Mike Ryan. O primeiro treinador dos Estados Unidos
Era um irlandês que, à semelhança de tantos outros, cruzou o Atlânico à procura de uma vida melhor em Nova Iorque. Nascido em Dublin em 1935, chegou aos Estados Unidos com 23 anos e ainda foi a tempo de servir no exército norte-americano.
A experiência militar mudou-lhe a vida para sempre. Depois de um período na Alemanha, foi colocado em Washington (o estado) e de lá nunca mais saiu. Com os tempos de exército para trás, dedicou-se ao futebol e tornou-se um pioneiro da modalidade nos Estados Unidos.
Seattle era o epicentro do desporto. Ryan ajudou a formar um programa de sucesso nos Washington Huskies, que treinou durante uma década, e revolucionou a forma como as crianças, raparigas e rapazes, olhavam para o futebol.
Responsável por toda a estrutura de base, e pensando no futebol como um todo, com uma visão muito europeia e sem grande influência norte-americana, não precisou de muito tempo até apresentar resultados dignos de registo. Quando morreu, em 2012, o então presidente da federação americana de futebol, Sunil Gulati, recordou que Ryan «estava lá mesmo no início daquilo que se tornou o programa de maior sucesso de futebol feminino internacional, e o seu contributo nunca será esquecido».
Quando os Estados Unidos decidiram avançar com a criação de uma equipa de futebol feminino para participar no Mundialito de 1985 em Itália, Mike Ryan surgiu como o nome incontornável. Ninguém estava mais preparado do que ele para assumir aquela tarefa e ser, uma vez mais, pioneiro.
A base de recrutamento era quase toda de Washington e o técnico conhecia aquelas jogadoras melhor do que ninguém. Os resultados não foram os melhores – três derrotas e um empate – mas entraram para a história como o primeiro jogo (derrota 0-1 com a Itália) e os primeiros golos marcados: Michelle Akers e Emily Pickering no empate com a Dinamarca por 2-2.
O trabalho a fazer era muito e Michelle Akers recorda a viagem até Itália para o torneio: «Não parecíamos uma seleção. A única coisa que tínhamos era uns uniformes roxos e cor-de-lima. Ninguém estava em forma. Pareceu que íamos de férias para Itália. Éramos um bando de miúdas, não fazíamos ideia no que é que nos estávamos a meter».
No final do ano, com o trabalho feito, deu lugar a Anson Dorrance, mulher que viria a ser a selecionadora do primeiro título em 1991. «O que mais gostava nele foi como elevou a fasquia para o futebol sénior nos EUA. As equipas de elite que treinou em Seattle jogavam com um grande nível de sofisticação e as contribuições para o futebol norte-americano foram a pedra basilar para o sucesso internacional. Respeito-o como treinador e admito tudo o que fez pela evolução do jogo», recordou Dorrance.
Sem voltar a orientar uma equipa de relevo – despediu-se numa equipa feminina no ensino secundário -, Mike Ryan nunca perdeu o reconhecimento pelo notável trabalho feito.
«Dedicou a sua vida ao futebol e a trabalhar com jovens e tenho a certeza de que estava muito orgulhoso em vê-las tornarem-se em grandes pessoas e jogadoras, da mesma forma que estava orgulhoso em ver a equipa feminina crescer desde os primeiros passos até aos títulos olímpicos e mundiais», disse Gulati.