Sandra Bastos. A árbitra portuguesa do Mundial
Portugal voltou a falhar qualificação para a fase final mas, pela primeira vez, terá uma representante em campo. Chama-se Sandra Bastos, tem 41 anos, e está habituada aos grandes palcos da Liga dos Campeões feminina.
Não se pode dizer que Portugal tenha morrido na praia. Ficou em terceiro lugar do grupo 6 de qualificação da UEFA, com 11 pontos em oito jogos. A Itália apurou-se diretamente com 21, a Bélgica ficou em segundo com 19 e acabou eliminada no play-off. Atrás da seleção nacional, apenas a Roménia e a Moldávia.
Sandra Bastos pode não ser a primeira pessoa portuguesa a estar num Mundial da FIFA de futebol feminino – de acordo com o relatório técnico, Jorge Baptista fez parte do comité de imprensa logo na edição de 1991 -, mas é a primeira a pisar verdadeiramente o relvado.
A arbitragem feminina em fases finais começou em 1991 e chegou finalmente a Portugal, 28 anos depois. Houve tempo para Cláudia Vasconcelos, brasileira, ser a primeira de sempre a arbitrar um jogo (atribuição do terceiro lugar em 1991) e para Ingrin Jonsson, sueca, dirigir o jogo da final em 1995. A partir daí, com o terreno desbravado, tudo ficou mais fácil e as equipas exclusivamente femininas tomaram conta da prova.
O quadro para 2019 é uma salganhada de nacionalidades. Da AFC chegam duas australianas, uma chinesa, uma norte-coreana e uma japonesa. Da CAF há uma etíope, uma ruandesa e uma zambiana. Da CONCACAF viajam duas canadianas, uma estado-unidense, uma mexicana e uma hondurenha. Da CONMEBOL, uma brasileira, uma chilena, uma argentina e uma uruguaia. Da OFC, uma neo-zelandesa. Da UEFA, Sandra Bastos é a portuguesa de um lote onde pontifica a alemã Bibiana Steinhaus (árbitra da Bundesliga) e existem ainda outra alemã, uma checa, uma francesa, uma suíça, uma russa, uma ucraniana e uma húngara. Ao todo, são 27 árbitras no lote.
O cartão de visita de Sandra Bastos é simples: pertence aos quadros da Associação de Futebol de Aveiro, começou a arbitrar em 2001 e é internacional desde 2004. É presença regular em jogos da Liga dos Campeões feminina e tem no currículo duas presenças no Mundial sub-17 e uma no Europeu sub-19.
Paixão pelo futebol
Em dezembro de 2010, numa entrevista ao blogue Arbitragem Algarvia, Sandra Bastos recordou que o futebol faz parte da sua vida desde pequena. Depois de a equipa em que jogava ter acabado e de o pai não a ter deixado ir para outro lado, limitou-se a jogar com os amigos na escola até que «surgiu um colóquio sobre arbitragem na escola e no qual os alunos da área de desporto eram obrigados a assistir».
Sandra Bastos falou com a diretora da escola sobre a possibilidade de haver também um curso de formação para os alunos interessados. «Depois de ter tirado o curso, surgiu a oportunidade de fazer o primeiro jogo e desde então o bichinho não parou mais. Comecei como assistente e no segundo ano optei por ser árbitra principal», reconheceu.
Já nesta altura, a então árbitra de 32 anos dizia que o objetivo era estar presente no Mundial. «Ainda tenho muito para dar à arbitragem», garantiu, admitindo que não pensava muito no facto de ser considerada a melhor árbitra portuguesa da atualidade.
Sandra Bastos nunca parou de evoluir e cinco anos depois tornou-se a primeira mulher de sempre a arbitrar um jogo de futebol masculino de um escalão nacional, entre o Mirandela e o Fafe.
«Ninguém complicou, nem equipas técnicas nem adeptos. Todos os intervenientes nos aceitaram com muita simpatia e sem dúvida que foi uma tarde desportiva que nunca vou esquecer», disse em declarações à Lusa.
No quadro de Elite da UEFA desde 2014, continua a ver o futebol como uma obsessão. «Adormeço a pensar em futebol, acordo a pensar em arbitragem. Estou a almoçar e a falar de arbitragem, por isso ocupa quase o meu dia todo. Até sonho com arbitragem! A minha mãe acordava-me quando eu trabalhava com os meus pais no café e eu dizia que não podia ir trabalhar porque estava a arbitrar num jogo. E estava a dormir!», contou ao Record.
Nos próximos dias, toda a gente sabe onde estará Sandra Bastos. Não vai precisar de mentir, não vai precisar de sonhar acordada. Está no Mundial de França por mérito próprio e mantém a mesma ambição de sempre.