passar a poucos centímetros do poste esquerdo.

O encontro terminou pouco depois com o facto histórico de ter sido o primeiro empate numa fase final de um Mundial. O caminho para o primeiro lugar do grupo estava aberto para as duas seleções mas os All Blacks acabaram por marcar a despedida de ambas.

A Escócia perdeu logo nos quartos-de-final (acabou por ser relegada nos critérios de desempate) por 3-20. A França atingiu a final mas saiu derrotada por 9-29.