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É Desporto

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26 de Maio, 2019

Nadine Angerer. Ser campeã sem sofrer qualquer golo

Rui Pedro Silva

Nadine Angerer

Entrou para a história ao ser a primeira – e até agora única - guarda-redes a ir da estreia na fase de grupos até ao apito final do jogo decisivo sem sofrer qualquer golo. A Alemanha conquistou o bicampeonato mundial e na baliza a heroína até um penálti de Marta defendeu.

 

Mary Harvey foi a primeira guarda-redes titular a conquistar um Mundial. Em 1991, pelos Estados Unidos, fez os 480 minutos dos seis jogos da campanha (edição tinha duas partes de 40 minutos) e sofreu um total de cinco golos.

 

Quatro anos mais tarde, o testemunho passou para a norueguesa Bente Nordby. Depois de uma fase de grupos imaculada, a futura campeã sofreu o primeiro – e único – golo na fase final aos 86 minutos do jogo dos quartos-de-final, com a Dinamarca. Feitas as contas, só foi batida uma vez em 540 minutos e levou a fasquia.

 

Briana Scurry, outra norte-americana, não conseguiu fazer melhor em 1999. Até porque os Estados Unidos têm sempre um estilo de futebol espetáculo, em que os golos são muito prováveis, ainda que com índices muito maiores no ataque do que na defesa. Neste caso, a guarda-redes esteve apenas 92 minutos até ser batida pela primeira vez, naturalmente ainda na fase de grupos. Até erguer o troféu na mítica final de Pasadena, sofreu ainda mais dois golos, da Alemanha nos quartos-de-final.

 

Em 2003, surgiu a primeira alemã da conversa. Ao contrário dos Estados Unidos, o estilo germânico não permite contemplações. Marcam-se golos ao mesmo ritmo que se anula toda e qualquer jogada que as rivais tentem fazer. Mas nem por isso a marca de Bente Nordby foi superada. Aliás, Silke Rottenberg foi batida logo aos quatro minutos da estreia, contra o Canadá. No balanço final, sofreu quatro golos em 548 minutos: 90 de cada um dos seis jogos mais oito do prolongamento no jogo decisivo até surgir o golo de ouro de Nia Künzer.

 

O futebol feminino foi evoluindo mas a procura pelo golo e a propensão para marcar tanto como sofrer estava viva. A média de golos aumentou de 2003 para 2007 mas uma mulher, Nadine Angerer, mostrou-se imune a todo este fenómeno.

Festejo do título em 2007

Receber o testemunho de Silke Rottenberg, guarda-redes titular nas fases finais de 1999 e 2003, não era simples, mas Angerer não era apenas mais uma pessoa para o cargo. Em 2003, com 24 anos, tinha visto do banco, sem qualquer oportunidade, o título inédito das alemãs. Quatro anos antes, o lugar tinha sido o mesmo: à sombra de Rottenberg.

 

Em 2007, finalmente titular, sabia que precisava de trazer algo mais para que fosse vista com outro brilho. Tudo começou com a Argentina na fase de grupos: goleada por 11-0 e uma exibição tranquila, tal o domínio esmagador. Depois veio a Inglaterra (0-0) e o Japão (2-0). Na fase a eliminar, Coreia do Norte (3-0) e Noruega (3-0) também ficaram em branco. Ali, já com 450 minutos jogados, Nadine Angerer mantinha-se com a baliza inviolável. O recorde estava mais perto do que nunca mas do outro lado havia o Brasil de Marta.

 

Nadine Angerer recorda que «foi um jogo muito emocionante». A Alemanha estava a vencer desde os 52 minutos, com um golo de Birgit Prinz, e depois Bresonik carregou uma adversária em falta. Penálti. Aos 64 minutos, Marta, vista como uma das melhores jogadoras do mundo, foi chamada a bater.

 

«O jogo estava num momento de viragem. Lembro-me de que os ânimos estavam ao rubro mas eu sentia-me muito calma. Como guarda-redes, tinha tudo a ganhar num penálti. Sabia que a pressão estava do lado da Marta», disse numa reportagem da FIFA.

Angerer defende penálti de Marta

O remate da brasileira foi denunciado e apenas ligeiramente para o lado direito de Angerer, que defendeu sem grande dificuldade. «Tinha os olhos todos em mim e tinha muito para dar à equipa. É um momento que vou recordar para sempre na minha vida», garantiu.

 

O ponto de viragem falado por Nadine Angerer não chegou a sê-lo. A Alemanha dilatou a vantagem aos 86 minutos, por Simone Laudehr, e chegou ao final da prova sem sofrer qualquer golo. Sem surpresa, Nadine Angerer foi eleita uma das melhores guarda-redes da prova ao lado de… Bente Norby. Essa mesma, a norueguesa de 1995, agora com 33 anos.

 

Ser campeã sem sofrer golos, depois de 540 minutos jogados, era inédito, mas Nadine Angerer foi ainda mais longe da edição seguinte. Em 2011, na prova disputada na Alemanha, somou mais 82 minutos ao registo, altura em que Christine Sinclair fez o golo do Canadá na derrota por 2-1.

 

Hoje, os 622 minutos sem sofrer golos continuam a ser recorde em fases finais do Mundial. Edições masculinas incluídas.