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É Desporto

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18 de Junho, 2019

Platini. A estrela do último título do Saint-Étienne

Rui Pedro Silva

Michel Platini foi uma das maiores estrelas do Saint-Étienne

Brilhou no Nancy durante cinco das sete temporadas em que esteve ao serviço do clube e foi recrutado por um Saint-Étienne à procura de quebrar um invulgar jejum de títulos. Um dos melhores jogadores franceses da década juntou-se ao melhor clube e, com figuras como Battiston, Rep e Zimako, foi decisivo na conquista do último campeonato francês da equipa… em 1981.


O Saint-Étienne é ainda hoje uma das duas equipas com mais campeonatos na história do futebol francês. O PSG anda a recuperar nos últimos anos mas ainda só tem oito, tal como o Monaco, enquanto o Lyon, apesar da hegemonia do início do novo milénio, não tem mais do que sete. Com dez, no topo da pirâmide, estão Marselha e Saint-Étienne. A diferença? Os verts não ganham desde 1981, ano em que Michel Platini era a jóia da coroa e a caminho de se tornar um dos melhores da história.


A década de 70 em França escrevia-se com tinta verde. Depois de ganhar o título pela primeira vez em 1957, o Saint-Étienne aqueceu os motores da década de 60, com mais quatro campeonatos, e assumiu definitivamente o estatuto de melhor clube francês durante os anos 70, vencendo em 1970, 1974, 1975 e 1976.


Por esta altura, um Michel Platini de 17 anos dava os primeiros passos no Nancy. O seu talento era inegável mas a equipa não tinha capacidade para muito mais. Entre 1972 e 1979, Platini esteve no céu e no inferno, alternando golos decisivos – muitos deles de livre – com lesões graves. Desceu ao segundo escalão, foi fundamental no regresso à Ligue 1 e assumiu um papel de destaque nas melhores campanhas do clube, tanto no quarto lugar em 1977 como na conquista da Taça de França em 1978.

Michel Platini igual a si mesmo

Com o fim da década a chegar, o Saint-Étienne viu no jogador de 24 anos o trunfo necessário para recuperar a hegemonia doméstica e para garantir a dimensão europeia que faltava. O cenário parecia cada vez mais invulgar: estava há três anos sem vencer o campeonato e na Europa parecia faltar sempre alguma coisa: foi eliminado pelo futuro campeão Bayern Munique nas meias-finais em 1975 e na final em 1976.


Michel Platini devia vestir a pele de salvador, recuperar o caminho glorioso em França e dar o impulso necessário para percorrer aqueles últimos metros rumo ao olimpo europeu. Na temporada de estreia, o clube não foi além do terceiro posto mas Platini brilhou ao mais alto nível: com colegas como Rep, Zimako e Rocheteau, tornou-se o melhor marcador da equipa no campeonato (16) e no conjunto das competições (26). Na UEFA, contudo, o carrasco voltou a falar alemão: nos quartos da Taça UEFA, o Saint-Étienne foi eliminado pelo Borussia Mönchengladbach. Platini marcou um golo mas o resultado acumulado (1-6) não deixou dúvidas.


A margem de erro para a temporada 1980/1981 era ainda menor… mas Platini esteve à altura. Com 25 anos, pegou na batuta e foi o génio em campo durante os 52 jogos que realizou na temporada, somando um total de 29 golos. Acompanhado de figuras como Castaneda, Battiston, Santini e Rep, o Saint-Étienne soube reequilibrar-se apesar de perder dois dos primeiros três jogos, e terminou a temporada com 57 pontos, mais dois do que o Nantes.


Numa equipa com sete jogadores a serem chamados para a seleção francesa durante a temporada (Jean Castaneda, Patrick Battiston, Christian Lopez, Gérard Janvion, Jean-François Larios e Jacques Zimako fizeram companhia a Platini), os resultados nas restantes competições acabaram por ter um sabor agridoce.


A campanha na Taça UEFA terminou nos quartos-de-final, com uma eliminação aos pés do futuro campeão Ipswich Town, de Bobby Robson, enquanto a final da Taça de França foi perdida para o Bastia no Parque dos Príncipes, em Paris.

Onze utilizado na final da Taça contra o Bastia

Michel Platini cumpriu o desígnio de fazer com que o Saint-Étienne regressasse aos títulos no campeonato francês mas não corresponde a todos os objetivos que o clube tinha para ele. A glória europeia, para o médio, só chegaria anos mais tarde, já ao serviço da Juventus, para onde se transferiu no verão de 1982. Aí, em anos consecutivos, venceu uma Taça das Taças (1984 contra o FC Porto) e uma Taça dos Campeões Europeus (contra o Liverpool).


A saída de Michel Platini marcou também o início do fim da era do Saint-Étienne. O segundo lugar em 1982, na última época do futebolista em França, foi o derradeiro sinal de relevância. Desde então, a equipa conquistou apenas três títulos: duas Ligue 2 (1999 e 2004) e uma Taça da Liga (2013).


Hoje, no dia em que Michel Platini foi detido por suspeitas de corrupção na atribuição do Mundial-2022 ao Qatar, o Saint-Étienne vive um dos seus melhores períodos desde então. Foi quarto classificado e tem aproveitado esta década para figurar sempre na primeira metade da tabela e garantir uma presença frequente nas competições europeias.