Abby Wambach. Um sinónimo de golo
Chama-se Mary Abigail Wambach, nasceu a 2 de junho de 1980 e acabou a carreira em 2015, ano em que foi finalmente campeã mundial com os Estados Unidos. Para trás, ficou uma carreira com um recorde de 184 golos pela seleção e outras marcas que continuam por bater: desde o golo mais tardio numa fase final (122 minutos) ao número de jogos diferentes a marcar pelo menos um golo no torneio (12).
A carreira de Abby ao serviço dos Estados Unidos esteve em constante crescimento. Internacional desde 2001, quando tinha 22 anos, entrou num ciclo de preparação para um Mundial em que a sua seleção entraria como detentora do título. Mas, ao contrário das suas antecessoras, teve de sofrer para chegar ao lugar mais alto do pódio.
As medalhas de ouro olímpicas em 2004, em Atenas, e em 2012, em Londres, foram fraca consolação para uma mulher que queria tudo. E tudo significava o título mundial. Na estreia, em 2003, ficou no terceiro lugar e contribuiu com três golos em três jogos diferentes, num total de seis disputados. Quatro anos depois teve de se contentar novamente com o terceiro posto, marcando seis golos em quatro jogos diferentes, num total de seis em que participou.
O China-2007 foi diferente para Wambach. Voltou a não passar do terceiro lugar mas, pela primeira e única vez numa fase final, conseguiu marcar mais do que um golo por jogo. Fez dois à Suécia na fase de grupos e dois à Noruega no jogo de atribuição do terceiro lugar.
As goleadoras não são todas iguais. Há umas que pressentem o momento certo para marcar, o mais decisivo, e deixam os outros instantes para figuras efémeras. Há outras que vão pela inspiração e tanto marcam golos uns atrás dos outros num encontro para depois passarem despercebidas no resto do torneio. Abby Wambach parecia um instrumento de maquinaria alemã, com pontualidade britânica, a jogar pelos Estados Unidos.
Se Michelle Akers, melhor marcadora numa fase final (10 em 1991) e recordista dos Estados Unidos até aparecer Wambach, se destacou pelos cinco golos marcados a Taiwan, num total de seis jogos com golos em 13 jogos disputados, a figura desta história parecia fazer pouco mais do que picar o ponto.
Os números não são apenas residuais. Abby Wambach esteve em 24 dos 43 jogos que os Estados Unidos já disputaram em fases finais, o que equivale a uma percentagem que arranha os 56%. E marcou em 12 desses encontros. Dito de outra forma, marcava numa média de jogo sim, jogo não (parecido com Akers, à primeira vista, mas com o dobro dos jogos disputados), e tem pelo menos um golo em (aproximadamente) 28% dos jogos que a equipa com o melhor palmarés em Mundiais (três títulos, um segundo lugar e três terceiros lugares em sete edições) disputou nos torneios.
A sua despedida dos grandes palcos, com 35 anos, surgiu no Canadá, há quatro anos. Marcar apenas um golo em seis jogos (vs. Nigéria na fase de grupos) destruiu-lhe a média mas, nesta altura, já era pouco mais do que uma substituta de luxo. Na fase de grupos, foi titular contra Austrália e Nigéria, as duas adversárias mais vulneráveis, e saiu do banco contra a Suécia aos 67 minutos. Foi o estatuto que manteve contra Colômbia (69’), China (86’) e Alemanha (80’), disputando um total de 35 minutos nestes encontros.
A final contra o Japão seria uma excelente oportunidade para se desforrar do que tinha acontecido em 2011. Aí, tinha sido a única de quatro norte-americanas a conseguir marcar um penálti no desempate. A consolação foi fraca: o troféu já tinha metade do nome do país asiático gravado na base. Mas, em 2015, Wambach não teve oportunidade para jogar sequer um minuto. Festejou, sentiu o título como dela, mas não conseguiu ter uma despedida em campo, dentro das quatro linhas.
Por muitos golos que tivesse marcado, pode ter sentido um amargo de boca. Na única final que disputou, marcou um golo (no prolongamento) e esteve perto de sentir o que seria ser verdadeiramente decisiva. Mas Homare Sawa garantiu o desempate por penáltis, marcando a três minutos do final.
Wambach não se pode queixar, também viveu momentos dramaticamente positivos numa fase final. Na verdade, foi mesmo nessa fase final, sete dias antes, em Dresden contra o Brasil. No jogo dos quartos-de-final, contra o Brasil de Marta, o encontro caminhava para o fim e as sul-americanas venciam por 2-1 já nos descontos do prolongamento.
Depois, após assistência de Megan Rapinoe, Wambach mergulhou para a glória e forçou os penáltis, vestindo o papel que Sawa lhe roubaria na final. Foi na altura, continua a ser até hoje e dificilmente será batido no futuro, o golo mais tardio na história das fases finais. Ali, na Alemanha, o mesmo país que em 2006, em Dortmund, viu Del Piero matar as esperanças germânicas nas meias-finais com um golo no primeiro minuto dos descontos do prolongamento. Aqui, Wambach foi ainda mais longe e esperou um pouco mais para ficar com o recorde só para ela.
Distinguida em 2012 com o prémio de melhor jogadora do mundo para a FIFA, Wambach teve de esperar mais três anos para sentir que realmente já tinha atingido tudo o que havia para conseguir. Pode não ter jogado, mas sentiu aquela final, toda aquela fase final, como a cereja que perseguia há muito e que tinha falhado nas três competições anteriores. Agora sim, podia descansar em paz, ligando pouco àquilo que a notabilizou.
«Ninguém é melhor do que a equipa. Não marco golos sozinha. Todos os que marquei foram através da excelência e bravura de alguém na minha equipa», garantiu um dia.