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É Desporto

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01 de Junho, 2019

Mundial-2015. Mais equipas… o mesmo resultado

Rui Pedro Silva

EUA conquistaram o terceiro Mundial

Foi a fase final do número três. Pela terceira vez, os Estados Unidos chegaram ao título mundial, numa reedição da final da edição anterior contra o Japão. Por três vezes, e em apenas 16 minutos, Carli Lloyd marcou no jogo decisivo e escreveu uma das histórias mais impressionantes de um torneio que, pela primeira vez, contou com 24 seleções.

 

A FIFA organizou o primeiro Mundial de futebol feminino oficial em 1991, na China, com 12 seleções. Os Estados Unidos apareceram com uma geração onde pontificava Michelle Akers e mostraram ao mundo quem mandava.

 

O crescimento e sucesso do futebol feminino foi evidente durante a década de 90, por isso o organismo decidiu aumentar o número de equipas para 16 no Mundial-1999, organizado pelos norte-americanos. Com mais quatro adversários, os Estados Unidos não se mostraram incomodados e ganharam pela segunda vez na história.

 

Foi preciso esperar até 2015, no Canadá, quando a FIFA decidiu aumentar novamente o número de equipas, para 24, para os Estados Unidos vencerem pela terceira vez. Não é mais do que uma coincidência mas não deixa de ser muito interessante: sempre que a competitividade aumenta (ou simplesmente é criada), as norte-americanos elevam a fasquia e saem com o título.

 

O troféu em 2015 foi uma vingança bem medida pelos Estados Unidos. Quatro anos antes, na Alemanha, o título tinha fugido por entre os dedos em dois momentos: aos 117 minutos quando Homare Sawa empatou para o Japão no prolongamento; e depois, nos penáltis, com as três primeiras norte-americanas a desperdiçarem as suas oportunidades. Quatro anos depois, a desforra não foi mais do que um exercício de poder. A goleada por 5-2, construída com base no hat-trick de Carli Lloyd nos primeiros 16 minutos do encontro, não deixou dúvidas sobre quem era superior.

 

O Mundial foi mais do que esta manifestação de controlo por parte dos Estados Unidos, que atingiram o pódio da competição pela sétima vez consecutiva. Por outras palavras, em todas as que existiram. Foi também, sobretudo, uma festa do futebol que foi alargada a mais cantos do mundo.

Tailândia foi uma das estreantes

Até 2015, apenas 24 seleções tinham conseguido figurar na fase final. Com um torneio de 24 seleções, as probabilidades de haver uma onda de estreantes era grande. E foi precisamente isso que aconteceu com Tailândia, Camarões, Costa do Marfim, Costa Rica, Equador, Holanda, Espanha e Suíça.

 

A atitude da FIFA foi recompensada, até porque as novas seleções não fizeram apenas figura de corpo. Ou melhor, nem todas fizeram. É certo que a Costa do Marfim foi goleada pela Alemanha (0-10) na estreia, e que o Equador saiu com 17 golos sofridos em três jogos, com destaque para o 1-10 contra a Suíça, mas nos oitavos-de-final houve espaço para três estreantes: Camarões, Holanda e Suíça. Nos três casos, chegar à fase a eliminar foi o final da linha.

 

Também foi entre os estreantes que surgiu uma das histórias mais curiosas da prova. Encarnando o espírito de Chris Nicholl, jogador do Aston Villa que na década de 70 fez os quatro golos de um jogo com o Leicester que terminou… empatado, a equatoriana Angie Ponce fez o que conseguiu.

 

O azar acontece a todos… e todas. Brandi Chastain, figura de proa no título dos Estados Unidos de 1999, tinha começado por fazer um autogolo e um golo na baliza certa contra a Alemanha nos quartos-de-final. Mas Angie Ponce foi um pouco mais longe: fez um primeiro autogolo aos 24 minutos, marcou de penálti aos 64’ e repetiu a dose inicial, com novo autogolo aos 71 minutos. Impressionantemente, conseguiu retirar o destaque à suíça Fabienne Humm, autora do hat-trick em menor período de tempo em fases finais: marcou aos 47’, 49’ e 52’.

 

Os Estados Unidos não se limitaram a vencer o troféu, também bateram outros recordes. Christie Rampone despediu-se como a mais velha jogadora da história a disputar um jogo numa fase final (40 anos e 11 dias) e Abby Wambach chegou à impressionante marca de doze jogos com pelo menos um golo.

 

Ao contrário de figuras como Akers, Marta e Prinz, não marcava necessariamente em volume, preferindo diversificar os seus golos por diferentes jogos. Só assim se explica que, apesar de ter festejado em doze jogos diferentes, continue atrás de Marta (15 golos) na lista de melhores marcadores em fases finais.

 

Com mais de 1,3 milhões de espetadores nos estádios, o Mundial do Canadá bateu a marca estabelecida pelos Estados Unidos em 1999 e tornou-se a fase final com mais gente nas bancadas. Por outro lado, ter tido mais vinte jogos foi fundamental, uma vez que a média de espetadores (26029) ficou atrás da das fases finais de 1999, 2007 e 2011.

Blatter teve um ano atribulado

Joseph Blatter, presidente da FIFA, foi novamente muito otimista. «Expandir a prova de 16 para 24 equipas foi um forte sinal, e um catalisador, para o crescimento do futebol feminino. A FIFA está comprometida a encorajar raparigas e mulheres a abraçar o futebol e aproveitar os benefícios sociais, físicos e de saúde associados.»

 

O suíço escreve também que o futebol dá poder às mulheres para aprender sobre liderança e trabalho de equipa. Diz, no relatório técnico divulgado, que o futebol pode agir como um viveiro poderoso de modelos para inspirar mais raparigas a envolverem-se no desporto, mas também como exemplos para uma sociedade que promova a igualdade de género.

 

Blatter garantiu estar «orgulhoso» do que se tinha alcançado até então mas não teve a oportunidade de fazer muito mais. O homem que recebeu a indicação de João Havelange para estabelecer uma prova mundial de futebol feminino na FIFA em 1986 estava de saída. O escândalo de corrupção no organismo abateu-se sobre ele e acabou o seu legado em dezembro deste mesmo ano.

 

Aprender sobre liderança e trabalho de equipa? O que Blatter escreveu em julho tornou-se uma piada em dezembro. Hoje, quatro anos depois, o futebol feminino continua a crescer mas já sem o suíço.

 

Ah, faltou falar sobre Portugal. Num grupo com Noruega, Holanda, Bélgica, Grécia e Albânia, a seleção nacional foi afastada na qualificação depois de terminar a fase com quatro vitórias em dez encontros.