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É Desporto

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11 de Maio, 2019

Alicia Ferguson. O vermelho mais rápido de sempre

Rui Pedro Silva

Reação após a expulsão

Tinha 17 anos quando viajou da Austrália até aos Estados Unidos para representar a seleção no Mundial-1999. No jogo de estreia, contra o Gana, não saiu do banco de suplentes. A seguir, contra a Suécia, voltou a não ser opção para o selecionador Greg Brown. Finalmente, contra a China, a avançada mereceu a confiança e foi titular. Jogou 95 segundos.

 

Estávamos a 26 de junho de 1999, no terceiro e último jogo da fase de grupos. A Austrália ainda não estava eliminada mas, jogando com a China e tendo a Suécia um jogo fácil frente ao Gana, era como se estivesse. Greg Brown sabia disso e aproveitou para promover a estreia de algumas jogadoras.

 

Alicia Ferguson era uma delas. Ali, em East Rutherford, em Nova Jérsia, as bancadas tinham quase 30 mil pessoas, praticamente o dobro dos jogos anteriores. A jogadora de 17 anos praticamente não teve tempo para tocar na bola quando, numa jogada inofensiva da China, decidiu fazer um carrinho violento, atingindo a adversária Bai Jie.

 

A árbitra norte-americana Sandra Hunt não teve dúvidas: vermelho direto. É capaz de ter sido a decisão mais fácil da sua carreira, de tão despropositada e óbvia que a entrada foi. Alicia Ferguson perdeu o controlo e despediu-se do seu primeiro Mundial com apenas 95 segundos jogados.

 

Até sair das quatro linhas, demorou mais de um minuto. A caminhada foi lenta, como se estivesse em transe, como se o seu cérebro ainda não tivesse conseguido processar o que tinha acabado de acontecer. Quando cruzou a linha lateral, já se viam as primeiras lágrimas, mas só depois de ter começado a ser reconfortada pelas colegas e pelos membros da equipa técnica é que se desmanchou num pranto, percebendo que tinha dado cabo da sua estreia numa fase final.

 

Alicia Ferguson anos mais tarde

Hoje, vinte anos depois, Alicia Ferguson está na história: é dela o vermelho mais rápido num Mundial de futebol feminino. Hoje, sabe que pecou por se ter deixado afetar pela situação. «É algo que se aprende com a experiência, não nos deixarmos afetar pela situação. No final, é apenas mais um jogo de futebol. Aprendi isto da pior maneira em 1999, quando me deixei afetar pela situação e fui expulsa logo no início.»

 

A carreira de Alicia Ferguson podia ter ficado manchada mas conseguiu recuperar. Afinal, era vista como uma das mais talentosas do país e tinha sido a mais nova a receber uma bolsa da federação australiana para preparar a presença na fase final.

 

No título continental de 1998, apesar dos 16 anos, tinha contribuído com quatro golos: dois no 21-0 à Samoa Americana e outros dois no 17-0 às Fiji. Na decisiva final, contra a Nova Zelândia, não foi utilizada.

 

Alicia Ferguson aprendeu com os erros e, como veio a dizer anos mais tarde, nada melhor do que a experiência para saber lidar com a situação. Em 2000, ainda adolescente, fez parte da comitiva olímpica e em 2007, já depois de as lesões lhe terem dado cabo de uma fase importante da carreira, voltou a uma fase final de um Mundial.

 

No apuramento, na Taça Asiática, tinha capitaneado a Austrália na campanha que só foi travada nos penáltis da final contra a China – Ferguson não tremeu e marcou o seu. Depois, em 2007, não foi imprescindível mas atuou nos três encontros da fase de grupos: uma vez titular, duas vezes suplente utilizada e… zero cartões vermelhos. Nos quartos-de-final ficou de fora contra o Brasil e viu a Austrália ser eliminada sem nada poder fazer.