F1 600. Vitória de Villeneuve e recorde para um Schumacher
A temporada de 1997 da Fórmula 1 ficou marcada pela luta pelo título sem tréguas entre o Williams de Jacques Villeneuve e o Ferrari de Michael Schumacher. As reviravoltas constantes marcaram a reta final da época com o campeonato a sorrir ao canadiano depois de uma manobra quase suicida do alemão no último Grande Prémio da temporada. Antes, na Argentina, naquela que foi a 600.ª corrida da história do Mundial de Pilotos, Villeneuve teve de dividir o estrelato com outro Schumacher: Ralf.
Há quem diga que a história se repete, que é cíclica e que a podemos prever ao perceber que determinados acontecimentos que levaram a outros no passado estão a começar a surgir novamente. A Fórmula 1 não escapa a esta tendência e a propensão para pilotos pressionados pela conquista do título recorrerem a qualquer meio para atingir o fim vai resistindo.
As disputas entre Ayrton Senna e Alain Prost em Suzuka entraram para o imaginário automobilístico. Em 1989, o francês encostou o brasileiro e garantiu o título mundial na penúltima prova. No ano seguinte, foi a vez de o sul-americano retribuir a gracinha, exatamente nas mesmas condições.
A relação amarga entre Senna e Prost, que nasceu enquanto eram colegas na McLaren, será sempre mais emblemática do que qualquer outra, mas a tendência para recorrer à mesma manobra para tentar garantir um título sobrevive e voltou a dar sinal de si em 1997, quando Michael Schumacher liderava com um ponto de vantagem sobre Jacques Villeneuve na última corrida do Mundial, no Grande Prémio da Europa, em Jerez de la Frontera, e tentou deixar o canadiano fora de pista quando este iniciou uma manobra de ultrapassagem por dentro.
Resultado? Schumacher foi para a gravilha e desistiu. Villeneuve resistiu na corrida, somou o terceiro lugar e garantiu os pontos necessários para festejar o quarto título da Williams na década, depois de Mansell em 1992, Prost em 1993 e Hill em 1996.
Michael Schumacher acabou por ser desqualificado mas, se a FIA não tivesse optado por tomar essa medida, a diferença entre os dois seria de apenas três pontos. Ou seja, cada uma das sete vitórias de Villeneuve no campeonato surgiriam como fundamentais para garantir o primeiro lugar (a vitória valia dez pontos, o segundo lugar seis).
Um dos triunfos foi precisamente no 600.º Grande Prémio da história do Mundial de Pilotos. Na terceira corrida da temporada, na Argentina, Jacques Villeneuve entrou no fim-de-semana já na liderança, partilhada com David Coulthard, ambos com dez pontos, e saiu de lá consagrado com o segundo triunfo da época.
Tudo pareceu correr bem à Williams no sábado. Villeneuve conquistou a pole position – a 100.ª na história da equipa britânica – e a primeira linha da grelha ficou completa com o seu colega de equipa, Heinz-Harald Frentzen. Depois, no dia seguinte, apesar do problema mecânico do alemão, que forçou o abandono logo na quinta volta, o canadiano não deu hipótese e pareceu ter a corrida sempre controlado, vencendo com pouco menos de um segundo de vantagem sobre Eddie Irvine.
Os dez pontos conquistados por Jacques Villeneuve foram um impulso perfeito para o desenrolar da temporada. Deixou de haver liderança partilhada – até porque David Coulthard desistiu logo na primeira volta. O grande futuro rival, Michael Schumacher, não fez melhor e abandonou pela mesma altura após embater no Stewart de Rubens Barrichello.
O último lugar do pódio foi para um Schumacher. Ralf, ao volante de um Jordan-Peugeot, ainda não tinha acabado um único Grande Prémio e estava a fazer a terceira corrida de Fórmula 1 na carreira. Aquele 13 de abril de 1997, contudo, foi triplamente especial: acabou a corrida, foi terceiro e tornou-se o piloto mais jovem de sempre a subir ao pódio, com 21 anos e 287 dias.
Um último dado curioso vai para o facto de outro dos desistentes desta corrida ter sido Jos Verstappen. O filho Max detém atualmente o recorde que Ralf Schumacher roubou na altura ao italiano Elio de Angelis. No Grande Prémio de Espanha, em 2016, o holandês venceu a corrida e estreou-se no pódio com apenas 18 anos e 228 dias. Recorde imbatível?