Foi o símbolo da China no Mundial-1999. Ajudou a equipa a atingir a final e despediu-se com sete golos (o máximo na prova) e com o título de melhor jogadora. Foi insuficiente para garantir o título contra os Estados Unidos, mas os norte-americanos não se esqueceram dela: no ano seguinte, foi a primeira escolha do draft do novo campeonato.
«O melhor momento da minha carreira foi a final do Mundial-1999. O Rose Bowl estava cheio de gente [90 mil pessoas]», disse Sun Yen, anos mais tarde. Para a chinesa de 162 centímetros, outrora desmotivada por um treinador que lhe disse que nunca conseguiria ser jogadora, quando ainda era adolescente, a fase final daquela prova nos Estados Unidos foi a consagração do maior talento que a China já viu no futebol.
Filha de um jogador e acérrimo fã de futebol, começou a ver jogos desde pequena e não perdeu tempo para começar a jogar. Mas, um dia, em Xangai, um treinador foi cruel e disse-lhe que não tinha futuro. «Vi aquilo como uma motivação. Procurei outra equipa e o novo treinador disse-me que se treinasse muito, poderia tornar-me uma boa jogadora.»
Sun Yen tinha 17 anos e estávamos em 1990. Um ano depois, fazia parte da seleção chinesa no primeiro Mundial da FIFA. O fenómeno estava apenas a começar. Yen fez um golo no Mundial-1991, dois no Mundial-1995 e foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996.
Mas nenhum outro momento foi tão importante e marcante como a participação no Mundial-1999. Não só a China atingiu a final, perdida no desempate nas grandes penalidades para os Estados Unidos, como Sun Yen brilhou com sete golos e o título de melhor jogadora.
Nessa altura, apenas Michelle Akers tinha mais golos do que ela em fases finais da prova. Nessa altura, todos os norte-americanos sabiam quem era e invejavam-lhe os atributos. Não foi por acaso, portanto, que no final de 2000 a chinesa tenha sido a primeira escolha do draft da nova liga profissional norte-americana. Curiosamente, foi escolhida pelas Atlanta Beat, equipa da cidade que a tinha visto vencer a medalha de prata quatro anos antes.
Os problemas físicos impediram-na de dar um contributo sério, ao seu nível. «Infelizmente só vimos fogachos da sua qualidade porque foi obrigada a lidar com dores no joelho durante este tempo. Com a Sun Wen era mágico, simplesmente mágico. Nunca esquecerei algumas das coisas que fez, e quantas vezes nos deixou a todos no treino a pensar que nunca tínhamos visto algo assim», disse o treinador Tom Stone.
Nas palavras da selecionadora Ma Liangxing, Sun Yen era especial. Quão especial? «Era como Maradona, não só marcava como criava oportunidades. E tinha o remate e o passe longo do Figo e a visão de jogo de Zidane», afirmou, sem contemplações.
O adeus aos grandes palcos deu-se no Mundial-2003, novamente nos Estados Unidos. Marcou o último golo da sua carreira em fases finais e a China não foi além dos quartos-de-final. Por esta altura, já tinha sido considerada a melhor jogadora do século pelo voto popular organizado pela FIFA, tal e qual como Maradona. O seu Pelé foi Michelle Akers, a norte-americana que reuniu as preferências dos votos dos especialistas.
Com 106 golos em 152 jogos pela China, Sun Yen deixou saudades. «O futebol é apenas um jogo e a vida deve continuar», afirmou, reconhecendo que foi difícil ser jogadora de futebol profissional na China, porque havia tempo para mais nada.
A nova vida – que incluiu uma breve reaparição – seria sempre complicada: «Vou sentir-me triste porque é algo que faço há 18 anos. Casei-me com o futebol e vou precisar de algum tempo para me habituar a uma vida diferente».
Sun Yen continua a ser um símbolo do futebol chinês e referência máxima da competição de 1999. «Houve alguém que me perguntou se seria capaz de encontrar uma nova Sun Wen. Disse que era impossível. Não se pode ensinar alguém a ser um talento. É preciso que apareça», afirmou Ma Liangxing.
Yen era especial. Foi a única chinesa a disputar os primeiros quatro Mundiais e provou a importância de treinar e acreditar no talento próprio, mesmo quando todos à volta parecem desconfiar dele.