Nia Künzer. O golo de ouro que decidiu o título
Saiu do banco para proteger o quarteto defensivo mas entrou na história do futebol mundial. Foi ela que, de cabeça, garantiu a vitória contra a Suécia em 2003, de cabeça, aos 98 minutos. Para a Alemanha, foi apenas mais um troféu conquistado com o golo de ouro.
Há quem veja o copo meio vazio e quem prefira pensar que está meio cheio. O otimismo opõe-se ao pessimismo em muitos setores da vida e o futebol não é exceção. Golo de ouro, por exemplo, foi uma forma simpática de centrar a atenção no vencedor e esquecer a expressão trágica para quem perde: morte súbita.
Perder por causa desta regra custa… muito. Estar num prolongamento de tudo ou nada é difícil e acabar com o objetivo a escapar por entre os dedos deixa marca. Portugal tem a sua parte de desilusões: perdeu a final do Europeu sub-21 em 1994 com a Itália e foi afastado na meia-final do Euro-2000 à conta de um penálti de Zidane depois da ilustre mão de Abel Xavier.
Outros países, porém, têm memórias muito mais felizes. Para eles, a morte súbita não existe. É verdadeiramente substituída pela glória da terminologia de «golo de ouro». Falamos, claro está, da Alemanha. Os germânicos não só são peritos em levar a melhor nos penáltis como têm um registo impressionante de golos de ouro em finais.
Quem não se lembra de Bierhoff em 1996? Jogava-se a final do Europeu em Wembley e a República Checa vencia por 1-0. O avançado cabeceador saiu do banco aos 69 minutos, forçou o prolongamento com um golo aos 73 minutos e garantiu o título ao minuto 95. Fácil, não? E simples, porque cinco anos depois, novamente numa final de um Europeu, a Alemanha, agora em versão feminina, repetiu a façanha.
Eram bicampeãs em título e estavam a jogar a final em casa (Ulm). O jogo manteve-se empatado até ao prolongamento, fase em que Claudia Müller, que tinha saído do banco aos 55 minutos, decidiu com um golo (de ouro, claro está), aos 98 minutos.
Quando Müller garantiu o título da Alemanha, Nia Künzer era…comentadora televisiva. Internacional desde os 17 anos (1997), tinha ficado de fora da competição devido às lesões. Mas, dois anos depois, fez mesmo parte das eleitas de Tina Theune e entrou para a história da Alemanha, garantindo o primeiro título mundial feminino da seleção.
Nia Künzer nunca foi talhada para resolver. Na final, a sua entrada com a Suécia aos 88 minutos pretendeu reforçar e ajudar o quarteto defensivo numa altura em que o desgaste acumulado começava a fazer a diferença. Mas, como Bierhoff e Müller antes dela, viria a ser fundamental.
A jogadora que nasceu no Botswana em 1980, quando os pais estavam numa missão de desenvolvimento, subiu à área para um livre lateral e Renate Lingor nem teve dúvidas sobre quem seria a referência para colocar a bola. Não, Nia Künzer não era extremamente alta (1,68 metros), mas o passado como atleta do salto em altura – que experimentou antes de se dedicar exclusivamente ao futebol – conferia-lhe um poder de impulsão especial.
E assim foi. Aos 98 minutos, tal como dois anos antes, chegou o golo decisivo. Lingor bateu para a área, perto da zona de penálti, e Künzer cabeceou de forma acrobática e desconjuntada para bater a sueca Caroline Jönsson.
«No início fiquei confusa porque não sabia o que se estava a passar. Não entendia, até porque o meu cabeceamento nem tinha sido grande coisa. Mas dois ou três segundos depois, enquanto as minhas colegas me começavam a abraçar, percebi finalmente que éramos campeãs», afirmou Nia, reconhecendo que «quem joga futebol sonha com marcar o golo decisivo no Mundial.»
Anos mais tarde, em declarações à FIFA, o orgulho ainda não tinha desvanecido. «Foi um momento indescritível. Marcar para vencer um Mundial é sempre especial. Queria era vencer, mas o facto de ter sido eu e de ter sido um golo de ouro é uma loucura. Foi um momento fabuloso na minha vida e uma honra fantástica da qual estou extremamente orgulhosa», disse.
Promovida a heroína nacional, Nia Künzer não teve um grande resto de carreira. As lesões continuaram a persegui-la sem tréguas e o último jogo pela Alemanha chegou ainda em 2003. A 15 de novembro, disse adeus aos relvados numa goleada por 13-0 a… Portugal.