Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

É Desporto

É Desporto

14 de Maio, 2019

Quando o Coventry apanhou o metro para fugir ao trânsito e ganhou um jogo

Rui Pedro Silva

Adebola foi o herói dentro de campo

Londres, 25 de novembro de 2006. O Queens Park Rangers recebe o Coventry City num jogo a contar para o Championship mas o trânsito londrino ameaça transformar a viagem até ao Loftus Road Stadium um pesadelo.


Com o relógio a avançar sem contemplações e a hora do jogo cada vez mais próxima, a equipa decide adotar uma solução invulgar. «Comprámos 23 bilhetes de ida na estação de metro de Hanger Lane. Fomos um pouco gozados por adeptos do West Ham e do Fulham, mas o nosso invulgar herói foi o Jay Tabb. Ele sabia que tínhamos de mudar em Hammersmith para depois acabar em Shepherd’s Bush», disse o treinador Mickey Adams.


A solução foi melhor do que continuar no autocarro mas ainda assim os jogadores só conseguiram chegar ao estádio 40 minutos antes do apito inicial. Sem tempo para a habitual preleção e com um aquecimento literalmente a correr, os jogadores do Coventry aproveitaram esta iniciativa excêntrica para surpreender o QPR e vencer por 1-0, graças a um golo de Dele Adebola.


«Os adeptos que viajaram connosco nem conseguiam acreditar. Isto prova que toda aquela conversa antes do jogo é uma treta», acrescentou Adams. O herói Jay Tabb, por outro lado, contribuiu com o que tinha a contribuir através do conhecimento do metro de Londres, uma vez que ficou de fora do jogo.


«Fiquei com um bocado com pena dele. Ajudou-nos e depois nem sequer o pus a jogar», afirmou Mickey Adams no final de um encontro com 12840 espetadores que, na sua esmagadora maioria, chegaram a horas.

14 de Maio, 2019

Sun Yen. A sensação chinesa que seduziu o resto do mundo

Rui Pedro Silva

Sun Yen em baixo à esquerda

Foi o símbolo da China no Mundial-1999. Ajudou a equipa a atingir a final e despediu-se com sete golos (o máximo na prova) e com o título de melhor jogadora. Foi insuficiente para garantir o título contra os Estados Unidos, mas os norte-americanos não se esqueceram dela: no ano seguinte, foi a primeira escolha do draft do novo campeonato.

 

«O melhor momento da minha carreira foi a final do Mundial-1999. O Rose Bowl estava cheio de gente [90 mil pessoas]», disse Sun Yen, anos mais tarde. Para a chinesa de 162 centímetros, outrora desmotivada por um treinador que lhe disse que nunca conseguiria ser jogadora, quando ainda era adolescente, a fase final daquela prova nos Estados Unidos foi a consagração do maior talento que a China já viu no futebol.

 

Filha de um jogador e acérrimo fã de futebol, começou a ver jogos desde pequena e não perdeu tempo para começar a jogar. Mas, um dia, em Xangai, um treinador foi cruel e disse-lhe que não tinha futuro. «Vi aquilo como uma motivação. Procurei outra equipa e o novo treinador disse-me que se treinasse muito, poderia tornar-me uma boa jogadora.»

 

Sun Yen tinha 17 anos e estávamos em 1990. Um ano depois, fazia parte da seleção chinesa no primeiro Mundial da FIFA. O fenómeno estava apenas a começar. Yen fez um golo no Mundial-1991, dois no Mundial-1995 e foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996.

 

Mas nenhum outro momento foi tão importante e marcante como a participação no Mundial-1999. Não só a China atingiu a final, perdida no desempate nas grandes penalidades para os Estados Unidos, como Sun Yen brilhou com sete golos e o título de melhor jogadora.

 

Nessa altura, apenas Michelle Akers tinha mais golos do que ela em fases finais da prova. Nessa altura, todos os norte-americanos sabiam quem era e invejavam-lhe os atributos. Não foi por acaso, portanto, que no final de 2000 a chinesa tenha sido a primeira escolha do draft da nova liga profissional norte-americana. Curiosamente, foi escolhida pelas Atlanta Beat, equipa da cidade que a tinha visto vencer a medalha de prata quatro anos antes.

 

Os problemas físicos impediram-na de dar um contributo sério, ao seu nível. «Infelizmente só vimos fogachos da sua qualidade porque foi obrigada a lidar com dores no joelho durante este tempo. Com a Sun Wen era mágico, simplesmente mágico. Nunca esquecerei algumas das coisas que fez, e quantas vezes nos deixou a todos no treino a pensar que nunca tínhamos visto algo assim», disse o treinador Tom Stone.

 

Nas palavras da selecionadora Ma Liangxing, Sun Yen era especial. Quão especial? «Era como Maradona, não só marcava como criava oportunidades. E tinha o remate e o passe longo do Figo e a visão de jogo de Zidane», afirmou, sem contemplações.

Sun Yen no Mundial-1999

O adeus aos grandes palcos deu-se no Mundial-2003, novamente nos Estados Unidos. Marcou o último golo da sua carreira em fases finais e a China não foi além dos quartos-de-final. Por esta altura, já tinha sido considerada a melhor jogadora do século pelo voto popular organizado pela FIFA, tal e qual como Maradona. O seu Pelé foi Michelle Akers, a norte-americana que reuniu as preferências dos votos dos especialistas.

 

Com 106 golos em 152 jogos pela China, Sun Yen deixou saudades. «O futebol é apenas um jogo e a vida deve continuar», afirmou, reconhecendo que foi difícil ser jogadora de futebol profissional na China, porque havia tempo para mais nada.

 

A nova vida – que incluiu uma breve reaparição – seria sempre complicada: «Vou sentir-me triste porque é algo que faço há 18 anos. Casei-me com o futebol e vou precisar de algum tempo para me habituar a uma vida diferente».

 

Sun Yen continua a ser um símbolo do futebol chinês e referência máxima da competição de 1999. «Houve alguém que me perguntou se seria capaz de encontrar uma nova Sun Wen. Disse que era impossível. Não se pode ensinar alguém a ser um talento. É preciso que apareça», afirmou Ma Liangxing.

 

Yen era especial. Foi a única chinesa a disputar os primeiros quatro Mundiais e provou a importância de treinar e acreditar no talento próprio, mesmo quando todos à volta parecem desconfiar dele.