John Havlicek. Morreu o ladrão mais famoso na história da NBA
Foi oito vezes campeão da NBA nas 16 temporadas que jogou pelos Boston Celtics e continua a ser o melhor marcador na história da equipa (26395 pontos). Considerado um dos melhores jogadores de basquetebol de sempre, ficou imortalizado por um… roubo de bola na final do Este em 1965.
O comunicado dos Boston Celtics a anunciar a morte de John Havlicek não poupa nas palavras… nem podia. Durante os 16 anos em que jogou pela equipa com mais títulos na NBA, Havlicek também não poupou nos esforços, e nos recordes batidos.
Abandonando a carreira em 1978, continua a ser o jogador com mais pontos e jogos disputados pela equipa de Boston. O número 17 da sua camisola foi retirado imediatamente e a entrada no Hall of Fame foi uma inevitabilidade consensual. «A sua identidade como jogador definia-se pelo esforço constante e pela entrega genuína à equipa em detrimento do individual», pode ler-se no texto divulgado na noite de 25 de abril nos Estados Unidos.
É visto como um jogador que revolucionou o conceito de «sexto jogador» e é associado a «muitos dos momentos mais emblemáticos na história da equipa». Chegado à equipa em 1962, já com Red Auerbach e Bill Russell, jogou ao lado de outras figuras lendárias, foi campeão nas primeiras quatro temporadas da carreira e… ganhou-lhe o gosto.
O contributo para o terceiro dos quatro títulos consecutivos entrou na história do imaginário basquetebolístico da NBA. Não sendo um nome que figura automaticamente na lista dos melhores de sempre para o adepto mais comum, é difícil ignorar o roubo de bola que a própria NBA tem na lista dos melhores momentos de sempre.
«Havlicek stole the ball»
Boston, 15 de abril de 1965. Os Celtics eram pentacampeões da liga e estavam à procura do sexto título consecutivo – e sétimo da sua história. Antes de chegar à final, ganha tranquilamente aos LA Lakers (4-1), a equipa de Red Auerbach teve de ultrapassar os Philadelphia 76ers de Wilt Chamberlain.
Nos primeiros seis jogos, três triunfos para cada lado. A decisão fora adiada para o Boston Garden e a equipa de Bill Russell, Sam Jones, KC Jones, Tommy Heinsohn, Satch Sanders e, claro, John Havlicek era favorita. Mas nenhum jogo era ganho à partida, sobretudo quando do outro lado estava uma lenda como Wilt Chamberlain.
O primeiro assalto caiu para o lado dos Celtics, com 35-26 no fim do período inaugural. Mas os 76ers recuperaram e, com um parcial de 36-26, foram para o intervalo a vencer por um. No terceiro período, a superioridade voltou a ser de Boston (29-20), mas a reação fez-se sentir novamente e os 76ers disputaram o jogo até ao último suspiro do encontro.
Faltavam cinco segundos para o final e os Celtics tinham acabado de cometer um turnover. Por baixo do cesto de ataque, a equipa de Filadélfia tinha uma oportunidade de luxo e conseguia sentir a surpresa na ponta dos dedos.
O base Hal Greer encarregou-se de repor a bola em campo e viu o caminho para Wilt Chamberlain travado por Bill Russell. Com o tempo para fazer o passe a esgotar-se, Greer apercebeu-se que Chet Walker estava (enganadoramente) sozinho.
A ideia de Havlicek foi simples. Sabia que Chamberlain seria a referência até ao limite mas confiava no trabalho de Bill Russell. Nesse momento, desesperado, Greer veria que tinha Walker sozinho. Havlicek contou até quatro, esperando o último dos cinco segundos que uma equipa tem para repor a bola em jogo, e não permitiu qualquer reação aos adversários. Não só o passe já estava feito como Walker não estava à espera do salto inesperado que Havlicek fez para intercetar a bola, quase como um segurança que se atravessa na trajetória de uma bala dirigida ao presidente.
A bola desviada por Havlicek sobrou para Sam Jones que, sozinho, garantiu que o resto do tempo se esgotava, dando início ao pandemónio no Boston Garden, perante mais um título de conferência conquistado. Se John Havlicek foi o «herói cantado», o comentador radiofónico Johnny Most foi o responsável pela imortalização do momento.
O grau de entusiasmo, celebração e surpresa com que comentou os cinco segundos fizeram da jogada um momento ainda mais histórico e ainda hoje considerado por muitos o comentário radiofónico mais famoso na história do basquetebol.
Com 26 pontos e 11 ressaltos – muitos deles no decisivo quarto período – John Havlicek teve naquele roubo o momento mais marcante de uma carreira com tanto por onde escolher. Não que precisasse, mas a partir daquele momento consolidou-se como um herói em Boston e prosseguiu uma carreira brilhante.
Na hora de dizer adeus, a despedida do basquetebol foi definitiva. Nunca se preocupou em ser treinador ou continuar ligado ao desporto. Os investimentos precoces que tinha feito numa cadeia de hambúrgueres (deliciosos) chamada Wendy’s deram dividendos e viveu sem dificuldades até à sua morte, no mês em que cumpriu 79 anos.