F1 800. Uma corrida de estreias… e a manha da Renault
Aquele 28 de setembro de 2008 foi um dia especial. Foi a primeira vez que Singapura organizou um Grande Prémio de Fórmula 1, a primeira vez que a F1 se disputou à noite e a primeira vez na temporada que Fernando Alonso ganhou. No 800.º Grande Prémio da história do Mundial de Pilotos, a manha da Renault tornou-se o acontecimento mais memorável.
A temporada de 2008 estava a ser um terror para a Renault. Com 14 corridas disputadas, a dupla da escuderia francesa, composta por Fernando Alonso e Nelson Piquet Jr., tinha muito poucas coisas para olhar com um brilho nos olhos. O espanhol ainda não tinha passado da quarta posição, enquanto o brasileiro, apesar do segundo lugar na Alemanha, somava tantas desistências como corridas terminadas.
A luta pelo título de pilotos não passava pela marca francesa e, mesmo a nível de construtores, a Ferrari, a McLaren-Mercedes e a BMW Sauber estavam a anos-luz. Em Singapura, só mesmo algo fora do comum poderia ajudar a mudar o tabuleiro.
De facto, o Grande Prémio de Singapura teve pouco de habitual. Foi a primeira vez que o país asiático organizou uma corrida de Fórmula 1 e, pela primeira vez na história do Grande Circo, uma prova iria ser disputada à noite. Seria o suficiente para a tal reviravolta da Renault, Alonso e Piquet Jr.?
Os primeiros sinais não foram animadores. Fernando Alonso pode ter sido o piloto mais rápido da segunda sessão de treinos livres mas a qualificação trouxe a Renault de volta à banalidade: Nelson Piquet Jr. foi eliminado na primeira fase (16.º) e um problema de combustível fez com que o espanhol nem sequer conseguisse estabelecer um tempo na Q2 (15.º).
A corrida, porém, traria outro brilho às aspirações da Renault. Nelson Piquet Jr. deu um primeiro sinal de descontrolo no carro na volta de aquecimento e, quando se despistou na 14.ª volta, abriu caminho para a vitória de Fernando Alonso. O espanhol tinha sido dos primeiros pilotos a parar e aproveitou a entrada do safety car para ganhar posições. Se lhe juntarmos um lote surreal de problemas nas paragens dos adversários, percebe-se que o destino estava a empurrar o Renault para o melhor resultado da temporada.
A confusão permitiu a Alonso subir para o quinto lugar, atrás de Rosberg, Trulli, Fisichella e Kubica. Mas estava apenas no início. O alemão e o polaco tiveram de cumprir uma penalização de dez segundos por terem reabastecido fora do período permitido e ajudaram Alonso a subir para a terceira posição.
Quando Fisichella e Trulli pararam, o caminho para o triunfo de Alonso estava a descoberto. «Estou extremamente feliz por ter conseguido o primeiro pódio e a primeira vitória da época. Vou precisar de alguns dias para cair em mim e perceber que ganhámos uma corrida esta temporada», contou, atribuindo o mérito à estratégia da Renault e a um pouco de sorte.
A estratégia da Renault – uma parte dela, pelo menos – foi descoberta praticamente um ano depois, quando Piquet Jr. admitiu que tinha recebido ordens de Flavio Briatore e Pat Symonds – diretor e engenheiro da Renault – para encenar um despiste que provocasse a entrada do safety car e beneficiasse Alonso.
A Renault admitiu – depois de uma primeira fase de contestação – o comportamento antidesportivo e escapou à expulsão da Fórmula 1 por um período de dois anos. Por outro lado, Briatore foi banido das competições da FIA e Symonds recebeu uma suspensão de cinco anos… até as penas terem sido suspensas por um tribunal.
Para a história ficou a vitória de Fernando Alonso, com pouco menos de três segundos de vantagem sobre Nico Rosberg e pouco menos de seis sobre Lewis Hamilton. Os dez pontos conquistados pelo espanhol permitiram à equipa subir ao quarto lugar do Mundial de Construtores, superando a Toyota (51 vs. 46) mas continuando muito longe da BMW Sauber (120).
O otimismo ganho em Singapura lançou Fernando Alonso para um excelente final de temporada. O espanhol voltou a ganhar na corrida seguinte, no Japão, e somou um quarto lugar (China) e um novo pódio (segundo no Brasil) nas duas corridas seguintes – as últimas da temporada.
O título foi ganho por Lewis Hamilton, com apenas um ponto de vantagem sobre Felipe Massa, culpa de uma ultrapassagem na parte final da última volta a Timo Glock, quando a Ferrari já festejava o título do brasileiro que corria em casa. Foi um dos finais de temporada mais emocionantes da história da Fórmula 1.