Bettina Wiegmann. A rainha das grandes penalidades
Mundial-2003 fez com que a capitã da Alemanha entrasse para a história por vários motivos. Ergueu o inédito troféu da sua seleção mas antes já se tinha tornado a primeira jogadora da história a marcar em quatro fases finais. E a converter oito grandes penalidades com sucesso sem precisar de chegar aos desempates.
Os elogios a Bettina Wiegmann, camisola dez da Alemanha e capitã da seleção no Mundial-2003, são óbvios no relatório técnico da prova. «Possivelmente a melhor jogadora do mundo em termos de domínio de ritmo de jogo, fez uma enorme diferença. Apesar de ter a capacidade de baixar o ritmo, consegue igualmente dinamizar os ataques. O seu timing e escolhas são excelentes, e as suas decisões influenciam o ritmo do jogo a favor da sua equipa.»
Quando Bettina Wiegmann capitaneou a Alemanha rumo ao primeiro título mundial da sua história já tinha 31 anos e uma experiência assinalável em fases finais. Se o seu lugar nos livros estará para sempre garantido à conta desse momento especial, também a nível individual a alemã se distinguiu de todas as outras.
A jogadora de Euskirchen, uma cidade perto de Bona, estreou-se em fases finais em 1991, com apenas 19 anos, e desde logo se percebeu que era uma líder dentro e fora de campo. Doze anos depois, na temporada da sua despedida, os números falaram mais alto. E nem teria sido necessário ser campeã do mundo, apesar de essa ter sido a cereja no topo do bolo.
Sim, Wiegmann era perita em dinamizar os ataques da Alemanha – e assim chegou à final em 1995, a uma medalha de bronze olímpica em 2000 e ao título mundial de 2003. Mas o sangue que lhe corria nas veias era gelado. Como garante o relatório técnico, tomava sempre a opção certa, por isso não se estranhou que desde adolescente tivesse assumido a responsabilidade de marcar as grandes penalidades da Alemanha.
Uma curiosidade? Foi preciso esperar até 26 de junho de 2015 (!) para a Alemanha se ver envolvida no primeiro desempate por grandes penalidades. Nos quartos de final contra a França, Behringer, Laudehr, Peter, Marozsan e Sasic não vacilaram e marcaram todas, garantindo o triunfo por 5-4.
O legado de Wiegmann (número 8 na imagem, durante o Mundial-1991) foi bem guardado. Com a alemã em campo, a seleção pode nunca ter precisada da frieza durante o desempate, mas o mesmo não se pode dizer durante os jogos. Os penáltis apareceram frequentemente durante as fases finais e Wiegmann nunca falhou. Foram dois em 1991, dois em 1995, dois em 1999 e dois em 2003. Assim mesmo, aos pares. E sempre com o mesmo resultado final: golo da Alemanha.
Não é de espantar, portanto, que a alemã seja ainda hoje a rainha dos penáltis em Mundiais – ninguém tem tantos marcados (e com sucesso) como ela. Nos três primeiros, Taiwan e Dinamarca-1991 e Suécia-1995, o penálti inaugurou o marcador. Outros houve em que a equipa estava a perder e foi preciso empatar. Desse por onde desse, fosse qual fosse a situação, Bettina Wiegmann não tremia e fazia exatamente aquilo que se esperava dela.
Por isso, a 20 de setembro de 2003, quando o Canadá estava a vencer 1-0 e houve um penálti para a Alemanha, todos se prepararam para ver a história habitual. Mas, desta vez, Wiegmann não só marcou como escreveu um novo capítulo: foi a primeira jogadora da história a festejar um golo em quatro fases finais diferentes. Sim, a chinesa Sun Yen imitou-a no dia seguinte e Mia Hamm cinco dias depois, mas a primeira é sempre especial. Hoje, a estatística demonstra que houve nove jogadoras que já o conseguiram fazer, mas Bettina Wiegmann foi a primeira da lista.
Quando a fase final de 2003 terminou, da melhor maneira, Wiegmann sabia que tinha alcançado tudo o que podia. Campeã do mundo e com um total de onze golos em fases finais (2003 foi a única em que não conseguiu marcar sem ser de penálti), só Michelle Akers tinha festejado mais vezes num Mundial.
Bettina Wiegmann era especial. E dos onze metros era infalível. Uma vez mais, a tecnologia alemã a destacar-se.