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É Desporto

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17 de Maio, 2019

Israel Folau. Um cristão que acabou no inferno

Rui Pedro Silva

Israel Folau

Estrela do râguebi australiano justificou mensagem divulgada nas redes sociais contra bêbedos, homossexuais, adúlteros, mentirosos, fornicadores, bandidos, ateus e idólatras como um dever de cristão. Federação não mostrou contemplações perante a quebra do código de conduta e rescindiu contrato avaliado em quatro milhões de dólares.

 

Israel Folau nasceu a 3 de abril de 1989 na Austrália. Filho de pais do Tonga, começou a mostrar talento para o râguebi desde tenra idade e chegou facilmente a uma posição de destaque entre os Wallabies. Até hoje, fez 62 jogos com um total de 32 ensaios e 160 pontos. A partir de hoje… não fará mais nada.

 

Em 2018 Folau assinou um contrato de quatro anos avaliado em quatro milhões de dólares com a Rugby Australia – que lhe permitia representar os Wallabies e os New South Wales Waratahs – mas tudo mudou depois de uma publicação no Instagram a 10 de abril de 2019.

 

Nela, partilhou uma imagem que dizia que o inferno estava à espera de um conjunto de pessoas: bêbedos, homossexuais, adúlteros, mentirosos, fornicadores, bandidos, ateus e idólatras. A mensagem desencadeou uma investigação e nesta sexta-feira, curiosamente no Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, o tribunal decidiu que o contrato entre o jogador e a Rugby Australia devia ser denunciado.

 

Israel Folau mantém a sua posição de inocente e recusou-se a apagar a publicação durante este processo. «Como australianos, nascemos com alguns direitos, incluindo o direito à liberdade de religião e o direito à liberdade de expressão. A fé cristã sempre fez parte da minha vida e acredito que espalhar a mensagem de Deus é um dever meu como cristão. Manter a minha crença religiosa não me deve impedir de trabalhar ou jogar pelo meu clube ou pelo meu país», reagiu.

Israel Folau não tem para onde se virar

Em comunicado, a Rugby Australia, através da CEO Raelene Castle, refere que «esta é uma decisão que vai mudar o panorama do desporto na Austrália e, possivelmente, em todo o mundo». «Queríamos garantir que demorávamos o tempo necessário para tomar a decisão certa», acrescentou.

 

O argumento de Folau é rebatido por Castle: «No râguebi não há espaço para alguém que põe as suas visões e posições à frente das dos outros. A nossa mensagem clara para todos os adeptos é a de que temos de defender os nossos valores e qualidades como inclusão, paixão, integridade, disciplina, respeito e trabalho de equipa».

 

Raelene Castle acrescentou que «as pessoas têm de se sentir seguras, independentemente do seu género, raça, passado, religão ou sexualidade» e relembrou que não foi a Rugby Australia que escolheu estar nesta posição. «Foi Israel, através das suas ações, que não deixou outro caminho a seguir que não este», continuou.

 

Israel Folau perdeu a possibilidade de continuar a jogar na Austrália – tanto na seleção como por clubes – mas mantém em aberto a opção de jogar no estrangeiro. Contudo, a posição pública indicia que Folau encara todo este processo como «uma interferência de Satã» e que o regresso ao râguebi na Austrália será alcançado através da «vontade de Deus».

 

Para já, o jogador diz-se «profundamente triste» com a decisão e garante estar a «considerar as opções». Além do desfecho com a Rugby Australia, Folau perdeu também o contrato como embaixador da Asics. A marca considerou a ligação com o jogador «insustentável».

17 de Maio, 2019

Elena Danilova. A goleadora precoce em fases finais

Rui Pedro Silva

Elena Danilova em 2005

Tinha 16 anos e 107 dias quando marcou à Alemanha, futura campeã mundial, a 2 de outubro de 2003, em Portland. O golo nos quartos-de-final serviu de pouco (as germânicas venciam 4-0 e estavam a caminho da maior goleada da prova – 7-1) mas permitiu à adolescente entrar na história: nunca alguém tão novo tinha marcado num Mundial de futebol feminino.

 

Quando Elena nasceu a 17 de junho de 1987, ainda havia União Soviética e a FIFA estava apenas a pensar em organuzar oficialmente um Mundial de futebol feminino. Os planos para a edição inaugural já estavam em andamento, com a preparação de um teste na China em 1988, mas João Havelange, Sepp Blatter e restantes estavam longe de imaginar o sucesso que a prova alcançaria.

 

Em 2003, disputava-se a quarta fase final da história e, pela segunda vez, a Rússia tinha garantido o apuramento. Com um sorteio amigável, terminou o grupo D na segunda posição, atrás da China mas naturalmente à frente do Gana e da Austrália, duas equipas historicamente mais vulneráveis.

 

Elena Danilova tinha sido convocada para a fase final mas assistiu aos três jogos (2-1 vs. Austrália, 3-0 vs. Gana e 0-1 vs. China) do banco de suplentes, sem nunca merecer a confiança do selecionador Yuri Bistritskiy.

 

Nos quartos-de-final, a adversária era a Alemanha. A equipa de Prinz e companhia era uma das maiores favoritas à conquista da prova e a Rússia não tinha argumentos. Apesar de ser um encontro da fase a eliminar, o 7-1 final foi uma das duas maiores goleadas da prova, a par com o Noruega-Coreia do Sul (também 7-1), na fase de grupos.

 

A experiência germânica assustava. Além de Birgit Prinz havia também, por exemplo, Bettina Wiegmann, a alemã que esteve na fase final de 1991, numa altura em que Elena tinha apenas quatro anos.

 

A diferença de valores era enorme mas ao intervalo a Alemanha ainda só vencia por 1-0, com um golo de Mueller aos 25 minutos. Bistritskiy não estava satisfeito e, depois de ter lançado Denchtchik no lugar de Svetlitskaya aos 34 minutos, optou por estrear Danilova ao intervalo, substituindo Letyushova.

 

Elena Danilova não fez história assim que entrou. Com 16 anos e 107 dias, não conseguiu ser a mais nova de sempre a jogar numa fase final: essa distinção pertencia à nigeriana Ifeanyi Chiejine (16 anos e 34 dias) desde um Nigéria-Coreia do Norte a 20 de junho de 1999. Mas a história estava à sua espera.

 

A Rússia não teria hipóteses: a Alemanha marcou novamente aos 57’, 60’ e 62’, acabando de vez com a incerteza no vencedor do encontro, mas Danilova coroou a sua estreia com um golo aos 70 minutos e tornou-se, numa marca que mantém até hoje, a jogadora mais jovem da história a marcar numa fase final de um Mundial de futebol feminino.

 

O 7-1 final não apagou o brilho do momento de Danilova. Sem grande tradição no futebol feminino, a Rússia não mais voltou a participar numa fase final, por isso aquele golo continua a ser até hoje o último da seleção numa fase final.

 

O talento precoce de Danilova foi confirmado nos anos seguintes. Em 2005, conduziu a Rússia ao título europeu de sub-19 numa prova em que juntou o troféu de melhor jogadora ao de melhor marcadora, com nove golos. Coletivamente, no entanto, o sucesso pela seleção acabou aí.

 

Com 12 golos em 34 jogos pela seleção principal, Danilova não conseguiu contribuir para que a Rússia voltasse a marcar presença numa fase final.