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É Desporto

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24 de Junho, 2019

Londres. Quando sete clubes da cidade jogaram uma final europeia

Rui Pedro Silva

London XI participou na final da Taça das Cidades com Feira em 1958

A Inglaterra dominou o futebol europeu na última época e a capital inglesa teve três equipas nas finais (Chelsea e Arsenal na Liga Europa, Tottenham na Liga dos Campeões), mas nunca voltará a acontecer o feito de 1958, quando Arsenal, Chelsea, Fulham, Tottenham, Brentford, Leyton Orient e West Ham tinham muito em jogo na final da Taça das Cidades com Feira.

 

As competições europeias são pródigas em potenciar velhos do Restelo que recordam com saudosismo formatos antigos. Afinal, quem não conhece pelo menos um defensor do regresso da Taça dos Vencedores das Taças? Ou que acredita que a Liga dos Campeões não devia ter tantas equipas do mesmo país? Ou mesmo que a Liga Europa devia regressar ao formato de eliminatórias desde o início?

 

A UEFA adaptou-se ao modernismo, apostou num modelo financeiro de enorme retorno e esqueceu a tradição. Mas, se recuarmos ainda mais, encontramos um formato irrecuperável. Em 1955, quando começou a primeira edição da Taça dos Campeões Europeus, arrancou também a Taça das Cidades com Feira, uma prova sem a chancela do organismo europeu.

 

Dificilmente uma prova consegue ser mais autoexplicativa do que esta: Taça das Cidades com Feira. Bom, na verdade Taça dos Vencedores das Taças e Taças dos Campeões Europeus também são nomes esclarecedores, mas não têm a mesma faceta curiosa de «Cidades com Feira».

 

As regras eram simples: as cidades participantes tinham de ter uma feira e não podiam ter mais do que uma equipa participante. Este pormenor fez com que surgissem diferentes perspetivas: em Milão e Birmingham, por exemplo, escolheu-se um clube de cada cidade como representante (Inter e Birmingham City); em Londres, e em muitas mais cidades, criou-se uma equipa improvisada com representantes de vários clubes.

London XI e Barcelona empataram em Stamford Bridge

Se em cidades como Copenhaga, Viena ou Zagrebe o desafio não era muito grande, em Londres obrigava a uma logística enorme. E maior se tornou depois de a edição se ter prolongado por três anos, levando a que alguns jogadores tenham começado por jogar por Londres representando uma equipa, passando depois para outra durante um período de transferências.

 

Nos três anos da edição inaugural, a equipa de Londres fez oito jogos e utilizou um total de 54 jogadores. Basileia e Frankfurt foram ultrapassadas na fase de grupos e nas meias-finais foi a vez de os suíços do Lausanne Sports serem derrotados. Com Jack Mears (Chelsea) a ocupar o cargo de selecionador – mais ainda do que treinador – os ingleses atingiram a final. Do outro lado estava o Barcelona, com figuras como Evaristo e Luis Suárez.

 

Durante a competição, Mears chamou jogadores de onze equipas diferentes mas, chegado à final a duas mãos com os catalães, Charlton, Crystal Palace, Millwall e Queens Park Rangers não tiveram qualquer representante. Ainda assim, houve sete outras equipas a fazer parte das escolhas.

 

Na primeira mão, em Stamford Bridge (2-2), havia quatro jogadores do Tottenham, dois do Arsenal, dois do Chelsea, dois do Fulham e um do Brentford. Praticamente dois meses depois, a 1 de maio de 1958, a equipa londrina foi goleada no Camp Nou por 6-0. Aí, já havia dois jogadores do West Ham e um do Leyton Orient a compor o ramalhete do onze inicial.

 

Feitas as contas, para a história ficou uma edição que durou três anos e viu uma equipa de Londres – com representantes de sete clubes diferentes – perder a final para o Barcelona. A experiência chegou para garantir a presença na final mas não deixou os responsáveis satisfeitos. Por isso, no início da segunda edição, que durou entre 1958 e 1960, o Chelsea surgiu como o representante de Londres. Desta vez, porém, os ingleses não passaram dos quartos-de-final, acabando derrotados pela equipa de Belgrado, que juntava, entre outros, jogadores do Partizan e do Estrela Vermelha.

 

A presença de equipas de cidades e não de clubes foi perdendo força com o passar dos anos e 1964/1965 foi a primeira edição em que todos os participantes eram clubes bem estabelecidos. O último representante citadino foi o Staevnet, composto por jogadores de clubes de Copenhaga, em 1964.

 

A Taça das Cidades com Feira prolongou-se até 1971, ano em que o Leeds United venceu a final contra a Juventus. Na época seguinte, a competição foi substituída pela Taça UEFA e começou a ser oficialmente tutelada pelo organismo europeu.