Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

É Desporto

É Desporto

06 de Maio, 2019

Margarete Pioresan. A guarda-redes que veio do andebol

Rui Pedro Silva

Meg fez carreira nas balizas

Chama-se Margarete Maria Pioresan mas ficou conhecida no mundo do futebol simplesmente por Meg. Foi a guarda-redes do Brasil nos Mundiais de 1991 e de 1995, e nos Jogos Olímpicos de 1996, e bateu recordes de longevidade que não estão ao alcance de qualquer atleta. Basta ver que ainda hoje detém o recorde de estreante mais velha numa fase final: tinha 35 anos e 320 dias quando o Brasil defrontou o Japão em 1991.

 

Meg nunca foi uma jogadora de futebol. A sua modalidade favorita sempre foi o andebol e foi aí que começou a jogar na universidade, em 1975. Mais tarde, porém, quando foi viver para o Rio de Janeiro, foi contactada pelo presidente do EC Radar.

 

No início da década de 80, Meg era uma figura da seleção brasileira de andebol. «Eu era apaixonada por andebol mas veio o velho e conhecido clube Radar, que precisava de uma guarda-redes para a equipa de futebol. O presidente do clube chamou-me, disse-me que eu já tinha experiência internacional», explicou em entrevista a Katia Rubio.

 

A ausência de tradição de futebol feminino no Brasil permitiu este recrutamento estranho, aos dias de hoje, e abriu espaço para que Meg aliasse o futebol ao andebol até 1985. Continuava a jogar pela seleção de andebol e, quando tinha tempo, defendia as balizas do EC Radar, histórico clube brasileiro do futebol feminino, crónico campeão e base da espinha dorsal da seleção brasileira no Mundial-1991.

 

Em 1985, porém, Meg decidiu que estava na altura de deixar o futebol. Tinha 29 anos e sentia-se sobrecarregada ao continuar a juntar os treinos de uma e outra modalidade. O futebol exigia muito dela e o seu coração continuava com o andebol.

 

O adeus ao futebol não foi eterno. Quatro anos depois, já depois de conquistar a medalha de bronze na prova de andebol dos Jogos Pan-Americanos de 1987, o velho conhecido voltou a bater-lhe à porta. Desta vez, havia um objetivo longínquo que a fez tremer: a possibilidade de cumprir o sonho de chegar aos Jogos Olímpicos.

 

Em 1988, por altura do Mundial experimental na China, João Havelange forçou a convocatória de Meg mas esta recusou: continuava a concentrar-se no andebol. Depois, quando decidiu dizer adeus à sua modalidade de eleição, o futebol foi uma alternativa natural.

 

A estreia na China, com 35 anos, fez dela uma recordista até hoje mas foi quatro anos depois, no Suécia-1995, que os astros se alinharam para cumprir a sua ambição. O Brasil ainda não era o que é hoje mas conseguiu bater surpreendentemente a Suécia, num jogo em que Meg brilhou entre os postes. Graças a esse triunfo, o Brasil carimbou o apuramento para os Jogos Olímpicos, por ser a melhor seleção entre as últimas classificadas de cada grupo.

 

A idade continuava a avançar – jogou em Atlanta com 40 anos – mas esse nunca foi um problema de Meg. Tratava-se bem e sentia-se com força para continuar, algo que fez até 2000, com 44 anos, ao serviço do Vasco da Gama.

 

A adaptação ao futebol também não foi um enorme problema. «A minha adaptação foi de tempo e espaço, por causa das diferenças de tamanho da baliza e das técnicas. Eu tinha agilidade e coragem, mas tive de me adaptar», confessou.

 

A ingratidão do futebol foi algo que não teve problema em concluir sozinha: «É muito mais difícil do que o andebol. O andebol é um jogo de vinte ou trinta golos. Se você falhar num, pode fazer cinco defesas e recupera. No futebol não. Se você escorregar no relvado e errar, está lixada. Depois pode fazer dez defesas ótimas, mas todos se vão lembrar daquele golo».

 

As memórias eternas de Meg nunca passaram por isso. Continuam a ser a da guarda-redes do andebol que mudou de desporto para defender as balizas brasileiras no futebol. Era velha, das mais velhas a jogar um Mundial na história, mas isso nunca a afetou. No último jogo que fez numa fase final, tinha 39 anos e 159 dias e sofreu seis golos da Alemanha. O primeiro deles foi marcado por Birgit Prinz, futura figura emblemática da seleção europeia, na altura com apenas 17 anos. Os extremos tocaram-se.