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É Desporto

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30 de Maio, 2019

Homare Sawa. A ponta da espada japonesa

Rui Pedro Silva

Homare Sawa

Foi a capitã, a melhor jogadora e a melhor marcadora no Mundial-2011 ganho pelo Japão. Tinha 33 anos, estava a participar na sua quinta fase final e nunca tinha conseguido melhor do que os quartos-de-final, mas assumiu um papel preponderante. No jogo do título, não foi chamada a marcar no desempate por penáltis com os EUA mas o jogo só chegou a essa fase depois de marcar a três minutos do final do prolongamento.

 

Nota: o parágrafo que se segue é uma citação direta de uma página na Wikipédia porque não haveria outra forma de termos conhecimento sobre um tema que está longe de figurar nas nossas preferências. Vamos a ele, então.

 

«A espada japonesa descreve um conjunto de armas brancas produzidas utilizando uma técnica japonesa especial. Existem vários tipos de espadas japonesas que diferem de tamanho, forma, modelo, aplicação e método de fabrico. Alguns tipos mais comummente conhecidos de espadas japonesas são o tachi, katana, wakizashi, tantō, ōdachi, nagamaki e a naginata. A mais famosa espada é a katana, que, como a similar arma tachi, consiste num único gume sendo geralmente uma espada longa, tradicionalmente empregue por samurais do século XV.»

 

Na Alemanha em 2011, a seleção japonesa foi uma katana. E Homare Sawa, figura presente em fases finais desde 1995 sem qualquer ausência, assumiu-se naturalmente como o seu gume. O estatuto que assumia naquela equipa orientada por Norio Sasaki é incontornável. Se o Mundial fosse uma festa, Sawa teria lançado os foguetes, feito a festa e apanhado as canas.

 

Homare Sawa foi capitã por mérito próprio. Foi a melhor jogadora da prova pela qualidade que demonstrou em campo. E foi a melhor marcadora porque, apesar de jogar no meio-campo, sempre demonstrou uma predisposição para fazer a diferença no ataque. Quando fez um hat-trick ao México na fase de grupos abriu caminho para chegar ao troféu individual, sobretudo na edição com menos golos da história e onde a futura melhor marcadora (ela própria) não fez mais do que cinco golos no torneio completo.

 

Na fase a eliminar, Sawa voltou a aparecer nos momentos decisivos. Na meia-final contra a Suécia, fez o 2-1 parcial num jogo que acabaria 3-1. No dia da final, Sawa estava empatada no número de golos com Marta (4) e tinha a adversária Abby Wambach com três. O principal objetivo nunca mudou: conquistar um campeonato do mundo inédito para as nipónicas.

 

O Japão viu o título fugir por mais do que uma vez. Durante o tempo regulamentar, só conseguiu o empate aos 81 minutos, por Aya Miyama. Depois, quando Wambach marcou no prolongamento aos 104 minutos, a margem de erro ruiu e o Japão passou a precisar de um ato de heroísmo que mantivesse as asiáticas em jogo.

 

Quando marcou aos 117 minutos, a três do final do encontro arbitrado por Bibiana Steinhaus (a alemã que agora é nomeada para jogos da Bundesliga), Sawa demonstrou que também podia ser uma… espada de dois gumes. Por um lado, isolou-se na lista de melhores marcadores; por outro, ditou a existência do desempate por grandes penalidades.

Mundial chegou nos penáltis

Aí, Sawa nem precisou de marcar. Depois de quatro penáltis para cada lado, o Japão fechou a contagem – muito graças às três defesas de Ayumi Kaihori – e tornou-se campeão mundial. A consagração de Sawa não foi mais do que um momento esperado, depois de tudo o que vinha fazendo pela seleção.

 

Internacional desde 1993, com apenas 15 anos, tornou-se uma presença assídua na equipa e nas fases finais. Apesar de ter competido em seis fases finais (despediu-se no Mundial-2015), Sawa só marcou em duas: três golos em 2003 e cinco em 2011, no ano que nunca esquecerá.

 

Hoje, com 40 anos, Sawa é uma referência que japoneses e japonesas nunca esquecerão. É a pensar nela que as crianças adormecem e sonham com uma carreira de futebolista. É o símbolo do título, é a garantia de que há espaço para toda a gente. Jogando quase sempre nos campeonatos nacionais, Sawa chegou a fazer parte do plantel das Atlanta Beat, ao lado de Sun Yen, a melhor chinesa da história.

 

Mas, ao contrário de Yen, que não foi além de uma final em 1999, Sawa deu mais passos rumo ao Olimpo… e não apenas pela medalha de prata em Londres-2012. A glória individual foi uma consequência natural em 2011, depois de tudo o que fez na fase final. O troféu de melhor jogadora do mundo, atribuído pela FIFA, foi uma distinção esperava. Sawa podia ser a ponta da espada mas não se limitava a isso. Era especial.